Somente no final da tarde é que soubemos, por
meio de nossa esposa, o que havia acontecido na madrugada deste domingo na
aprazível cidade gaúcha de Santa Maria, terra de nosso amigo e irmão Teltz
Cardoso Farias.
Diante de acontecimentos assim, o que nos
cabe fazer é somente orar por todas as pessoas atingidas por essa provação tão
dura, não só pelos irmãos e irmãs que partiram para a vida espiritual, mas
igualmente pelos familiares e amigos que aqui prosseguem em sua marcha.
Sabemos que a perda de um ente querido sempre
foi, e certamente continuará sendo, um dos momentos mais tristes em nossa
passagem pela experiência reencarnatória. Se, porém, algo possa servir de
consolo, recordemos uma velha lição que nos vem desde Jesus, ou seja, que a
morte não é o capítulo final de uma vida, porque esta prossegue sempre, ninguém
morre, somos realmente imortais.
Os episódios de Santa Maria nos levaram a
recordar, de modo automático, o incêndio do edifício Joelma, ocorrido no dia 1º
de fevereiro de 1974 na capital paulista.
Aqueles momentos tristes, que a televisão
mostrou ao vivo para vários Estados brasileiros, também comoveram, como a
tragédia de Santa Maria, o País inteiro.
Chico Xavier, no livro Diálogo dos Vivos, publicado no início de 1974, disse que tão logo
a notícia do incêndio lhe chegou pelo rádio, ele e mais três amigos se reuniram
solicitando auxílio dos Benfeitores Espirituais para as vítimas do aflitivo
acidente. Emmanuel, o Benfeitor Espiritual sempre atento, ali compareceu e
escreveu uma linda prece, que abaixo transcrevemos, esperando que estas
palavras sirvam de consolo aos nossos irmãos de Santa Maria:
“Senhor Jesus
Auxilia-nos, perante os companheiros
impelidos à desencarnação violenta, por força das provas redentoras.
Sabemos que nós mesmos, antes do berço
terrestre, suplicamos das Leis Divinas as medidas que nos atendam às exigências
do refazimento espiritual. Entretanto, Senhor, tão encharcados de lágrimas se
nos revelam, por vezes, os caminhos do mundo, que nada mais conseguimos
realizar, nesses instantes, senão pedir-te socorro para atravessá-los de ânimo
firme.
Resguarda em tua assistência compassiva todos
os nossos irmãos surpreendidos pela morte, em plena floração de trabalho e de
esperança e acende-lhes nos corações, aturdidos de espanto e retalhados de
sofrimento, a luz divina da imortalidade oculta neles próprios, a fim de que a
mente se lhes distancie do quadro de agonia ou desespero, transferindo-se para
a visão da vida imperecível.
Não ignoramos que colocas o lenitivo da
misericórdia sobre todos os processos da justiça, mas tocados pela dor dos
corações que ficam na Terra – tantos deles tateando a lousa ou investigando o
silêncio, entre o pranto e o vazio – aqui estamos a rogar-te alívio e proteção
para cada um!...
Dá-lhes a saber, em qualquer recanto de fé ou
pensamento a que se acolham, que é preciso nos levantemos de nossas próprias
inquietações e perplexidades, a cada dia, para continuar e recomeçar, sustentar
e valorizar as lutas de nossa evolução e aperfeiçoamento, no uso da Vida Maior
que a todos nos aguarda, nos planos da União Sem Adeus.
E, enquanto o buril da provação esculpe na
pedra de nossas dificuldades, conquanto as nossas lágrimas, novas formas de
equilíbrio e rearmonização, embelezamento e progresso, engrandece em teu amor
aqueles que entrelaçam providências no amparo aos companheiros ilhados na
angústia. Agradecemos, ainda, a compreensão e a bondade que nos concedes em
todos os irmãos nossos que estendem os braços, cooperando na extinção das
chamas da morte; que oferecem o próprio sangue aos que desfalecem de exaustão;
que umedecem com o bálsamo de leite e da água pura os lábios e as gargantas
ressequidas que emergem do tumulto de cinza e sombra; que socorrem os feridos e
mutilados para que se restaurem; e os que pronunciam palavras de entendimento e
paz, amor e esperança, extinguindo a violência no nascedouro!...
Senhor Jesus!...
Confiamos em ti e, ao entregarmo-nos em Tuas
mãos, ensina-nos a reconhecer que fazes o melhor ou permites se faça
constantemente o melhor em nós e por nós, hoje e sempre”. (Emmanuel)
*
Os acontecimentos do edifício Joelma
suscitaram, além da oração acima, dois sonetos recebidos por Francisco Cândido
Xavier, de autoria dos poetas Cyro Costa e Cornélio Pires.
Em ambos os poemas os autores lembraram que,
apesar do sofrimento, da angústia, das cinzas aqui em nosso plano, os Benfeitores
e amigos espirituais recebiam com hinos de vitória aqueles que dessa forma
regressavam à verdadeira pátria, que a todos nos aguarda.
Eis como Cornélio Pires se referiu ao
assunto:
Incêndio em São Paulo
Céu de São Paulo... O dia recomeça...
O povo bom na rua lida e passa...
Nisso, aparece um rolo de fumaça
E o fogo para cima se arremessa.
A morte inesperada age possessa,
E enquanto ruge, espanca ou despedaça,
A Terra unida ao Céu a que se enlaça
É salvação e amor, servindo à pressa...
A cidade magoada e enternecida
É socorro chorando a despedida,
Trazendo o coração triste e deserto...
Mas vejo, em prece, além do povo aflito,
Braços de amor que chegam do Infinito
E caminhos de luz no céu aberto...
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