quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Agora, um amado louro


CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR



Presenciei uma situação comovedora. Da janela da cozinha do terceiro andar onde moro, posso ver um poleiro com um louro de asa cortada, na garagem da casa ao lado. Normalmente, faço uns ruídos para lhe chamar a atenção... e ele até me responde. Mas aquele momento foi distinto de todos os já vivenciados.
Um pássaro comum, porém com liberdade plena, foi ao poleiro no qual o lourinho –assim como eu o chamo – estava e fitou nele o olhar. Os dois se examinavam, faziam movimentos parecidos; o pardal ainda comeu um pouquinho da comida do “verdinho”.
Fiquei encantada com o acontecimento. O pardalzinho parecia querer falar, declaradamente, alguma coisa ao louro, e este o apreciava com toda atenção e alegria, pois estava na companhia de um ser que poderia se tornar seu grande amigo.
Eh, lourinho... observava tão feliz o outro. Compreendi que ele se sentia mais natural ao lado de um quase da mesma espécie.
Após o passarinho ter ficado uns minutinhos e aproveitado para comer uma comida saborosa e nutritiva, chegou a hora de partir para sua casa, ou seja, aonde ele quisesse ir: todos os lugares. Ele se foi.
Mais uma vez, as lágrimas encheram os olhinhos do louro. Mais uma vez, ele constatou suas asinhas cortadas.
– Meu lindo, cheguei. – uma voz de senhora soou se aproximando dele.
Ele se virou para ela. Era sua dona, uma senhora que o resgatou dos maus-tratos sofridos com o dono anterior.
– Ah, meu lindo. Por que está tristinho? A mamãe chegou. – com todo carinho, a senhora proferira as palavras.
A dona o pegou no colo e o acariciou infinitamente; conversava com ele e lhe dizia quanto ele era amado. Quanto mimo! Quanta ternura!
Em poucos minutos, o verde louro se esqueceu do sofrimento que veio à tona com a visita do pardal livre. Era passado. E sentindo todo amparo e amor e recebendo os cuidados da amorosa senhora, ele respirou fundo e comprovou, nas mãos da protetora, que aquele momento era o mais feliz da vida.
Ainda de olhinhos fechados, por tanto afago, pensou: – Estou, hoje, no melhor lugar onde poderia me encontrar.

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