GEBALDO
JOSÉ DE SOUSA
gebaldojose@uol.com.br
De
Goiânia-GO
(Para a
Débora, aos 7 anos.)
“A
felicidade é antes de tudo o sentimento tranquilo, contente e seguro da
inocência.” - Ibsen (1828-1906).
Nas
madrugadas insones, às vezes me pergunto se mereço a alegria e a ternura que se
apossam de mim, ao ver, à noite, compenetrada, séria, a olhar ora para o
caderno, ora para a tarefa escolar, a filhinha de sete anos.
E me
pergunto se está certo, se é justo, humano, se não erramos agindo assim:
dando-lhe obrigações, deveres e trabalhos, tão precocemente.
Ela – que
me sorri belamente ao ver-me, sem saber no que penso, fitando-a – tampouco
entende o sentido deste meu sorriso.
Rio-me ao
vê-la, séria, a contar nos dedos – belíssima e esquecida por mim, essa função
dos dedos!
E rio
mais de vê-la em dúvida, desacreditando dos próprios cálculos, a me perguntar,
confirmando suas contas, numa confiança infinita em minhas palavras, em minhas
respostas, se 3 + 4 “é” 7.
E ainda
rio, quando me propõe questões difíceis, a imaginar, na sua doce inocência, que
tudo sei; pois desconhece que ignoro quase tudo, que minha ignorância só é
menor do que a enorme presunção que me acompanha – esta última, fruto da
primeira e de sua mãe, a tola vaidade.
E rio de
sua candura, de sua pureza, da inocência mesma de suas malícias pueris.
São
breves minutos que se eternizam nestes registros e na memória inapagável de
minh’alma! Em momentos assim, quero, egoisticamente, perpétuo o instante! Eis
que, no dizer de Goethe (1749-1832), “Na plenitude da felicidade, cada dia é
uma vida inteira.”
Em texto
lido nos tempos escolares, o autor comparava a felicidade às muitas pausas de
viajante, em caminhada pelo sol ardente, a refazer as forças às sombras das
árvores, à margem da estrada.
*
Volvendo
o pensamento ao Pai de Amor, rogo a Ele que a abençoe pela vida afora! E
àqueles com quem convive hoje e aos que virão no seu caminho, nos infinitos
amanhãs! Que a enriqueça de boas experiências; do aprendizado daquilo que é
nobre e digno; que aprenda a compartilhar o pão e o saber; que aprenda a ser
grata a Deus, pela vida e por todas as dádivas que receber!
Mirando-a,
ainda em preces, peço por todas as crianças da Terra, de todas as pátrias e de
todos os tempos, para que lhes não faltem o carinho, o aconchego de um lar, o
pão e o medicamento; a escola e o lazer; a pureza e a bondade! Que não lhes
faltem as lições sublimes de Jesus, que nos são sustentáculos nas tribulações
da vida!
Ao
acordar dessas divagações, concluo que também para ela espero a ternura e a
pureza de filhos, para que, no amanhã, tenha, como eu, seus momentos reais da
mais doce felicidade!
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