quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Felicidade


GEBALDO JOSÉ DE SOUSA
gebaldojose@uol.com.br
De Goiânia-GO

(Para a Débora, aos 7 anos.)

“A felicidade é antes de tudo o sentimento tranquilo, contente e seguro da inocência.” -  Ibsen (1828-1906).

Nas madrugadas insones, às vezes me pergunto se mereço a alegria e a ternura que se apossam de mim, ao ver, à noite, compenetrada, séria, a olhar ora para o caderno, ora para a tarefa escolar, a filhinha de sete anos.
E me pergunto se está certo, se é justo, humano, se não erramos agindo assim: dando-lhe obrigações, deveres e trabalhos, tão precocemente.
Ela – que me sorri belamente ao ver-me, sem saber no que penso, fitando-a – tampouco entende o sentido deste meu sorriso.
Rio-me ao vê-la, séria, a contar nos dedos – belíssima e esquecida por mim, essa função dos dedos!
E rio mais de vê-la em dúvida, desacreditando dos próprios cálculos, a me perguntar, confirmando suas contas, numa confiança infinita em minhas palavras, em minhas respostas, se 3 + 4 “é” 7.
E ainda rio, quando me propõe questões difíceis, a imaginar, na sua doce inocência, que tudo sei; pois desconhece que ignoro quase tudo, que minha ignorância só é menor do que a enorme presunção que me acompanha – esta última, fruto da primeira e de sua mãe, a tola vaidade.
E rio de sua candura, de sua pureza, da inocência mesma de suas malícias pueris.
São breves minutos que se eternizam nestes registros e na memória inapagável de minh’alma! Em momentos assim, quero, egoisticamente, perpétuo o instante! Eis que, no dizer de Goethe (1749-1832), “Na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira.”
Em texto lido nos tempos escolares, o autor comparava a felicidade às muitas pausas de viajante, em caminhada pelo sol ardente, a refazer as forças às sombras das árvores, à margem da estrada.

*

Volvendo o pensamento ao Pai de Amor, rogo a Ele que a abençoe pela vida afora! E àqueles com quem convive hoje e aos que virão no seu caminho, nos infinitos amanhãs! Que a enriqueça de boas experiências; do aprendizado daquilo que é nobre e digno; que aprenda a compartilhar o pão e o saber; que aprenda a ser grata a Deus, pela vida e por todas as dádivas que receber!
Mirando-a, ainda em preces, peço por todas as crianças da Terra, de todas as pátrias e de todos os tempos, para que lhes não faltem o carinho, o aconchego de um lar, o pão e o medicamento; a escola e o lazer; a pureza e a bondade! Que não lhes faltem as lições sublimes de Jesus, que nos são sustentáculos nas tribulações da vida!
Ao acordar dessas divagações, concluo que também para ela espero a ternura e a pureza de filhos, para que, no amanhã, tenha, como eu, seus momentos reais da mais doce felicidade!


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