sexta-feira, 29 de novembro de 2019




A morte e os seus mistérios

Ernesto Bozzano

Parte 9

Continuamos o estudo do clássico A morte e os seus mistérios, de Ernesto Bozzano, conforme tradução de Francisco Klörs Werneck. O estudo será aqui apresentado em 24 partes. Nossa expectativa é que ele sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

Questões preliminares

A. Com base nos fatos descritos por Bozzano, pode-se concluir que as personalidades espirituais deixam, às vezes, de recorrer ao “fantasma ódico” do médium? 
B. Bozzano concorda em que existem fenômenos espíritas e fenômenos anímicos?
C. Há fenômenos que excluem de modo absoluto a hipótese animista?

Texto para leitura

125. Podemos concluir, com base nos fatos observados, que as personalidades espirituais dos defuntos podem bem deixar de recorrer ao "fantasma ódico" do médium. Quando, porém, os fantasmas materializados se assemelham ao médium, isso se esclarece com a outra hipótese segundo a qual as personalidades espirituais se servem muitas vezes, para esse fim, do "fantasma ódico" do médium.
126. Isto estabelecido, apresso-me a declarar que a argumentação exposta tem por único escopo resolver a questão levantada por Aksakof, e de nenhum modo o de fazê-la valer em serviço exclusivo da tese espiritualista, como se poderia inferir de determinadas expressões por mim usadas, em que eu falo de entidades espirituais de defuntos, expressões a que recorri para melhor conformar-me ao quesito enunciado por Aksakof.
127. Compreende-se, no entanto, que ao investigar a gênese dos fenômenos mediúnicos é preciso ter sempre presentes as duas soluções com que são suscetíveis de ser interpretados, segundo as circunstâncias: Animismo e Espiritismo. E isto tanto mais no nosso caso, em que se conhecem episódios de desdobramento e de materializações de autênticos "duplos" dos médiuns, como se conhecem episódios de materializações de retratos, "simulacros chatos" de defuntos. E esta última classe de manifestações se mostra teoricamente interessante, porquanto traz confirmação à bem conhecida hipótese segundo a qual o pensamento e a vontade subconscientes dos médiuns, como o pensamento e a vontade conscientes dos defuntos, são "forças plásticas".
128. Isso, no entanto, não deve ser confundido com o outro fato precedentemente discutido acerca do poder que teriam os "espíritos desencarnados" de modificar, à vontade, seu "corpo etéreo", de maneira a conferir ao mesmo os traços de um outro espírito, fato cuja possibilidade deve ser excluída, de acordo com as conclusões a que se chegou anteriormente. A manifestação do próprio "corpo etéreo" sob forma visível e tangível, bem como animada e inteligente, depende de um automatismo da misteriosíssima "força organizadora" imanente em cada indivíduo e diferente em cada um, automatismo que reproduz mas não cria.
129. Assim, uma vez demonstrado que a vontade dos "espíritos encarnados e desencarnados" não tem poderes dirigentes sobre o automatismo funcional da "força organizadora" que plasma a Vida nos mundos, disso resulta que, nas circunstâncias em discussão, em que não se trata, direi assim, de obras de arte em forma de retratos ou simulacros chatos de defuntos, mas sim de fantasmas organizados, vivos e inteligentes, é sempre necessário admitir a presença, in loco, do defunto que se manifesta com identidade de semblante.
130. Em outros termos: suponho ter demonstrado, baseado em provas por analogia, as três seguintes proposições teóricas:
I. Nas circunstâncias em que o fantasma materializado, vivo e inteligente, é criado e animado pelo pensamento e pela vontade subconscientes do médium, isso é necessariamente uma obra de "desdobramento" do médium, caso em que a "força organizadora" imanente no "corpo etéreo" não poderia deixar de modelá-lo automaticamente sobre a "forma arquétipo" particular ao médium.
II. Nas circunstâncias em que o fantasma materializado, vivo e inteligente, é criado e animado pelo pensamento e pela vontade de um defunto, então, por motivo idêntico, não poderá deixar de modelar-se, mais ou menos fielmente, sobre a "forma arquétipo" peculiar ao defunto.
III. Nas circunstâncias em que a vontade subconsciente do médium ou a consciente do defunto se proponham a modelar a efígie de um terceiro indivíduo, vivo ou defunto, que lhes seja conhecido, elas conseguirão exteriorizar um simulacro plástico inanimado e nada mais, pois que, para criar o fantasma integral organizado, vivo e inteligente, deveria animá-lo com o seu próprio "corpo etéreo", no qual existe imanente a "força organizadora" que o plasmou, a qual não poderia deixar de modelá-lo automaticamente sobre a própria "forma arquétipo", impedindo-lhe a manifestação com traços outros que os seus próprios.
131. Tais deduções parecem claras, precisas, irrefutáveis, pelo fato anteriormente discutido e demonstrado, isto é, que a criação de um fantasma materializado, vivo e inteligente, ou de um rosto obtido por transfiguração, são obra de um automatismo da "força organizadora" imanente nos seres vivos e diferente em cada um deles.
132. No que diz respeito aos fenômenos da produção materializada de "simulacros inanimados" ou "retratos supranormais", observo que estes tanto podem ser anímicos quanto espíritas, segundo as circunstâncias. Assim, por exemplo, no caso das magistrais e sugestivas experiências do Dr. Wolfe com o médium Sra. Hollis, nota-se que, quando escasseavam os "fluidos", obtinham-se simulacros materializados chatos do rosto e do busto do defunto presidente dos Estados Unidos, James Buchanan, amigo do Dr. Wolfe; mas, quando os "fluidos" eram abundantes, então o mesmo Buchanan conseguia materializar-se integralmente, mostrando-se capaz de se fazer ver em plena luz, de tomar uma carta que lhe apresentava o Dr. Wolfe, de folheá-la, de lê-la e de responder com relação ao seu conteúdo.
133. Assim sendo, dever-se-ia deduzir que, nas circunstâncias indicadas, também os simulacros chatos do amigo do Dr. Wolfe eram de origem espírita, isto é, plasmados pelo pensamento e pela vontade do defunto Buchanan, visto que, em circunstâncias propícias, este era capaz de mostrar-se sob a forma de fantasma materializado vivo, inteligente e falante.
134. Ao contrário, no caso das materializações de simulacros chatos obtidos com o médium Eva Carrière, nas experiências da Sra. Bisson e do Prof. Schrenck-Notzing, em que tais simulacros representavam reproduções de caras observadas pelo médium em jornais ilustrados, e no outro caso do médium Linda Gazzera, que, depois de ter contemplado com vivo interesse a cabeça de São João em uma pintura de Rubens, materializou um simulacro da mesma, na sessão seguinte, dever-se-ia inferir que se tratava de simulacros criados pelo pensamento e pela vontade subconscientes dos médiuns.
135. Isto estabelecido, não me resta senão repetir o que outras vezes já declarei a propósito do valor reciprocamente complementar que assumem as hipóteses do Animismo e do Espiritismo, ambas necessárias para explicar a totalidade das manifestações metapsíquicas, e é de que, se se admite a sobrevivência, não se pode deixar de reconhecer que o homem é um "espírito", ainda que "encarnado", pelo que deveremos esperar que, nas crises de enfraquecimento vital que subjugam esses indivíduos (sono fisiológico, sono mediúnico e hipnótico, êxtase, narcose, coma), brotem, por lampejos fugazes, aos recessos da subconsciência, faculdades de sentidos supranormais lá existentes em estado latente (fato este último fora de discussão, porque por todos reconhecido), dando lugar à produção de fenômenos análogos aos espíritas, conquanto quase sempre rudimentares e fugacíssimos (o que os torna facilmente separáveis dos outros), circunstâncias estas todas que demonstrem - note-se bem - que o Animismo é o complemento necessário do Espiritismo e que sem o Animismo faltaria base ao Espiritismo.
136. Entretanto, do ponto de vista da pesquisa das causas, é fato que a existência do Animismo impõe aos investigadores a adoção de métodos de investigação destinados a separar os casos anímicos dos espíritas e, conquanto seja verdade que existem categorias inteiras de manifestações mediúnicas que excluem, de modo absoluto, a hipótese anímica (tais, por exemplo, os casos de xenoglossia em línguas ignoradas por todos os presentes), não é menos verdade que uma parte das mesmas manifestações não é de fácil interpretação, e o único critério de pesquisa utilizável é o de submeter a um exame analítico, esmeradíssimo, cada caso isolado, para em seguida pronunciar-se, caso por caso, com ponderado conhecimento de causa, em favor de uma ou outra das causas em ação.

Respostas às questões preliminares

A. Com base nos fatos descritos por Bozzano, pode-se concluir que as personalidades espirituais deixam, às vezes, de recorrer ao “fantasma ódico” do médium? 
Sim. As personalidades espirituais dos defuntos podem bem deixar de recorrer ao "fantasma ódico" do médium. Contudo, quando os fantasmas materializados se assemelham ao médium, isso se esclarece com a outra hipótese segundo a qual as personalidades espirituais se servem muitas vezes, para esse fim, do "fantasma ódico" do médium. (A morte e os seus mistérios, 1ª Monografia – Outros casos de transfiguração.)
B. Bozzano concorda em que existem fenômenos espíritas e fenômenos anímicos?
Certamente. Há fatos que são explicados pelo Animismo e há fatos que se enquadram no rol dos fenômenos estudados pelo Espiritismo, ou seja, em que há participação de personalidades espirituais estranhas ao sensitivo, ou médium.  (Obra citada, 1ª Monografia – Outros casos de transfiguração.)
C. Há fenômenos que excluem de modo absoluto a hipótese animista?
Sim. Existem categorias inteiras de manifestações mediúnicas que excluem, de modo absoluto, a hipótese animista, como, por exemplo, os casos de xenoglossia em línguas ignoradas por todos os presentes.  (Obra citada, 1ª Monografia – Outros casos de transfiguração.)


Observação:
Para acessar a Parte 8 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2019/11/a-morte-e-osseus-misterios-ernesto_22.html





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