sexta-feira, 17 de janeiro de 2020





A morte e os seus mistérios

Ernesto Bozzano

Parte 16

Continuamos o estudo do clássico A morte e os seus mistérios, de Ernesto Bozzano, conforme tradução de Francisco Klörs Werneck. O estudo será aqui apresentado em 24 partes. Nossa expectativa é que ele sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

Questões preliminares

A. Que outro fato pôde ser observado nas manifestações em que atuou a médium Elisabeth Eslinger, a vidente de Prevorst?
B. No caso Elisabeth Eslinger, verificou-se algum fato que nos autorize excluir em definitivo a hipótese dos “estigmas por sugestão emotiva”?
C. Segundo Bozzano, o enigma referente à natureza do elemento psicofísico que determina tais fenômenos está suficientemente resolvido?

Texto para leitura

243. Passando às manifestações que constituem o objeto desta monografia, Bozzano observa que no caso Elisabeth Eslinger encontra-se um conjunto de fatos teoricamente interessantes, porque são semelhantes a outros de que ele tratou anteriormente.
244. Sobressai, com efeito, da narração que, quando o Espírito tocava uma pessoa, esta sentia ao mesmo tempo uma sensação de queimadura, que era logo seguida de uma marca azulada ou de uma bolha. Trata-se, pois, de uma reunião de fatos que se juntam aos quatro narrados antes e já comentados nesta obra. Segue-se daí que esse outro grupo de fatos análogos que se produziram no caso de Elisabeth Eslinger serve para confirmar, ulteriormente, os quatro casos citados anteriormente. Em outros termos: os incidentes em questão, embora de natureza menos sensacional do que as "impressões de mãos de fogo", poderiam bastar, por si mesmos, para provar a existência real dos fenômenos em questão.
245. A outra manifestação, na qual o fantasma apertou uma mão protegida por um lenço, deixando na fazenda a impressão em fogo de cinco dedos, é por sua vez interessante, porque ela se deu em plena luz do dia, na presença de várias pessoas que viram o fantasma mais ou menos nitidamente. Essa manifestação se reúne, eficazmente, às outras antes citadas, nas quais as impressões ficaram gravadas em tecidos e objetos, o que serve para excluir, definitivamente, a hipótese dos "estigmas por sugestão emotiva", destinada a explicar, em bloco, os fenômenos de mãos de fogo.
246. Já que o material dos casos recolhidos é abundante, não é preciso escolher outros que possam ser considerados como suficientemente documentados. Trata-se, na maior parte, de casos tirados de velhas crônicas, especialmente da hagiografia cristã e, por consequência, desprovidos de qualquer testemunho autorizado. Com efeito, durante os séculos passados – séculos de fé e não de ciência - a documentação dos episódios que se relatavam parecia ser aos autores uma superfluidade árida, prejudicial ao fim principal e eficaz da narração.
247. Infelizmente, o fato de dever excluí-los em bloco desta classificação prejudica o estudo desta categoria de fenômenos, uma vez que a autenticidade de alguns dentre eles sobressai nitidamente da concordância dos detalhes secundários. Trata-se de episódios que teriam considerável valor teórico se se pudesse utilizá-los para a pesquisa das causas, mas, como não se poderia cientificamente fazê-lo, preciso é resignar-se ao inelutável.
248. De qualquer modo, observa-se que os nove casos apresentados nesta obra, todos eles suficientemente documentados, concordam inteiramente entre si, em certas particularidades de manifestação, que não podiam, certamente, surgir identicamente na mente de pretensos mistificadores, pois estes ignoravam certamente a existência de manifestações semelhantes.
249. Parecendo-lhe que são bastantes para demonstrar a existência real dos fenômenos das "impressões de mãos de fogo", Bozzano passou a investigar a origem provável dessa categoria de manifestações, ou melhor dito, a natureza dos elementos psicofísicos que os determinam.
250. Ora, se se põe de lado a lenda teológica das almas que ardem nas chamas do Purgatório ou do Inferno, só resta uma hipótese rigorosamente possível e da qual ele já falara, isto é, a hipótese "vibratória", graças à qual assistimos, espantados, aos milagres do Rádio e da Televisão.
251. Se se pensa que o que chamamos "calor" e "frio" constitui um fenômeno único, que difere enormemente para os nossos sentidos, em consequência da intensidade maior ou menor com que se produz, mister se faz deduzir daí que, se a tonalidade vibratória dos fluidos, de que se revestem os Espíritos dos mortos para se tornarem visíveis e tangíveis, fosse consideravelmente mais intensa do que a inerente à substância viva ou aos tecidos vegetais, deverá inevitavelmente seguir-se que as vibrações muito intensas da substância espiritual, encontrando-se com as relativamente fracas dos tecidos vivos e vegetais, devam destruir estes últimos como o faria o fogo, o que determinaria os fenômenos das "impressões de mãos de fogo".
252. Com esta explicação, o enigma referente à natureza do elemento psicofísico que determina os fenômenos em questão pode ser considerado como teoricamente resolvido, em perfeita concordância com as últimas generalizações científicas. Esta interpretação dos fatos está, aliás, inteiramente conforme com o que afirmam as personalidades mediúnicas a respeito das sensações de calor e frio que sentem os vivos ao contato das mãos dos fantasmas.
253. Bozzano relata, em seguida, o que disse uma mensagem mediúnica sobre o assunto. A revista espírita americana The Progressive Thinker, de Chicago, em seu número de 7 de abril de 1923, publicou uma narração das experiências mediúnicas do doutor em medicina George B. Kline, no decurso das quais foi dirigida a uma personalidade mediúnica a seguinte pergunta: "Por que as materializações de fantasmas, com raras exceções, não se produzem nunca em plena luz?"
254. A explicação dada pela entidade comunicante é de natureza "vibratória" e reveste certo interesse teórico, entretanto Bozzano não a cita porque sai do tema de que nos ocupamos e dela se limitou a extrair a seguinte passagem, na qual se toca nas sensações de calor e frio, sentidas pelos vivos ao contato dos fantasmas: "Quando um Espírito toca um dos assistentes e esse experimenta uma sensação de frio, isto significa que as moléculas fluídicas que o tornaram substancial vibram com uma tonalidade muito inferior à das moléculas que constituem o corpo do experimentador. Ao contrário, como sucede na maior parte das vezes, quando ao contato da mão do Espírito, o experimentador sente uma impressão de calor causticante, isto significa que as moléculas fluídicas, que constituem essa mão, vibram com uma intensidade extraordinária. Essas variações são invisíveis para os vivos, mas não são imperceptíveis para nós."
255. Tais são as explicações concordantes das personalidades mediúnicas. Elas devem ser olhadas como decisivas, não porque venham de entidades espirituais, mas porque suas explicações concordam perfeitamente com as conclusões a que chegou a ciência, estudando a natureza do que os nossos sentidos percebem sob a forma de impressões térmicas chamadas "calor" e "frio".
256. Resta, por fim, resolver uma última questão, teoricamente muito importante. Se é verdade - e isto não pode dar lugar à menor dúvida - que o fenômeno das "impressões das mãos de fogo" depende da elevadíssima tonalidade vibratória dos fluidos que se acham no fantasma, então, do ponto de vista naturalista, como considerar a extraordinária intensidade na tonalidade vibratória da substância de que se reveste o fantasma, comparada com a tonalidade vibratória da substância de que se compõem os organismos?
257. É evidente que, se se acolhesse a hipótese naturalista, segundo a qual a substância ectoplásmica, a inteligência e a vontade que caracterizam o fantasma provêm do médium, a tonalidade vibratória da substância de que o fantasma é formado deveria ser idêntica à da substância somática do organismo humano. Como, porém, assim não é, como a tonalidade vibratória no fantasma é muito mais intensa que a do organismo humano, lógico é deduzir-se daí que a origem dessa tonalidade vibratória é estranha ao médium.
258. Nesse caso, ela só pode depender da natureza espiritual da entidade que se manifesta, isto é, de um ser independente do médium. Eis-nos, deste modo, chegados, muito naturalmente, à interpretação espírita dos fenômenos das "impressões de mãos de fogo", interpretação que é a única a fornecer uma solução racional dos fenômenos de que tratamos. Diz Bozzano haver meditado longamente sobre esta questão, com a intenção de achar uma outra solução, conforme a interpretação naturalista, mas não conseguiu concebê-la.

Respostas às questões preliminares

A. Que outro fato pôde ser observado nas manifestações em que atuou a médium Elisabeth Eslinger, a vidente de Prevorst?
Segundo se comprovou, quando o Espírito tocava uma pessoa, esta sentia ao mesmo tempo uma sensação de queimadura, que era logo seguida de uma marca azulada ou de uma bolha. Fatos como esse, embora de natureza menos sensacional do que as "impressões de mãos de fogo", poderiam bastar, por si mesmos, para provar a existência real dos fenômenos em questão. (A morte e os seus mistérios, 2ª Monografia – Marcas e impressões supranormais de mãos de fogo, Caso IX.)
B. No caso Elisabeth Eslinger, verificou-se algum fato que nos autorize excluir em definitivo a hipótese dos “estigmas por sugestão emotiva”?
Sim. Numa das manifestações, o fantasma apertou uma mão protegida por um lenço, deixando na fazenda a impressão em fogo de cinco dedos. O fato ocorreu em plena luz do dia, na presença de várias pessoas que viram o fantasma mais ou menos nitidamente. Essa manifestação se reúne, eficazmente, às outras anteriormente vistas, nas quais as impressões ficaram gravadas em tecidos e objetos, o que serve para excluir, definitivamente, a hipótese dos "estigmas por sugestão emotiva", destinada a explicar, em bloco, os fenômenos de mãos de fogo. (Obra citada, 2ª Monografia – Caso IX.)
C. Segundo Bozzano, o enigma referente à natureza do elemento psicofísico que determina tais fenômenos está suficientemente resolvido?
Sim. Esse enigma pode ser considerado como teoricamente resolvido, porque sua explicação está em perfeita concordância com as últimas generalizações científicas e também com as explicações dadas pelas personalidades mediúnicas a respeito das sensações de calor e frio que sentem os vivos ao contato das mãos dos fantasmas. (Obra citada, 2ª Monografia – Caso IX.)


Observação:
Para acessar a Parte 15 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/01/a-morte-e-osseus-misterios-ernesto_10.html




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