Ser e não parecer
JORGE LEITE DE
OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
“To be
or not to be” é a famosa frase de Hamlet, personagem do imortal dramaturgo
inglês Shakespeare, do século XVII. E é com ela que inicio esta crônica, propondo-lhe
nova versão: em vez de “ser ou não ser”, ser e não parecer.
Aliás,
esse é o título de um dos excelentes temas da obra de Vinícius, pseudônimo do
escritor espírita Pedro de Camargo, que nasceu em Piracicaba, São Paulo, no dia
7 de maio de 1878, e desencarnou na capital paulista, em 11 de outubro de 1966,
ou seja, aos 88 anos de idade. Parece que Deus prioriza longa vida às pessoas
boas, que semeiam e, sobretudo, praticam o bem enquanto prisioneiras da carne.
Às más
também... mas ao passo que estas se remoem no remorso, enquanto não vem o
arrependimento de suas ações nefastas; aquelas estão sempre em paz com Deus,
que mora em nossas consciências, além de desfrutarem da felicidade dos
justos...
Não é
nosso objetivo escrever sobre a longa trajetória de vida cristã de Pedro de
Camargo, que fundou centro espírita, presidiu a Sociedade de Cultura
Artística e divulgou pelo rádio, desde 1949, um programa
evangélico-espírita. Também não vamos nos deter demasiado sobre sua condição de
orador espírita altamente apreciado e de escritor de diversas outras obras e
artigos espíritas publicados em Reformador, periódico mensal da
Federação Espírita Brasileira.
O que nos motiva
a redigir este texto são as frases que lemos, hoje, e nos fizeram refletir,
mais uma vez, na importância de nosso esforço cotidiano em ser, e não em
parecer, cada vez melhor.
Uns versos
de Carlos Drummond de Andrade que nunca nos esqueceram são estes: “Lutar com as
palavras é a luta mais vã; entanto lutamos, mal rompe a manhã”. Também
poderíamos parodiar o poeta que se intitulava gauche, por recomendação
de “um anjo torto” nestas suas palavras: “Quando nasci, um anjo torto me disse:
- Vai, Carlos, ser gauche na vida”. A paráfrase não é desta frase, e sim dos
versos drummondianos supracitados:
Lutar
contra o mal
Das mentes
malvadas
São lutas
mui duras;
Entanto,
lutemos,
Rompendo
alvoradas
E noites
escuras.
Agora as
três frases de Vinícius:
Se observarmos
atentamente o que se passa na sociedade, verificaremos que tudo se faz, não no
sentido de ser, mas no de parecer.
Realmente, quando se
trata de qualidades e virtudes, é muito mais fácil simulá-las que as adquirir.
O resultado, porém, é que não é o mesmo.
Daí o transformarem a
religião em acervos de dogmas abstrusos e numa série de determinadas cerimônias
que se executam maquinalmente; a eugenia, em arte dos arrebiques; o civismo, em
toques de caixa e de cornetas, executados por indivíduos trajando uniformes; o
patriotismo, em discursos ocos e plataformas pejadas de falazes promessas,
formuladas já com o propósito de não se cumprirem; a política, finalmente, em
processo de explorar o povo. [i]
Sábias palavras para todos nós. Infelizmente, algumas pessoas farão delas um chicote para açoitar o que consideram imperfeições alheias, sem, entretanto, se corrigirem de suas próprias fraquezas. Outras, sedentas de poder, mas hipócritas, pregarão ao próximo essas e outras frases, ansiosas para que creiam em sua fala; entretanto, para elas mesmas, as advertências soarão como o bronze que soa, ou como o vento que sopra...
Aos que
nos esforçamos em seguir, como Pedro de Camargo, “Nas pegadas do Mestre”, sua
constatação é mais um incentivo para que continuemos nos esforçando em ser fiéis discípulos de Jesus até o fim, sem
outro propósito, a não ser o de sermos coerentes com o que pensamos, falamos e
fazemos de bom, verdadeiro e útil.
[i] VINÍCIUS. Nas Pegadas do Mestre.
12. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2009, p. 71.
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