quinta-feira, 29 de julho de 2021

 



A Gênese

 

Allan Kardec

 

Parte 3

 

Continuamos o estudo metódico do livro “A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, com base na 36ª edição publicada pela Federação Espírita Brasileira, conforme tradução feita por Guillon Ribeiro.

Este estudo é publicado sempre às quintas-feiras.

Eis as questões de hoje:

 

17. A revelação espírita é progressiva? 

Sim. A revelação espírita, apoiando-se em fatos, tem que ser essencialmente progressiva, como todas as ciências de observação. O Espiritismo não estabelece como princípio absoluto senão o que se acha evidentemente demonstrado, ou o que ressalta logicamente da observação. Entendendo com todos os ramos da economia social, aos quais dá o apoio das suas próprias descobertas, assimilará sempre todas as doutrinas progressivas, de qualquer ordem que sejam, desde que hajam assumido o estado de verdades práticas e abandonado o domínio da utopia, sem o que ele se suicidaria. Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificará nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará. (A Gênese, cap. I, item 55.)

18. Por que a moral ensinada pelos Espíritos superiores é a do Cristo e não a de outros profetas? 

A moral que os Espíritos ensinam é a do Cristo, pela razão de que não há outra melhor. O que o ensino dos Espíritos acrescenta à moral do Cristo é o conhecimento dos princípios que regem as relações entre os mortos e os vivos, princípios que completam as noções vagas que se tinham da alma, de seu passado e de seu futuro, dando por sanção à doutrina cristã as próprias leis da Natureza. (Obra citada, cap. I, item 56.)

19. Que autoridade tem a revelação espírita, uma vez que ela emana de seres de limitadas luzes e falíveis? 

Tal objeção seria relevante se essa revelação consistisse apenas no ensino dos Espíritos, se deles exclusivamente a devêssemos receber e houvéssemos de aceitá-la de olhos fechados. Perde, porém, todo valor desde que o homem concorra para a revelação com o seu raciocínio e o seu critério, e desde que os Espíritos se limitem a pô-lo no caminho das deduções que ele pode tirar da observação dos fatos. Ora, as manifestações, nas suas inumeráveis modalidades, são fatos que o homem estuda para lhes deduzir a lei, auxiliado nesse trabalho por Espíritos de todas as categorias, que, de tal modo, são mais colaboradores seus do que reveladores, no sentido usual do termo. Todos os Espíritos, pois, qualquer que seja o grau de elevação em que se encontrem, alguma coisa nos ensinam; cabe-nos, porém, a nós, visto que eles são mais ou menos esclarecidos, discernir o que há de bom ou de mau no que nos digam e tirar, do ensino que nos deem, o proveito possível. (Obra citada, cap. I, itens 57 e 58.)

20. Quais são a finalidade e a utilidade das manifestações espíritas?

Os Espíritos não se manifestam para libertar do estudo e das pesquisas o homem, nem para lhe transmitirem, inteiramente pronta, nenhuma ciência. Com relação ao que o homem pode achar por si mesmo, eles o deixam entregue às suas próprias forças. Suas manifestações servem para nos dar a conhecer o mundo invisível que nos rodeia e do qual nem suspeitávamos, e somente esse conhecimento já seria de capital importância, mesmo que nada mais pudessem os Espíritos ensinar-nos. (Obra citada, cap. I, itens 60 e 61.)

21. Qual é o principal argumento espírita em prol da existência de Deus?

Todo efeito inteligente tem que decorrer de uma causa inteligente. Se perguntassem qual o construtor de certo mecanismo engenhoso, que pensaríamos de quem respondesse que ele se fez a si mesmo? Lançando o olhar em torno de nós sobre as obras da Natureza, notando a providência, a sabedoria, a harmonia que presidem a essas obras, reconheceremos não haver nenhuma que não ultrapasse os limites da mais portentosa inteligência humana. Ora, desde que o homem não as pode produzir, é que elas são produto de uma inteligência superior à Humanidade, a menos que se sustente que existem efeitos sem causa. (Obra citada, cap. II, itens 3 a 5.)

22. Quais são os atributos de Deus? 

Deus é único. A unicidade de Deus é consequência do fato de serem infinitas suas perfeições. Não poderia existir outro Deus, salvo sob a condição de ser igualmente infinito em todas as coisas, visto que, se houvesse entre eles a mais ligeira diferença, um seria inferior ao outro, subordinado ao poder desse outro e, então, não seria Deus.

Deus é eterno, isto é, não teve começo e não terá fim. Se tivesse tido princípio, houvera saído do nada. Ora, não sendo o nada coisa alguma, coisa nenhuma pode produzir. Ou, então, teria sido criado por outro ser anterior e, nesse caso, este ser é que seria Deus. Se lhe supuséssemos um começo ou fim, poderíamos conceber uma entidade existente antes dele e capaz de lhe sobreviver, e assim por diante, ao infinito.

Deus é imutável. Se estivesse sujeito a mudanças, nenhuma estabilidade teriam as leis que regem o Universo.

Deus é imaterial, isto é, sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria. De outro modo, não seria imutável, pois estaria sujeito às transformações da matéria. Deus carece de forma apreciável pelos nossos sentidos, sem o que seria matéria. São ridículas essas imagens em que Deus é representado pela figura de um ancião de longas barbas e envolto num manto.

Deus é onipotente. Se não possuísse o poder supremo, sempre se poderia conceber uma entidade mais poderosa e assim por diante, até chegar-se ao ser cuja potencialidade nenhum outro ultrapassasse. Esse então é que seria Deus.

Deus é soberanamente justo e bom. A providencial sabedoria das leis divinas se revela nas mais pequeninas como nas maiores coisas, não permitindo essa sabedoria que se duvide de sua justiça, nem de sua bondade. A soberana bondade implica a soberana justiça, porquanto, se ele procedesse injustamente ou com parcialidade numa só circunstância que fosse, ou com relação a uma só de suas criaturas, já não seria soberanamente justo e, em consequência, já não seria soberanamente bom. (Obra citada, cap. II, itens 9 a 19.)

23. Sob que aparência se apresenta Deus aos que o veem?

Deus carece de forma apreciável pelos nossos sentidos, sem o que seria matéria. Dizemos: a mão de Deus, o olho de Deus, a boca de Deus, porque o homem, nada mais conhecendo além de si mesmo, toma a si próprio por termo de comparação para tudo o que não compreende.

Sob que aparência, então, se apresenta Deus aos que se tornaram dignos de vê-lo? Será sob uma forma qualquer? A linguagem humana é impotente para dizê-lo, porque não existe para nós nenhum ponto de comparação capaz de nos facultar uma ideia de tal coisa.

Somos quais cegos de nascença a quem procurassem inutilmente fazer compreendessem o brilho do Sol. A nossa linguagem é limitada pelas nossas necessidades e pelo círculo das nossas ideias. A dos selvagens não poderia descrever as maravilhas da civilização; a dos povos mais civilizados é extremamente pobre para descrever os esplendores dos céus; a nossa inteligência é bastante restrita para os compreender e a nossa vista, por muito fraca, ficaria deslumbrada. (Obra citada, cap. II, itens 12 e 37.)

24. Em que consiste a providência divina? 

A providência é a solicitude de Deus para com suas criaturas. Nenhuma das nossas ações lhe podemos subtrair ao olhar; o nosso pensamento está em contacto ininterrupto com o seu pensamento, havendo, pois, razão para dizer que Deus vê os mais profundos refolhos do nosso coração. Ele está em toda parte, tudo vê, a tudo preside, mesmo às coisas mais mínimas. É nisso que consiste a ação providencial. (Obra citada, cap. II, itens 20 e 24.)

 

 

Observação: Para acessar a Parte 2 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/07/a-genese-allan-kardec-parte-2.html

 

 

 

 

 

 

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