Perdão também se aprende
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
É
conhecida a passagem evangélica em que Pedro pergunta a Jesus quantas vezes
precisava perdoar seu irmão: "Até sete?" Ao que Jesus lhe responde:
"Não lhe digo que até sete, mas até setenta vezes sete." (Mateus,
18:21, 22). Esse diálogo ocorreu-me agora, ao ler o excelente texto do irmão
espírita Waldeir B. de Almeida, publicado na revista Reformador do mês
de março de 2022. Waldeir lembra que o perdão está citado na oração Pai
Nosso, ensinada por Jesus: "Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós
perdoamos aos nossos devedores." (Mateus, 6:9-13)
Logo
abaixo desse parágrafo, o articulista citado diz que todo aquele que deseja
"conquistar louros na jornada evolutiva pela bênção das reencarnações
temos que aprender a perdoar." Como assim: "aprender a
perdoar?" E ele explica: "a liberação desse gesto divino, direcionado
a quem profundamente nos magoou, não é atitude fácil". Isso pode demandar
tempo "demorado e doloroso".
Waldeir
acrescenta que mesmo aqueles que temos uma religião e sabemos do valor do
perdão, por conhecermos o apelo do Cristo, temos dificuldade em entender a
bênção do perdão. Isso ocorre até com os que estamos cientes da importância do
perdão para nos libertarmos, pela reencarnação, do sentimento de rancor ou ódio
contra quem nos ofendeu. E cita as obras mediúnicas com seus relatos sobre a
grande quantidade de Espíritos, no Mundo Espiritual, revoltados e justiceiros.
Desde
aqui, no mundo físico, percebemos quanto
é difícil perdoar um criminoso que ceifa a vida de um ser querido por nós. Mas
o que mais nos prejudica é a lembrança insistente do ato sabido, presenciado ou
somente suspeitado por nós, que, nesse caso, muitas vezes, não procede, pois
podemos estar sob o jugo de Espírito vingador ou zombeteiro.
Dizemos
que perdoamos, mas a lembrança do ato lesivo permanece, insistentemente, em
nossas mentes. Daí a importância da recomendação de Jesus para permanecermos
vigilantes e em oração (Mateus, 26:41). Em ambos os mundos: físico e
espiritual...
As
situações são as mais diversas, como é o caso dos quatro membros da família
Aboab, citados por Waldeir, e que foram narrados na obra ditada pelo Espírito
Bezerra de Menezes, intitulada Dramas da Obsessão. A psicógrafa foi
Yvonne do Amaral Pereira, médium muito conhecida no meio espírita, desencarnada
há algumas décadas. Deixo ao leitor curioso o convite para ler o relato no
artigo de Waldeir ou, se desejar conhecer em profundidade o drama citado, ler a
maravilhosa obra ditada pelo Espírito cognominado, em vida física, "Médico
dos Pobres", por sua destacada atuação caritativa, enquanto esteve
encarnado na Terra, e que presidiu a Federação Espírita Brasileira no final do
século XIX.
Para
nossa reflexão, cito a frase de Joanna de Ângelis com que Waldeir finaliza seu
belo artigo e que também pode ser lida na obra psicografada pelo médium Divaldo
Franco, cujo título é: O Despertar do Espírito. Esta obra foi editada
pela Livraria Espírita Alvorada de Salvador, BA:
O
ato de perdoar não leva necessariamente, à ideia de anuência com aquilo que
fere o estatuto legal e o código moral da vida, mas proporciona a compreensão
exata da dimensão do gravame e dos comportamentos a serem adotados para que ele
desapareça, devolvendo à vida a harmonia que foi perturbada com aquela atitude.
O
problema maior que percebo é o dos pensamentos... Porém, se nos colocarmos no
lugar da pessoa que nos ofendeu, assim como Jesus recomendou aos que desejavam
apedrejar a pecadora, cientes de que também somos passíveis de cometer o mesmo
ato ou até ato pior do que o sofrido; se trabalharmos em nós a piedade inclusive
para com os criminosos, se buscarmos orar "incessantemente", como
recomenda Paulo aos Tessalonicenses, 5:17, certamente teremos a proteção
divina não apenas no perdão, como também na compaixão para com os que nos
ofendem.
A
grande finalidade de nossas reencarnações é a de alcançarmos a condição de
Espíritos bem-aventurados e puros, como lemos na questão 170 d'O Livro dos
Espíritos, de Allan Kardec. Então, tudo devemos fazer para esquecer o mal e
vivenciar, dia a dia, o bem. Somente assim teremos a companhia dos bons
Espíritos em nossos pensamentos, palavras e atos.
Desse
modo, aprenderemos que o perdão anda junto com a compaixão, ambos filhos do
amor. Como dissemos acima, por vezes, nada do que imaginamos ter sido feito
contra nós é verdade. Exercitemos, pois, a piedade, como nos propõe o Espírito
Cruz e Sousa, nos dois versos iniciais de seu belo soneto intitulado Piedade:
"O coração de todo ser humano / Foi concebido para ter piedade,".
Com
esse entendimento, nada do que é exterior a nós nos atingirá. Tudo começa no
aprendizado do perdão, como bem disse nosso irmão espírita Waldeir.
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