quinta-feira, 28 de abril de 2022

 



CINCO-MARIAS

 

Dizer a verdade

 

EUGÊNIA PICKINA

eugeniapickina@gmail.com


O essencial é não mentir, e antes de mais nada, não se mentir. Não se mentir sobre a vida, sobre nós mesmos, sobre a felicidade. 
André Comte-Sponville

 

A mentira acompanhou toda a História do homem. E aprendemos desde criança que essa prática só cria confusão e infelicidade.

Em alguns casos, sabemos que mentir é uma tentativa de viver uma realidade distinta e não o que se vive de fato. E, no geral, a possibilidade de a criança dizer a verdade é menor se ela sentir medo de ser severamente punida.

Por sabermos que a honestidade e a sinceridade são a base para qualquer relacionamento humano, a melhor maneira de lidar com a mentira na infância, época em que o ser humano começa a mentir, é fazer com que as crianças adquiram o hábito de dizer a verdade. O pai não pode pedir ao seu filho que não diga para a mãe que o viu bebendo, por exemplo. Uma avó não deve solicitar ao neto que não conte aos pais que comeu o doce antes do almoço, segundo uma “inocente mentirinha”. Cuidar também em orientar a criança sem lançar mão de ameaças vazias como “papai do céu castiga quem mente...”

Ensina-se com o exemplo, em primeiro lugar.  Pois como exigir de uma criança dizer a verdade se ela vê seus pais mentirem com frequência?

Há crianças que mentem por imitação. O hábito de dizer a verdade, nesses casos, não tem ressonância no lar, porque não há, no ambiente doméstico, um clima de lealdade e os adultos, por isso, facilmente falseiam os fatos, as circunstâncias. A criança cresce em consequência (mais) inclinada à mentira.

Você cultiva o hábito de dizer a verdade, mas descobriu uma mentira de seu filho? Depois de explicar-lhe com calma os riscos e vexames causados por uma mentira, use uma reprimenda leve ou uma breve perda de privilégios – a depender da situação. Os castigos mais severos – gritar, tirar um brinquedo por semanas etc. – humilham, geram ressentimento e, dificilmente, modificam o uso da estratégia da mentira. Recordar sim, sem preguiça, que a tarefa essencial é dizer a verdade.

Contos de fadas enriquecem a infância. As aventuras de Pinóquio*, por exemplo, proporciona um conteúdo ético importante, revelando ludicamente à criança o desvalor da mentira...

 

Notinha

 

Segundo estudos diversos, aos dois anos as crianças já imitam os outros. A partir dos 4 anos começam a identificar mentirosos pelo olhar. Aos sete anos, as crianças já são capazes de sustentar uma mentira. Aos treze anos, o adolescente é capaz de mentir como um adulto dissimulado.

Sugestões para ajudar a criança a desenvolver o hábito de dizer a verdade: a) evite rótulos. Dizer mentiras é diferente de ser mentiroso. Ao atribuirmos uma característica à criança que na realidade é só um comportamento, poderemos promover a identificação da criança com o rótulo e, em consequência, acabar por estimular o vício da mentira; b) dê o exemplo. Um simples “Diz que eu não estou em casa!” para evitar um telefonema incômodo valida o hábito da mentira; c) esclarecer à criança que sempre há opções que não implicam mentir – por exemplo, ao receber um presente de que não gostou, ela precisa somente agradecer; d) quando a criança mente, o assunto deve ser abordado com calma, sem ameaças de castigos ou punições severas. Quando o adulto age com violência e/ou ressentimento, sua conduta apenas reforçará, na criança, a tendência para mentir e, nesse caso, como uma medida defensiva; e) evite dar oportunidade à mentira. Se já sabe que a criança não fez a tarefa da escola, por que perguntar isso a ela? Prefira apoiá-la: “há algo em que eu possa ajudar em relação à sua tarefa?”; f) elogie o comportamento positivo e, ainda, procure promover a reparação do dano causado em vez do castigo.


*A história original, traduzida para o português como As aventuras de Pinóquio, foi escrita pelo italiano Carlo Collodi. No formato de folhetim, os capítulos foram publicados por um semanário infantil de Roma – o Giornale per i Bambini entre os anos de 1881 e 1883. A história ganhou várias versões, sendo a mais conhecida o desenho animado de Walt Disney, no século XX.

 

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Esta seção, cuja estreia neste blog ocorreu no dia 6 de janeiro deste ano, traz sempre textos dedicados à infância, seus cuidados, sua educação. O título – Cinco-marias – é uma alusão a um conhecido brinquedo que integra um conjunto de brincadeiras e atividades lúdicas conceituadas como Patrimônio Cultural da Humanidade.

Eugênia Pickina é educadora ambiental e terapeuta floral e membro da Asociación Terapia Floral Integrativa (ATFI), situada em Madri, Espanha. Escritora, tem livros infantis publicados pelo Instituto Plantarum, colaborando com o despertar da consciência ambiental junto ao Jardim Botânico Plantarum (Nova Odessa-SP).

Especialista em Filosofia (UEL-PR) e mestre em Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP), está concluindo em São Paulo a formação em Psicanálise.

Ministra cursos e palestras sobre educação ambiental em empresas e escolas no estado de São Paulo e no Paraná, onde vive.

Seu contato no Instagram é @eugeniapickina

 

 

 

 

 

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