Cínthia Cortegoso
De Londrina-PR
De Londrina-PR
De repente nasceu um pé de girassol no pequeno jardim de
casa. Justamente ele. Nenhum humano o plantou, mas pode ter sido o amigo
passarinho que o semeou sem querer nesse pedacinho de terra.
Acompanhei de perto o crescimento dessa jovem plantinha.
Desde a minha infância sempre me encantei com o menino girassol. E agora havia
um no meu quintal se desenvolvendo e trazendo mais brilho para tão perto de
mim. Ah, que alegria!
Todos os dias, com os primeiros raios de sol, já o saudava
com as palavras: - Bom dia, querido amigo. Você busca a luz do sol e o seu ser
se ilumina.
Nas primeiras semanas era como se eu falasse com o muro que
estava bem perto, parecia não haver despertamento algum. Eu não conseguia
perceber se ele compreendia ou não, mas podia confirmar que a cada amanhecer o
pé estava um pouquinho maior. Talvez eu precisasse ouvir: - Bom dia, minha
amiguinha... - certamente nem ouviria o restante da frase. Fugiria bem antes
disso.
Mas o tempo passou e a flor - para mim, uma flor
encantadora - começou a ganhar um amarelo tão ouro e um brilho tão cheio de
vida, que quando algum amigo me visitava, levava-o na hora para conhecer o meu
“pet” do quintal. Quanto entusiasmo, toda vez começava do início do início: -
Um dia, um pé de girassol nasceu... - e aí vai. Sinto que a confiança da
plantinha se deu, em parte, pelo carinho recebido e, por outro lado, minha
responsabilidade aumentou, como mostra a essência da famosa frase: “Você se
torna eternamente responsável por aquilo que cativa”. E assim fiquei totalmente
responsável pela flor que cativei.
A chuva caía e ele estava bonito; o sol brilhava e o menino
girassol procurava o brilho até chegar aos olhos do emitente; o vento soprava e
ele se mantinha firme e forte; e quando o entardecer apontava, o girassol se
sentia realizado, pois mais um dia viveu com determinação e harmonia.
Quando me dei conta, observei que não se passava um giro
completo do relógio sem que não o visitasse pelo menos umas três vezes. Ele
ficou meu amigo do peito. Coisas boas, corria contar, as mais tristes, também,
até que compartilhando algo que meu coração, de certa forma, padeceu, pude
constatar o seu enternecimento. - Meu Deus, o que está acontecendo comigo?
Agora desabafando com o girassol do quintal?
Ele não era só o girassol do quintal, era uma planta com
sentimento sim, pois com a amizade e as saudações, ele demonstrou o brilho da
alegria, e quando compartilhei algo mais doloroso, ele se sensibilizou. Voltei
lá e o abracei. - Quão amado é. - então lhe dei um abraço tão forte e afetuoso
que a plantinha quase perdeu o fôlego. E mais, para dizer a verdade, bem no
momento do abraço, ouvi as seguintes palavras: - Sou parte da vida e busco a
luz que a anima.
Por dias pensei no ocorrido. No começo, fiquei entre a
realidade e o imaginário, mas a vivacidade do girassol fortaleceu o que já se
sabe: que a vida se apresenta de várias formas. Com singeleza e sabedoria, o
menino ratificou que a busca pela luz é imprescindível e, assim, onde houver
claridade haverá a paz que afaga o coração.
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