quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A luz do girassol


Cínthia Cortegoso
De Londrina-PR
                                              
De repente nasceu um pé de girassol no pequeno jardim de casa. Justamente ele. Nenhum humano o plantou, mas pode ter sido o amigo passarinho que o semeou sem querer nesse pedacinho de terra.
Acompanhei de perto o crescimento dessa jovem plantinha. Desde a minha infância sempre me encantei com o menino girassol. E agora havia um no meu quintal se desenvolvendo e trazendo mais brilho para tão perto de mim. Ah, que alegria!
Todos os dias, com os primeiros raios de sol, já o saudava com as palavras: - Bom dia, querido amigo. Você busca a luz do sol e o seu ser se ilumina.
Nas primeiras semanas era como se eu falasse com o muro que estava bem perto, parecia não haver despertamento algum. Eu não conseguia perceber se ele compreendia ou não, mas podia confirmar que a cada amanhecer o pé estava um pouquinho maior. Talvez eu precisasse ouvir: - Bom dia, minha amiguinha... - certamente nem ouviria o restante da frase. Fugiria bem antes disso.
Mas o tempo passou e a flor - para mim, uma flor encantadora - começou a ganhar um amarelo tão ouro e um brilho tão cheio de vida, que quando algum amigo me visitava, levava-o na hora para conhecer o meu “pet” do quintal. Quanto entusiasmo, toda vez começava do início do início: - Um dia, um pé de girassol nasceu... - e aí vai. Sinto que a confiança da plantinha se deu, em parte, pelo carinho recebido e, por outro lado, minha responsabilidade aumentou, como mostra a essência da famosa frase: “Você se torna eternamente responsável por aquilo que cativa”. E assim fiquei totalmente responsável pela flor que cativei.
A chuva caía e ele estava bonito; o sol brilhava e o menino girassol procurava o brilho até chegar aos olhos do emitente; o vento soprava e ele se mantinha firme e forte; e quando o entardecer apontava, o girassol se sentia realizado, pois mais um dia viveu com determinação e harmonia.
Quando me dei conta, observei que não se passava um giro completo do relógio sem que não o visitasse pelo menos umas três vezes. Ele ficou meu amigo do peito. Coisas boas, corria contar, as mais tristes, também, até que compartilhando algo que meu coração, de certa forma, padeceu, pude constatar o seu enternecimento. - Meu Deus, o que está acontecendo comigo? Agora desabafando com o girassol do quintal?
Ele não era só o girassol do quintal, era uma planta com sentimento sim, pois com a amizade e as saudações, ele demonstrou o brilho da alegria, e quando compartilhei algo mais doloroso, ele se sensibilizou. Voltei lá e o abracei. - Quão amado é. - então lhe dei um abraço tão forte e afetuoso que a plantinha quase perdeu o fôlego. E mais, para dizer a verdade, bem no momento do abraço, ouvi as seguintes palavras: - Sou parte da vida e busco a luz que a anima.
Por dias pensei no ocorrido. No começo, fiquei entre a realidade e o imaginário, mas a vivacidade do girassol fortaleceu o que já se sabe: que a vida se apresenta de várias formas. Com singeleza e sabedoria, o menino ratificou que a busca pela luz é imprescindível e, assim, onde houver claridade haverá a paz que afaga o coração.


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