Paulo César nos pergunta: “Se o homem viveu antes, por
que não se lembra de suas existências anteriores?”.
Não temos durante a existência corpórea lembrança do
que fomos e do que fizemos nas anteriores existências, mas possuímos disso a
intuição, sendo as nossas tendências instintivas uma reminiscência do passado.
Não fossem a nossa consciência e a vontade que
experimentamos de não reincidir nas faltas já cometidas, seria difícil resistir
a tais pendores. A aptidão para essa ou aquela profissão, a maior ou menor
facilidade nessa ou naquela disciplina, as inclinações interiores – eis
elementos que não teriam justificativa alguma se não existisse a reencarnação.
Com efeito, se a alma fosse realmente criada junto com
o corpo da criança, as pessoas deveriam revelar igual talento e idênticas
predileções, mas não é isso que vemos.
No esquecimento das existências anteriores, sobretudo
quando foram amarguradas, há algo de providencial e que atesta a bondade e a
sabedoria do Criador. Tal como se dá com os sentenciados a longas penas, todos
nós desejamos apagar da memória os delitos cometidos e felizes ficamos quando a
sociedade não os conhece ou os relega ao esquecimento.
A razão desse desejo é fácil de explicar. Dá-se o
mesmo com relação à volta do Espírito a uma nova existência corpórea.
Frequentemente – ensina o Espiritismo – renascemos no
mesmo meio em que já vivemos e estabelecemos de novo relações com as mesmas
pessoas, a fim de reparar o mal que lhes tenhamos feito. Se reconhecêssemos
nelas criaturas a quem odiamos, talvez o ódio despertasse outra vez em nosso
íntimo e, ainda que tal não ocorresse, sentir-nos-íamos humilhados na presença
daquelas a quem houvéssemos prejudicado ou ofendido.
Evidentemente, o esquecimento do passado – que
constitui uma regra nos processos reencarnatórios – não se estende à vida
espiritual, em que recobramos a memória das peripécias passadas, de acordo com
a necessidade de que isso se dê, o que revela mais uma vez a bondade do Pai
para com seus filhos.
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