Pergunta-nos um amigo por que o Espiritismo não admite
as penas eternas.
A resposta a essa questão é por demais simples. A tese
da eternidade das penas reservadas àqueles que infringem as leis do bem e do
amor, tanto quanto a existência do inferno, não resistem a uma análise
objetiva. O raciocínio lógico conduz-nos à seguinte premissa: Se o Espírito
sofre em função do mal que praticou, sua infelicidade deve ser proporcional à
falta cometida.
Cumpre considerar também que a condenação perpétua não
se coaduna com a ideia cristã da sublimidade da justiça e da misericórdia
divinas. Jesus deu testemunho da bondade e do amor de Deus, ao afirmar que o
Pai celeste não quer que pereça um só de seus filhos.
A razão leva-nos à admissão de que Deus é, como ensina
o Espiritismo, um ser infinito em suas perfeições, pois é filosoficamente
impossível conceber o Criador de outra maneira, visto que, se Ele não
apresentasse infinita perfeição, poderíamos conceber outro ser que lhe fosse
superior. Sendo, portanto, infinitamente sábio, justo e misericordioso, não
podemos crer que tenha criado pessoas para serem eternamente desgraçadas em
virtude de uma falta ou de um erro passageiro, derivados evidentemente de sua
própria imperfeição.
A doutrina das penas eternas consubstanciada na
teologia católica surgiu das ideias primitivas que conceberam a existência de
um Deus irado e vingativo, a quem o homem atribuiu características puramente
humanas. O fogo eterno é uma figura de que se utilizou para materializar a ideia
do inferno, com vistas a ressaltar a crueldade da pena, no pressuposto de que o
fogo é o suplício mais atroz e que produz o tormento mais efetivo.
Essas ideias serviram, em certo período da história da
Humanidade, para controlar as paixões de criaturas ainda imperfeitas, mas não
servem ao homem da atualidade, que nelas não consegue vislumbrar sentido
lógico.
Jesus valeu-se das figuras do inferno e do fogo eterno
para pôr-se ao alcance da compreensão dos homens de sua época. As imagens
fortes que utilizou eram, então, necessárias para impressionar a imaginação de
indivíduos que pouco entendiam das coisas do Espírito e cuja realidade estava
mais próxima da matéria e dos fenômenos que lhes impressionavam os sentidos
físicos. Mas também foi ele quem enfatizou a ideia de que Deus é Pai
misericordioso e bom e afirmou que, das ovelhas que o Pai lhe confiou, nenhuma
se perderia.
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