segunda-feira, 23 de dezembro de 2019




Examinemos estas frases:
- Já lhe contei o caso. Já contei-lhe o caso.
- Já o avistei ontem. Já avistei-o ontem.
Há nelas duas propostas de redação: com próclise no primeiro caso; com ênclise no segundo. Quais as corretas?
Antes de mais nada, é importante lembrar que nos baseamos aqui nas regras relativas à norma culta, em que imperam os princípios da gramática tradicional ou normativa, fixas e pouco permissivas.
Em Portugal, se não houver algo que atraia o pronome pessoal átono, a ênclise é a posição padrão, ou seja, o pronome é colocado depois do verbo. Exemplo: João ofereceu-me uma bebida.
Existindo na frase uma partícula atrativa, a próclise se impõe. Exemplo: João não me ofereceu uma bebida.
As conjunções subordinativas inserem-se na lista das partículas que determinam a próclise. Certos advérbios e determinadas locuções adverbiais também integram a lista de partículas atrativas, a exemplo de ainda, já, oxalá, sempre, só, talvez, também.
Eis alguns exemplos:
- Ainda ontem o vi no mercado.
- Já o conhecia há muito tempo.
- Oxalá se mantenha sóbrio.
- Sempre o considerei um indivíduo tristonho.
- Só lhe enviei o comunicado hoje à noite.
- Talvez se lembre do que lhe disse no ano passado.
- Também lhe quero bem.
É importante frisar que essa listagem não é exaustiva e não abarca todos os advérbios e locuções adverbiais; pelo menos esse é o entendimento de muitos gramáticos, menos rigorosos, quanto ao tema, do que o conhecido e respeitado gramático brasileiro Evanildo Bechara, que escreveu em sua Moderna Gramática Portuguesa:
«Não se pospõe pronome átono a verbo modificado diretamente por advérbio (isto é, sem pausa entre os dois, indicada ou não por vírgula) ou precedido de palavra de sentido negativo».
Concluindo, as frases corretamente redigidas, a que nos referimos inicialmente, são estas:
- Já lhe contei o caso.
- Já o avistei ontem.






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