A lealdade e não o prazer...
JORGE LEITE DE
OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Há um ditado popular que diz mais ou menos o
seguinte: “Você pode enganar uma pessoa a vida inteira, pode enganar algumas
pessoas durante muito tempo, mas não pode enganar todo o mundo o tempo
inteiro”. Outra frase muito conhecida é a de que, em geral, a pessoa traída é
a última a saber da traição. Não concordo muito com isso. O que ocorre é que,
quando amamos muito alguém, não nos convencemos apenas com base em suspeitas ou
atitudes um pouco levianas de nosso (a) parceiro (a), pois também necessitamos
de sua tolerância. Afinal, não é fácil suportar uma infidelidade, por esta nos
humilhar e causar tanta infelicidade.
Embora se defendam muito os direitos
femininos na atualidade, o que considero justo, muitas vezes são as mulheres
que assediam sexualmente os homens. Não vai aqui qualquer julgamento. Apenas
constatação. Por exemplo, em certas ocasiões, amigo meu, leal à esposa, que
muito ama, foi acusado por outras mulheres de ser assexuado, por resistir ao seu
assédio. O apelo genésico, neste mundo animalizado, é poderoso e, por vezes,
difícil de resistir, como nos afirmou nosso genro, mestre em Biologia.
Ao cristão, todavia, não é lícito fazer
qualquer concessão ao adultério sexual (não vêm ao caso aqui outras definições
de adultério), pois a finalidade de nossa passagem pela matéria é justamente,
domar as más inclinações e nos transformarmos moralmente, como deduziu Allan
Kardec. Mas a fornicação é tão grave que, muitas vezes, é punida com a morte,
como já ocorria nos tempos antigos.
Precisamos combater a animalidade que ainda
reside em nós, se cremos, de fato, na proposta de Jesus. Por isso, disseram-nos
os Espíritos, e o Codificador do Espiritismo anotou, que pelo corpo
participamos da natureza animal e pela alma possuímos a natureza espiritual
(KARDEC, O livro dos espíritos (LE),
q. 605).
Quando colocamos o prazer acima das
conveniências e faltamos com o respeito conosco mesmo, pois quem trai se trai,
e também com quem estamos comprometidos, seja pelo matrimônio, seja pela
parceria sexual e familiar, demonstramos não ter entendido o sexto Mandamento
divino: “Não adulterarás”. Demonstramos, assim, não amar suficientemente a
outra pessoa e também agimos hipocritamente, em relação à observação de Jesus:
“[...] deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só
carne [...]. Assim, não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus
ajuntou não separe o homem” (Mateus, 19: 5, 6).
Não é preciso lembrar às mulheres que a
palavra genérica “homem” acima também se aplica a elas. E, salvo a situação de
relação não consentida, qualquer atitude de entrega a outrem, seja a pessoa
homem ou mulher, comprometidos com alguém, caracteriza adultério. E não cabe
aqui a desculpa, muito comum nesta época de culto aos sentidos, de que uma ou outra
relação sexual extramatrimonial não caracteriza infidelidade ao cônjuge ou
parceiro (a).
Retornamos à Terra para combater nossa
animalidade, espiritualizando a matéria e não materializando animalescamente o
Espírito. De pouco adianta sermos bons na oratória religiosa, distribuirmos
benefícios materiais a diversas pessoas, orarmos pelos enfermos, criticarmos
aqueles que não são fiéis a Deus e ao próximo, se, de nossa parte, não nos
esforçarmos em ser melhores, em preservarmos nossa integridade moral, em não
mentirmos à própria consciência, que é Deus em nós.
O verdadeiro sentido da caridade já está
expresso, há dois mil anos, por Paulo de Tarso, em I Coríntios, cap. 13:
Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
2 E ainda que tivesse o dom de profecia, e
conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé,
de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria.
3 E ainda que distribuísse toda a minha
fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser
queimado, e não tivesse caridade, nada disso me aproveitaria.
4 A caridade é sofredora, é benigna; a
caridade não é invejosa; a caridade não trata com leviandade, não se
ensoberbece.
5 Não se porta com indecência, não busca os
seus interesses, não se irrita, não suspeita mal.
6 Não folga com a injustiça, mas folga com a
verdade.
7 Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo
suporta.
Observe, quem nos lê, que um dos requisitos
da caridade, de acordo com o apóstolo, é não tratar alguém com leviandade;
outro é não se portar com indecência; e ainda outro, que fecha com “chave de
ouro” essas frases, é não buscar os seus interesses. Não suspeitar mal é não julgar alguém sem
provas patentes de suas faltas, o que não significa fechar os olhos às
evidências.
Como o perdão e a humildade são inseparáveis
da caridade, Paulo arremata, no versículo 8, que a pessoa caridosa “Tudo sofre,
tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. Isso significa estar em perfeita sintonia
com Deus, para não sucumbirmos, também, às tentações da animalidade, em especial
nesta época de inversão de valores, com a valorização do prazer, que jamais
esteve acima da lealdade. Prazer legítimo é o que se baseia no respeito ao
nosso próximo mais próximo, ou seja, a nós mesmos, e a quem escolhemos para
dividir a casa, o pão e o leito.
Que Deus nos dê forças para perdoar e
continuar amando e servindo aos que nos traem... E que continuemos resistindo
ao mal até o fim, pois, como também recomenda o Apóstolo dos gentios, que
parafraseamos agora: Não nos cansemos de fazer o bem, pois se não
desfalecermos, a seu tempo colheremos os bons frutos de nossos esforços,
combatendo em nós as más tendências e orando pelos fracos de espírito.
O prazer real não é o do corpo perecível; é o
do Espírito imortal, que se realiza na prática do bem incessante, que se traduz
pela palavra caridade: “Benevolência para com todos, indulgência para as
imperfeições dos outros, perdão das ofensas (LE, q. 886). Somente assim,
estaremos atendendo fielmente à recomendação do Cristo: “Brilhe a sua luz”
(Mateus, 5:16).
Isso, entretanto, começa pela lealdade...
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