quinta-feira, 12 de dezembro de 2019




Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas

Allan Kardec

Estamos fazendo neste espaço o estudo – sob a forma dialogada – dos oito principais livros do Codificador do Espiritismo: dois introdutórios, os cinco básicos que integram o chamado pentateuco kardequiano e um complementar.
Os textos são publicados sempre às quintas-feiras.
Após concluir o estudo do livro O que é o Espiritismo, o foco agora é a obra Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas, publicada por Kardec em 1858.

Parte 4

25. Sabemos que toda pessoa que sofre de alguma maneira a influência dos Espíritos é médium. Essa qualificação, no entanto, é reservada, no meio espírita, a que tipo de pessoas?
A faculdade mediúnica é inerente ao homem e, por conseguinte, não é um privilégio exclusivo. Por essa razão, raros são os indivíduos nos quais não se encontram – ainda que simples – alguns rudimentos de mediunidade. Todavia, no uso corrente, essa qualificação não se aplica senão àquelas nas quais a faculdade mediúnica é nitidamente caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que depende, então, de uma organização mais ou menos sensitiva. (Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas, cap. V, pág. 122.)
26. Que providência devemos tomar, segundo Kardec, quando a faculdade mediúnica se revela espontaneamente num indivíduo? 
Em tais casos, Kardec diz que é preciso deixar o fenômeno seguir sua marcha natural. A Natureza – diz ele – é mais prudente do que os homens. A Providência, de outro lado, tem suas intenções, e o mais humilde dos seres pode fazer-se instrumento dos mais altos desígnios. Os seres invisíveis que revelam sua presença por efeitos sensíveis são em geral Espíritos de uma ordem inferior e que podemos influenciar por nosso ascendente moral. É este ascendente que é preciso adquirir. Longe, pois, de nos mostrarmos submissos a seus caprichos, é preciso opor-lhes a vontade e constrangê-los a obedecer, o que não impede que atendamos aos pedidos justos e legítimos que fizerem. (Obra citada, cap. V, págs. 125 a 127.)
27. Como se opera a transmissão do pensamento dos Espíritos que se comunicam por meio da escrita? 
O Espírito tem um envoltório semimaterial a que chamamos perispírito. O fluido condensado, por assim dizer, em redor do Espírito, para formar esse invólucro, é o intermediário pelo qual ele atua sobre os corpos. O Espírito pode, pois, exprimir diretamente seu pensamento pelo movimento de um objeto ao qual a mão do médium serve apenas de ponto de apoio; e ele pode fazê-lo mesmo sem que esse objeto esteja em contato com o médium. A transmissão do pensamento dá-se também por intermédio do Espírito do médium, ou melhor, de sua alma. O Espírito estranho, neste caso, não atua sobre a mão para fazê-la escrever, como não atua sobre a cesta. Ele não a segura, não a guia. Atua sobre a alma com a qual se identifica. A alma, sob esse impulso, dirige a mão por meio do fluido que compõe seu próprio perispírito. A mão dirige a cesta e a cesta dirige o lápis. O papel da alma, nessa circunstância, é algumas vezes inteiramente passivo e então o médium, se é de incorporação, não tem nenhuma consciência do que escreve ou do que diz. Ocasionalmente, entretanto, a passividade não é absoluta; então ele tem uma consciência mais ou menos vaga, embora a mão seja arrastada por um movimento maquinal, ao qual a vontade permanece alheia. (Obra citada, cap. VI, pág. 138.)
28. Kardec diz que há casos em que o comunicante não é um Espírito estranho, mas a própria alma do médium. É o chamado fenômeno anímico. Como então poderemos saber se numa manifestação há a intervenção de um Espírito estranho? 
Há casos em que a intervenção de um Espírito estranho não é incontestável, mas basta que, em alguns, ela seja manifesta para tirar-se a conclusão de que outro Espírito que não seja o do médium pode comunicar-se. Ora, essa intervenção estranha não pode ser duvidosa quando, por exemplo, uma pessoa que não sabe ler nem escrever, não obstante, escreve como médium. Quando um médium fala ou escreve em uma língua que não conhece; quando, enfim, o que é mais comum, ele não tem consciência alguma do que escreve, e os pensamentos que exprime são contrários ao seu próprio modo de ver, estão além de seus conhecimentos ou fora do alcance de sua inteligência. (Obra citada, cap. VI, págs. 139 e 140.) 
29. A comunicação espírita exige identificação entre o Espírito e o médium, o que se estabelece pela simpatia ou afinidade existente entre ambos. Que qualidades atraem para junto do médium os bons Espíritos? que defeitos os afastam?
As qualidades que atraem os bons Espíritos são a bondade, a benevolência, a simplicidade de coração, o amor do próximo e o desprendimento das coisas materiais. Os defeitos que os repelem são o egoísmo, a inveja, o ciúme, o ódio, a cupidez, a sensualidade e todas as paixões pelas quais o homem se prende à matéria. Um médium por excelência seria, pois, aquele que, com facilidade de execução, reunisse no mais alto grau as qualidades morais. (Obra citada, cap. VI, págs. 142 e 143.)
30. Há, como alguns pretendem, influência do meio sobre as manifestações? Como podemos sintetizar essa questão?
Sim. É enorme a influência do meio sobre a natureza das manifestações inteligentes. Em resumo, as condições do meio serão tanto melhores quanto mais homogeneidade, mais sentimentos puros e elevados, mais desejo sincero de se instruir sem pensamento preconcebido houver para o bem. Nessa situação três elementos podem influenciar alternada ou simultaneamente: o conjunto dos assistentes, pelos Espíritos que eles atraem; o médium, pela natureza de seu próprio Espírito, que serve de intérprete; e a pessoa que orienta os trabalhos. Esta pode, sozinha, dominar todas as outras influências e, mais do que isto, todas as condições desfavoráveis do meio; pode, por vezes, obter notáveis resultados graças ao seu ascendente, se o fim a que se propõe é útil. Os Espíritos superiores atendem ao seu apelo e em seu favor. Os outros se calam como alunos diante dos mestres. A influência do meio faz compreender que quanto menos numerosos somos nas reuniões, tanto melhor estas decorrem, pois que assim é mais fácil obter homogeneidade. As pequenas reuniões íntimas são sempre mais favoráveis às belas comunicações. (Obra citada, cap. VII, págs. 147 a 149.)
31. Uma reunião mediúnica é um elemento decisivo para convencer as pessoas que desejam haurir convicções?
Não. A convicção não se adquire senão pela experiência. Quanto às pessoas que nunca tiveram qualquer experiência, não é aí que devem receber as primeiras lições nem tampouco haurir convicções. Correriam o risco de conceber uma imagem distorcida dos seres que compõem o mundo espírita, pouco mais ou menos como quem julgasse toda a população de uma grande cidade pelos habitantes de seus subúrbios. (Obra citada, cap. VIII, págs. 150 e 151.) 
32. Que recomendações faz Kardec acerca do horário e do local das reuniões mediúnicas?
As reuniões devem realizar-se em dias e horários fixos. Os horários distanciados das ocupações cotidianas e por isso favorecidos pela tranquilidade e a despreocupação são os preferíveis. Quanto ao local, é conveniente mantê-lo e não fazer mudanças sem necessidade. O fluido vital de cada Espírito errante ou encarnado é, de certo modo, um foco que irradia em seu redor pelo pensamento. Concebe-se, pois, que em um local permanente deve haver um eflúvio desse fluido que forma, por assim dizer, uma atmosfera moral com a qual os Espíritos se identificam. O local preferível é aquele que, além de exclusivamente consagrado a essa prática, nunca fosse profanado por preocupações vulgares, pois que nele teríamos uma espécie de santuário de onde estariam excluídos os maus Espíritos. Aí os elementos da atmosfera moral não estariam, por outro lado, tão misturados como em um local qualquer. (Obra citada, cap. VIII, págs. 152 a 154.)



Observação:
Para acessar a Parte 3 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2019/12/instrucoes-praticas-sobre-as.html




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