sábado, 7 de dezembro de 2019





O Jaque da reforma

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Há três semanas, iniciou-se a reforma de nosso apartamento, em Brasília. No princípio, o trabalho era feito por três pessoas, além do mestre de obras, indicado pela arquiteta, que, para mau fado dela, é nossa vizinha do apartamento ao lado.
O tempo passou e, de uma previsão inicial de conclusão da obra em trinta a quarenta dias, já estamos na quarta semana e a nova previsão é de, pelo menos, outras duas. Entretanto, não garanto que a obra fique pronta nesses 42 dias. A culpa é de um tal de Jaque: “Já que trocamos as duas portas da frente, vamos trocar as dos três quartos. Já que trocamos as dos quartos, por que não trocar as da cozinha e sala? Já que um dos quartos será o escritório do Jó, vamos trocar o piso do quarto...
Desse modo, de “já que” em “já que” eu e minha querida esposa, estamos aproveitando bem esta reforma do apartamento, já que entramos, há alguns anos (eu mais que ela), na “melhor idade”. Não aceitamos menos que mudar tudo, já que esta é a última reforma que pretendemos fazer, antes de nos mudarmos para o campo dos pés juntos nos próximos trinta anos. Caso Matusalém interceda por nós, para que ainda vivamos tudo isso. Depois... como gosto não se discute, o Jaque volta à cena sob nova direção.
Nesse ínterim, conhecemos duas histórias muito tristes, narradas pelo mestre de obras.
Um dos pedreiros que atuam na reforma é seu genro, jovem de 21 anos de idade, que foi “apadrinhado” pelo Mauro, o mestre de obras, há poucos anos, após tragédia familiar no lar do Rodrigo, seu genro, que se casou com uma das filhas do Mauro, chamada Alice.
Dois dias atrás, Rodrigo faltou ao serviço, o que não costuma ocorrer. Mais tarde, Mauro veio ao que resta de nosso antigo apartamento e nos narrou, não uma, mas duas histórias muito tristes.
A primeira é a de que a filhinha do jovem está hospitalizada e entubada, com grave problema respiratório. A criança, de pouco mais de um ano, é portadora da Síndrome de Down, para tristeza dos pais.
A segunda é a de que Mauro, coração generoso, procura ajudar a família do genro há alguns anos, quando a mãe deste foi brutalmente assassinada, com 27 facadas, por seu ex-companheiro, bem mais velho que ela, inconformado com a separação.
Um dos diálogos de Jesus com seus discípulos, narrado pelo Espírito Neio Lúcio, termina com a seguinte frase do Mestre Amado:
— O ódio pode atear muito incêndio de discórdia no mundo, mas nenhuma teoria de salvação será realmente valiosa sem o justo benefício aos espíritos que a maldade ou a rebelião desequilibraram. Para que o bem possa reinar entre os homens, há de ser uma realidade positiva no campo do mal, tanto quanto a luz há de surgir pura e viva, a fim de expulsar as trevas (LÚCIO, Neio - Espírito. Jesus no Lar. Psicografado por Chico Xavier. Cap. 15 O ministro sábio).
O ensinamento do perdão, que não isenta o criminoso da expiação do seu crime, ante as Leis Divinas, está sempre presente nas mensagens dos Espíritos superiores contidas nas obras básicas da Doutrina Espírita, em especial n’O Evangelho Segundo o Espiritismo, como lemos abaixo:
[...] Deveis amar os infelizes, os criminosos, como criaturas de Deus, às quais o perdão e a misericórdia serão concedidos, se se arrependerem, como também a vós, pelas faltas que cometeis contra a sua Lei. Considerai que sois mais repreensíveis, mais culpados do que aqueles a quem recusardes perdão e comiseração, visto que, na maioria das vezes, eles não conhecem Deus como o conheceis, sendo-lhes pedido muito menos do que a vós (KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XI. Caridade com os criminosos).
Mais adiante, Elizabeth de França, Espírito de alta evolução, após pedir nosso socorro de oração ao criminoso, conclui:
Nunca digais de um criminoso: “É um miserável; deve-se expurgar a Terra de sua presença; a morte que lhe infligem é muito branda para um ser de tal espécie”. Não, não é assim que deveis falar. Observai o vosso modelo, Jesus. Que diria Ele, se visse esse infeliz junto de si? Lamentá-lo-ia; considerá-lo-ia como um doente bem digno de piedade; estender-lhe-ia a mão [...]. O arrependimento pode  tocar seu coração, se orardes com fé. É tanto vosso próximo, quanto o melhor dos homens; sua alma, transviada e revoltada, foi criada, como a vossa, para se aperfeiçoar; ajudai-o, pois, a sair do lamaçal e orai por ele (Op. cit., it. 15).
Aprendemos, com os bons Espíritos, que o perdão recomendado por Jesus tem o grande mérito de nos livrar do ódio, que tanto mal nos faz, e das próprias emanações mentais negativas de quem nos prejudicou. Se, como vítimas, além disso, orarmos pelos nossos inimigos, nossa prece auxiliá-los-á a se arrependerem, que é o primeiro passo para a expiação de seu crime, ao qual se seguirá, de futuro, a imprescindível reparação. De nossa parte, estaremos livres de todo o mal, além de quites com a Justiça Divina de nossas dívidas passadas e presentes, conforme for o caso. Foi isso que Jesus quis dizer, quando nos ensinou: “Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos nossos ofensores”.






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