CINCO-MARIAS
Lidar com os medos
EUGÊNIA PICKINA
eugeniapickina@gmail.com
A noite acendeu as
estrelas porque tinha medo da própria escuridão. Mario Quintana
Sentir medo na infância é comum. E não é um medo ridículo, mas sim
tocante, desamparado, ruidoso, que exige, por parte do adulto, atenção e respeito.
Lembro-me de um retrato de um homem velho, sobrecenho feroz, barba
comprida, pendurado na sala da minha mãe e que me metia medo. Não ficava
naquele ambiente sozinha por nada e só abandonei o pavor mais crescida, quando
conheci a história do velho parente, abandonado jovenzinho pela noiva no altar.
Simples e bom de coração, não conseguiu superar o evento difícil e, por isso,
viveu até o fim solitário e recluso...
A criança pode sentir medo. Se ela chorar, relatar fantasias – monstros,
bichos, ladrões – converse com ela. Aproveite o momento para orientar a
coragem, dizendo ao seu filho ou à sua filha que os adultos também sentem medo,
explicando, com exemplos simples, sobre a importância de enfrentar o que nos
assusta. Ainda, para a criança pequena, respeitar o ritual do sono ajuda muito:
pijamas, ler ou contar uma história adequada à idade, oração e abraço de boa
noite.
Se a criança acordar assustada no meio da noite, tranquilize-a, não a
tire do quarto, se possível a mantenha na cama, fazendo-lhe companhia, a fim de
que se sinta segura e acolhida.
Tenho comigo que as crianças, no pátio da infância, inventam sem
preguiça, como nuvens que se desenrolam, histórias sem-fim. Sem fim é a noite:
e tudo acontece, tudo... Assombros e assaltos. Consequentemente, quando a
criança expressa medo, nunca a ameace, não a compare com o irmão, com outras
crianças, não a chame de medrosa, instalando nela, desde cedo, uma
autorreferência negativa.
De outro lado, não podemos esquecer que pais superprotetores têm mais
chance de gerar filhos fóbicos. Aquelas atitudes cotidianas de dizer ao filho
ou à filha “não faça”, “olha isso”, “cuidado”, acaba por gerar uma pessoa com
medo de tudo. Isso não quer dizer deixar os filhos fazerem o que bem entendem,
porque os limites educam e é essencial ensinar a criança a se defender de
situações perigosas, contudo sem amedrontá-la, sem violência, de acordo com a
capacidade de entendimento que ela apresenta em cada momento.
A educação tem como meta embasar a autonomia do ser humano. Isso requer
que a criança (também) vá aprendendo gradativamente a lidar com seus medos.
Afinal, crescer, alguém duvida?, nunca foi uma tarefa fácil.
Notinha
O medo é uma emoção comum, sentida por todas as pessoas e em diferentes
momentos da vida. Há medos considerados universais como o medo do escuro, medo
da rejeição, medo da solidão, medo da morte, e que já aparecem na infância. E
existem também os medos específicos, estruturados a partir de certas
experiências biográficas, como é o caso de alguém que foi mordido por um cão fox terrier na primeira infância e, com
isso, cresce e passa a sentir medo de cachorro, por exemplo. Esse último medo,
todavia, pode ser avaliado/cuidado por profissionais adequados.
*
Esta seção, cuja estreia neste blog ocorreu no dia 6 de janeiro último,
traz sempre textos dedicados à infância, seus cuidados, sua educação. O título
– Cinco-marias – é uma alusão a um conhecido brinquedo que
integra um conjunto de brincadeiras e
atividades lúdicas conceituadas como Patrimônio Cultural da Humanidade.
Eugênia Pickina é educadora ambiental e terapeuta
floral e membro da Asociación Terapia Floral Integrativa (ATFI), situada em
Madri, Espanha. Escritora, tem livros infantis publicados pelo Instituto
Plantarum, colaborando com o despertar da consciência ambiental junto ao Jardim
Botânico Plantarum (Nova Odessa-SP).
Especialista em Filosofia (UEL-PR) e mestre em
Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP), está concluindo em São Paulo a
formação em Psicanálise.
Ministra cursos e palestras sobre educação ambiental
em empresas e escolas no estado de São Paulo e no Paraná, onde vive.
Seu contato no Instagram é @eugeniapickina
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Muito bom.
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