Afinal, quem somos?
ASTOLFO
O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
De
Londrina-PR
A
sociedade terrena encontra-se mergulhada numa situação muito difícil.
A
um só tempo os órgãos de comunicação nos mostram pessoas que morrem à míngua em
diversos países do planeta, multidões vitimadas por flagelos naturais inúmeros,
crianças sem abrigo, jovens que partem deste mundo após um aborto malsucedido,
políticos flagrados com o dinheiro da corrupção, oculto em malas e até nas
meias, e, por fim, a busca da legalização do aborto e da eutanásia, seguindo
neste caso o exemplo de países como a Holanda.
Se
acrescentarmos a isso as tribulações pessoais, veremos ainda o drama dos que se
encontram desempregados, os jovens que buscam nas drogas ou no suicídio a
solução para seus dilemas e a falência moral dos tempos modernos, que engendra
o crime, a violência, a corrupção e o desespero, até mesmo em um país como o
nosso, rico por natureza e onde o povo se intitula garbosamente adepto do
Cristianismo.
Afinal,
quem somos?
Como
Kardec disse certa vez, se a Humanidade fosse considerada somente pelo ângulo
da vida no planeta Terra, poder-se-ia concluir que a espécie humana triste
coisa é.
Seria
como se analisássemos a população de uma grande cidade levando-se em conta
somente os enfermos de um hospital ou os detentos de uma penitenciária. Ora,
uma cidade não se resume aos que vivem nos referidos locais, mas é a reunião de
todos os elementos que a compõem: enfermos, criminosos, indivíduos sadios,
honestos, pobres, ricos, velhos, jovens e crianças.
Desse
modo, assim como em uma penitenciária não se encontra toda a população da
cidade, a Humanidade não se acha inteiramente na Terra. Os Espíritos não
pertencem exclusivamente ao nosso orbe. Existem muitas moradas na casa do
Senhor, conforme Jesus fez questão de nos revelar, e todas elas são necessárias
para o nosso progresso.
No
mundo em que vivemos ocorre o que muitos chamam de estranho paradoxo. O avanço
científico extraordinário dos últimos cem anos coincidiu com a eclosão de duas
guerras mundiais e com o estado de alerta permanente dos povos que temeram por
muito tempo, com razão, o advento de uma terceira grande guerra, que certamente
seria a última.
A
contradição apontada por alguns é, porém, inexata, porque ninguém ignora que o
planeta sempre esteve envolto em guerras, e estas têm marcado a história dos
povos.
Como o progresso científico verificado no globo não tem sido acompanhado de um equivalente progresso moral, tem-se a impressão de que se verifica na Terra um processo de involução ou retrocesso, quando o que ocorre é, efetivamente, uma revolução, derivada dos séculos de tortura, perseguições, exploração e morte, cuja finalidade é limpar o terreno para as futuras gerações compromissadas com a paz e a justiça social.
Nesse
sentido, devemos ter sempre em mente estas palavras de Jesus: “Bem-aventurados
os mansos, porque eles herdarão a terra” (Mateus 5:5).
Nunca
será demais repetir que a morte e a reencarnação estabelecem um sistema de
trocas entre o plano material e o plano espiritual. A morte leva daqui, todos
os dias, as gerações acumpliciadas com a velha ordem. A reencarnação traz de
novo à cena os mesmos seres que, havendo por aqui passado inúmeras vezes,
retornam com novas ideias e ânimo redobrado no sentido de estabelecer o reino
de Deus na Terra.
É
necessário, pois, que as ideias materialistas, fortalecidas pelo materialismo
dos que se intitulam cristãos, não concorram para o efeito contrário, que seria
a destruição em vez da preservação desta morada acolhedora que dá o alimento e
o amparo a todos os que a buscam com espírito de tolerância, trabalho e
solidariedade.
O
estado de fome e penúria em que vivem muitos povos é um fenômeno antes moral
que econômico, pois ninguém ignora que os recursos aplicados na arte da guerra
são mais que suficientes para erradicar a miséria e implantar as escolas e os
hospitais de que o mundo carece.
Não
devemos chegar, obviamente, ao ponto de somente mirar as coisas do céu. Em
tudo, o meio termo é sinônimo de bom senso. Mas não deixemos que a visão
estreita da vida, esse materialismo desenfreado que nos consome, aniquile as
possibilidades imensas que se encontram à nossa disposição para o nosso
crescimento no rumo do infinito, o qual nos aguarda a todos, queiramos ou não,
seja qual for a concepção que tenhamos da vida.
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