domingo, 8 de janeiro de 2023

 



Recordando Anita Borela

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

De Londrina-PR

 

Na última quinta-feira, se encarnada estivesse, Anita Borela de Oliveira – que nasceu em 5 de janeiro de 1909 – estaria comemorando mais um aniversário.

Anita foi minha mãe na presente existência e, por isso, não poderia deixar de registrar o fato, para dizer a ela e a todos os meus familiares quão feliz me considero por ter sido seu filho.

Seu nome era, em verdade, Ana Borela de Oliveira, mas foi como Anita que se tornou conhecida em sua cidade e nos diversos locais de Minas Gerais aonde chegou a notícia do seu trabalho no campo da mediunidade.

Sua existência, embora muito curta, foi recheada de lances de sacrifício, de renúncia e de heroísmo. De origem e formação católica, foi exatamente a perseguição movida pela Igreja aos espíritas da cidade que a levou ao Espiritismo, religião que seu marido já professava sob a influência direta do amorável professor Abel Gomes.

Por essa época, pouco antes da desencarnação de Abel, ocorrida em 1934, suas faculdades mediúnicas afloraram com um potencial que expressava bem suas aquisições espirituais do passado. Audição, vidência, clarividência, psicofonia, curas – eis algumas das faculdades que passou a exercer com a responsabilidade de quem entendia seu compromisso para com a mediunidade.

Em pouco tempo, os fatos e a dedicação ao semelhante tornaram-na conhecida e procurada pelos necessitados de toda a sorte, que encontravam na sua presença o alívio, o consolo e a cura. Solicitada com frequência nos casos de desaparecimento de pessoas, ao inteirar-se do nome da pessoa procurada fechava os olhos e com toda a naturalidade descrevia o local onde ela se encontrava. Quando ocorria algum afogamento no rio da cidade, as pessoas iam primeiro ao seu encontro para que descrevesse a situação e o lugar em que o corpo estava.

Em 1950 Anita não se encontrava fisicamente bem. Com 11 filhos e inúmeros afazeres, seu estado de saúde agravou-se com o surgimento de uma nova gravidez, o que não a impediu de continuar suas tarefas no lar e no Centro. Mas no dia 8 de maio seu coração não resistiu e Anita partiu, aos 41 anos de idade, deixando uma lacuna enorme no movimento espírita da cidade, onde já funcionava, além da casa espírita que frequentava, a Fundação Espírita Abel Gomes, construída sob sua inspiração para abrigar meninas órfãs.

 

*

 

Do livro Memórias de Padre Vítor, obra psicografada por Ana Paula Cazetta e publicada pela Editora Leopoldo Machado em 2001 e reeditada sob a forma de e-book pela Editora Virtual O Consolador, transcrevo dois relatos que mostram muito bem como atuava Anita em favor dos necessitados.

Numa certa tarde, na entrega de roupas a famílias carentes, alguém chegou com uma linda jovem perturbada e agressiva que parecia faiscar ódio pelos olhos.

D. Menina, que estava junto de Anita, imediatamente lhe disse:

– Vá, Anita. Converse com o Espírito que a perturba e verá que tem o poder, concedido pelo Pai, de encaminhá-lo. É chegada a hora do seu testemunho.

Ela, com uma força que não possuía normalmente e com sua candura habitual, pegou a mão da jovem e lhe disse:

– Oh! Meu filho. Que buscas? Tens sede de amor e fome do perdão? Ah! Meu filhinho, Jesus te quer muito a seu lado. Liberta essa menina-moça de tua subjugação. O que ganhas com isso? Sabe, meu querido, só o amor nos liberta a alma. Queres a liberdade? Pois entrega-te a ela retirando-te já daí.

O Espírito, comovido por forte emanação magnética, se libertou, deixando a jovem em paz. Em seguida, D. Menina e Anita ministraram-lhe passes e, medicada e alimentada, coisa que não fazia há dias, pôde voltar ao lar, livre da influência negativa do Espírito.

Em outra ocasião, quando lidava com os afazeres domésticos, bateu-lhe à porta um empregado de uma fazenda próxima, a mando do patrão. Anita ouviu atentamente o fato narrado e, em seguida, saiu em desabalada carreira junto com o rapaz, que viera em uma charrete até a sua casa. Pelo caminho ela foi meditando e, na virada da Reta – uma das ruas da cidade –, avistou Diogo, um companheiro de lides espíritas que seguia em sua direção.

Logo que chegaram ao seu destino, depararam um quadro triste de possessão. Mulher fina, de tratos nobres, Emília, esposa do fazendeiro, se arrastava pelo chão como um animal selvagem. Já havia destruído tudo à sua volta e por pouco não assassinara o próprio filho, um bebê, que seu marido trazia nos braços. 

Diogo e Anita, sem perda de tempo, oraram fervorosamente a Jesus e, com força e amor, envolvida pelo Espírito de Abel Gomes, Anita iniciou a doutrinação reparadora: 

– Levanta-te daí, meu irmão infeliz. Liberta essa criatura de tuas garras e envergonha-te de tal papel.

Embora tentasse avançar sobre ela, o Espírito não conseguiu tal intento, pois se prostrou ao chão pela força do magnetismo de Abel. O esclarecimento então prosseguiu:

– Vamos, meu irmão! Fala como ser humano que és, tu não és bicho.

Um choro de dor ecoou pela sala e, afogado pela revolta, o Espírito relatou o ódio que sentia pelo fato de ter sido abortado na juventude por Emília:

– Por que eu? Por que eu, se agora ela traz no colo um filhinho amado? Eu a amava, queria estar em seus braços maternais.

Anita aproximou-se dele e lhe falou com amor de mãe:

– Ah! meu filhinho. Não chores assim, um erro não justifica o outro. Tu és vítima, não queiras tornar-te o algoz. Quanto tempo de abandono, de sofrimento e jamais te lembraste de pedir alívio a Maria de Nazaré. Ela com certeza te abrigaria nos braços e te daria o amor que te hão negado. Precisas de ajuda, mas não para sofrer e sim para ser feliz. Se fosse permitido pelo Pai Celestial, eu te receberia como meu filhinho querido, mas só posso te oferecer o meu amor espiritual e te confortar com preces, mas olha em volta e verás quantas mãezinhas que deixaram seus filhinhos na Terra te querem adotar. Esquece a Emília. Deus com ela acertará as penas do seu gesto. Quanto a ti, busca a paz em mãos amigas. Deixa a Emília cuidar do filhinho que Deus lhe deu, pois ela o faz pensando em ti.

Envolvido por Espíritos de aspecto feminino, o Espírito abandonou então a mulher e seguiu em paz.

Anos depois, Diogo pressentiu em uma de suas peregrinações costumeiras a reencarnação daquele irmãozinho na fazenda de Emília e viu que ela, sem que ninguém soubesse explicar, se tomou de amores pelo menino fazendo dele um filho do coração e adotando-o mais tarde, em face da desencarnação precoce da mãe.

 

 

 

 

 

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Um comentário:

  1. Que vida proveitosa e maravilhosa .
    Como a Doutrina Espírita reconforta nossos corações .

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