No Invisível
Léon Denis
Parte 6
Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial do clássico No Invisível, de Léon Denis, cujo título no original francês é Dans l'Invisible.
Nossa expectativa é que este estudo sirva para o leitor
como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do
texto indicado para leitura.
Este estudo é publicado sempre às sextas-feiras.
Questões preliminares
A. Que é médium, na definição de Léon Denis?
B. Pode o Espírito agir sobre a matéria?
C. Há muitas variedades de mediunidade?
Texto para
leitura
158. O Espiritismo experimental: IV - A mediunidade
– Todas as manifestações da Natureza e da vida se resumem em vibrações, mais ou
menos rápidas e extensas, conforme as causas que as produzem. Tudo vibra no
Universo: a luz, o som, o calor, a eletricidade, os raios químicos, os raios
catódicos, as ondas hertzianas etc. não são mais que diferentes modalidades de
ondulação, graus sucessivos, que em seu conjunto constituem a escala
ascensional das manifestações da energia.
159. Esses graus são muito afastados entre si. O som
percorre 340 metros por segundo; a luz, no mesmo tempo, faz o percurso de
300.000 quilômetros; a eletricidade se propaga com uma rapidez que se nos
afigura incalculável. Os nossos sentidos físicos, porém, não nos permitem
perceber todos os modos de vibração. Sua impotência para dar uma impressão
completa das forças da Natureza é um fato suficientemente conhecido para que
tenhamos necessidade de insistir sobre esse ponto. Só no domínio da óptica,
sabemos que as ondas luminosas não nos impressionam a retina senão nos limites
das sete cores. Certas radiações solares escapam à nossa vista; chamam-se, por
isso, raios obscuros.
160. Entre o limite dos sons, cujas vibrações alcançam de
20 a 20.000 por segundo, e a sensação de calor, que se mede por trilhões de
vibrações, nada percebemos. O mesmo acontece entre a sensação de calor e de
luz, que corresponde, na média, a 500 trilhões de vibrações por segundo.
161. Nessa prodigiosa ascensão, os nossos sentidos
representam paradas muitíssimo espaçadas, estações dispostas a consideráveis
distâncias uma das outras, uma rota sem-fim. Entre essas diversas paradas, por
exemplo, entre os sons agudos e os fenômenos de calor e de luz, até às zonas
vibratórias afetadas pelos raios catódicos, há para nós como que abismos. Para
seres, porém, dotados de sentidos mais sutis ou mais numerosos que os nossos,
esses abismos, desertos e obscuros na aparência, não estariam preenchidos?
162. Tudo em a Natureza se sucede, se encadeia e se
desdobra, de elo em elo, por gradativas transições. Em parte alguma há salto
brusco, hiato, vácuo. O que resulta destas considerações é simplesmente a
insuficiência do nosso organismo, demasiado pobre para perceber todas as
modalidades de energia.
163. O que dizemos das forças em ação no Universo aplica-se
igualmente ao conjunto dos seres e das coisas em suas diversas formas, em seus
diferentes graus de condensação ou de rarefação. O nosso conhecimento do
Universo se restringe ou amplia conforme o número e a delicadeza de nossos
sentidos. O nosso organismo atual não nos permite abranger mais que
limitadíssimo círculo do império das coisas. A maior parte das formas da vida
nos escapa. Venha, porém, um novo sentido se nos acrescentar aos atuais, e
imediatamente se há de o invisível revelar, será preenchido o vácuo, animado o
que era soturna insensibilidade.
164. Poderíamos mesmo possuir sentidos diferentes que, por
sua estrutura anatômica, modificariam totalmente a natureza de nossas sensações
atuais, de modo a nos fazer ouvir as cores e saborear os sons. Bastaria para
isso que no lugar e posição da retina um feixe de nervos pudesse ligar o fundo
do olho ao ouvido. Nesse caso ouviríamos o que vemos. Em lugar de contemplar o
céu estrelado, perceberíamos a harmonia das esferas e não seriam por isso menos
exatos os nossos conhecimentos astronômicos.
165. Se os nossos sentidos, em lugar de separados, estivessem
reunidos, não possuiríamos mais que um único sentido generalizado, que
perceberia ao mesmo tempo os diversos gêneros de fenômenos.
166. Estas considerações, deduzidas das mais rigorosas
observações científicas, nos demonstram a insuficiência das teorias
materialistas. Pretendem estas fundar o edifício das leis naturais sobre a
experiência adquirida mediante o nosso atual organismo, ao passo que, com uma
organização mais perfeita, esta experiência seria bem diversa. Pela simples
modificação dos nossos órgãos, com efeito, o mundo, tal como o conhecemos, se
poderia transformar e mudar de aspecto, sem que de leve a realidade total das
coisas se alterasse. Seres constituídos de modo diferente poderiam viver no
mesmo meio sem se verem, sem se conhecerem.
167. E se, em consequência do desenvolvimento orgânico de
alguns desses seres, em seus diversos apropriados habitats, seus meios de
percepção lhes permitissem entrar em relações com aqueles cuja organização é
diferente, nada haveria nisso de sobrenatural nem de miraculoso, mas
simplesmente um conjunto de fenômenos naturais, regidos por leis ainda
ignoradas desses seres, menos favorecidos no que se refere ao conhecimento.
168. Ora, é isso que precisamente se produz em nossas
relações com os Espíritos dos homens falecidos, em todos os casos em que é
possível a um médium servir de intermediário entre as duas humanidades, visível
e invisível. Nos fenômenos espíritas, dois mundos, cujas organizações e leis
conhecidas são diferentes, entram em contacto, e assomando a essa linha
divisória, a essa fronteira que os separava, mas que desaparece, o pensador
ansioso vê desdobrarem-se perspectivas infinitas. Vê bosquejarem-se os
elementos de uma ciência do Universo muito vasta e mais completa que a do
passado, conquanto seja o seu prolongamento lógico; e essa ciência não vem
destruir a noção das leis atualmente conhecidas, mas ampliá-la em vastas
proporções, pois que traça ao espírito humano a rota segura que o conduzirá à
aquisição dos conhecimentos e dos poderes necessários a firmar em sólidas bases
sua tarefa presente e seu destino futuro.
169. Acabamos de aludir ao papel dos médiuns. O médium é o
agente indispensável, com cujo auxílio se produzem as manifestações do mundo
invisível.
170. Assinalamos a impotência dos nossos sentidos, desde
que são aplicados aos estudos dos fenômenos da vida. Nas ciências
experimentais, não tardou a ser preciso recorrer a instrumentos para suprir
essa deficiência do organismo humano e ampliar o nosso campo de observação.
Vieram assim o telescópio e o microscópio revelar-nos a existência do
infinitamente grande e do infinitamente pequeno.
171. A partir do estado gasoso, a matéria escapava aos
nossos sentidos. Os tubos de Crookes, as placas sensíveis nos permitem
prosseguir os estudos no domínio, por muito tempo inexplorado, da matéria
radiante. Aí, por enquanto, se detêm os meios de investigação da ciência. Mais
além, todavia, se entreveem estados da matéria e da força que um instrumento
aperfeiçoado, mais dia menos dia, nos tornará familiares.
172. Onde faltam ainda os meios artificiais, vêm certos
indivíduos trazer ao estudo dos fenômenos vitais o concurso de preciosas
faculdades. É assim que o sensitivo hipnótico representa o instrumento que tem
permitido sondar as profundezas ainda misteriosas do eu humano, e proceder a
uma análise minuciosa de todos os modos de sensibilidade, de todos os aspectos
da memória e da vontade.
173. O médium vem, por sua vez, desempenhar um papel
essencial no estudo dos fenômenos espíritas. Participando, simultaneamente, por
seu invólucro fluídico, da vida do Espaço e, pelo corpo físico, da vida
terrestre, é ele o intermediário obrigatório entre dois mundos. O estudo, pois,
da mediunidade prende-se intimamente a todos os problemas do Espiritismo; é
mesmo a sua chave. O mais importante, no exame dos fenômenos, é distinguir a
parte que é preciso atribuir ao organismo e à personalidade do médium e a que
provém de uma intervenção estranha, e determinar em seguida a natureza dessa
intervenção.
174. O Espírito, separado da matéria grosseira pela morte,
não pode mais sobre ela agir; nem se manifestar na esfera humana sem o auxílio
de uma força, de uma energia, que ele haure no organismo de um ser vivo. Toda
pessoa suscetível de fornecer, de exteriorizar essa força, é apta para
desempenhar um papel nas manifestações físicas – deslocamento de objetos sem
contacto, transportes, sons de pancadas, mesas giratórias, levitações,
materializações.
175. É essa a mais comum, a mais generalizada forma da
mediunidade; não requer nenhum desenvolvimento intelectual, nem adiantamento
moral. É uma simples propriedade fisiológica, observada em pessoas de todas as
condições. Em todas as formas inferiores da mediunidade o indivíduo é
comparável, quer a um acumulador de força, quer a um aparelho telegráfico ou
telefônico, transmissor do pensamento do operador.
176. A comparação é tanto mais exata quanto a força
psíquica se esgota, como todas as forças não renovadas; a intensidade das
manifestações está na razão direta do estado físico e mental do médium. Seria
um erro considerar este como um histérico ou um doente; é simplesmente um
indivíduo dotado de capacidades mais extensas ou de mais sutis percepções que
outro qualquer. A saúde do médium parece-nos ser uma das condições de sua
faculdade. Conhecemos um grande número de médiuns que gozam perfeita saúde;
temos notado mesmo um fato significativo, e é que, quando a saúde se lhes
altera, os fenômenos se enfraquecem e cessam até de se produzir.
177. A mediunidade apresenta variedades quase infinitas,
desde as mais vulgares formas até as mais sublimes manifestações. Nunca é
idêntica em dois indivíduos e se diversifica segundo os caracteres e os
temperamentos. Em um grau superior, é como uma centelha do céu a dissipar as
humanas tristezas e esclarecer as obscuridades que nos envolvem.
178. A mediunidade de efeitos físicos é geralmente
utilizada por Espíritos de ordem vulgar. Requer contínuo e atento exame. É pela
mediunidade de efeitos intelectuais que habitualmente nos são transmitidos os
ensinos dos Espíritos elevados. Para produzir bons resultados, exige
conhecimentos muito extensos. Quanto mais instruído e dotado de qualidades
morais é o médium, maiores recursos facilita aos Espíritos.
179. Em todos os casos, contudo, o indivíduo não é mais do
que um instrumento; este, porém, deve ser apropriado à função de que é
encarregado. Um artista, por mais hábil que seja, nunca poderá tirar de um
instrumento incompleto mais que medíocre partido. O mesmo se dá com o Espírito
em relação ao médium intuitivo, no qual um claro discernimento, uma lúcida
inteligência, o saber mesmo, são condições essenciais.
180. Verdade é que se têm visto sensitivos escreverem em
línguas desconhecidas ou tratar de questões cientificas e abstratas, muito
acima de sua capacidade. São raros, porém, esses casos, que exigem grandes
esforços da parte dos Espíritos. Estes preferem recorrer a intermediários
maleáveis, aperfeiçoados pelo estudo, suscetíveis de os compreender e lhes
interpretar fielmente os pensamentos.
181. Nessa ordem de manifestações, os invisíveis atuam
sobre o intelecto do sensitivo e lhes projetam na esfera mental suas ideias. Às
vezes os pensamentos se confundem; os dois Espíritos revestem uma forma, uma
expressão, em que se acham reproduzidos o estilo e a linguagem habitual do
médium. Ainda aí se requer escrupuloso exame. Será, todavia, fácil ao
observador destacar, da insignificância de inúmeros ditados e do contingente
pessoal dos sensitivos, o que pertence aos Espíritos adiantados, cujas
comunicações revestem um caráter grandioso, um cunho de verdade muito acima das
possibilidades do médium.
182. Nos fenômenos de transe ou do sonambulismo em seus
diversos graus, os sentidos materiais vêm a ser pouco a pouco substituídos pelos
sentidos psíquicos, os meios de percepção e de atividade aumentam em proporções
tanto mais consideráveis quanto mais profundo é o sono e mais completo o
desprendimento perispirituais.
183. Nesse estado, nada percebe o corpo físico; serve
simplesmente de transmissor, quando o médium ainda pode exprimir suas
sensações. Já na exteriorização parcial se produz esse fenômeno. No estado de
vigília, sob a influência oculta, a tal ponto o invólucro fluídico do sensitivo
se desprende e irradia que, permanecendo embora intimamente ligado ao corpo,
começa a perceber as coisas ocultas aos nossos sentidos exteriores; é o estado
de clarividência, ou dupla vista, de visão à distância através dos corpos
opacos, audição, psicometria etc.
184. Em mais elevadas graduações, no estado de hipnose, a
exteriorização se acentua até ao desprendimento completo. A alma, liberta de
sua prisão carnal, paira nas alturas; seus modos de percepção, subitamente
recobrados, lhe permitem abranger um vasto círculo e se transporta com a rapidez
do pensamento. A essa ordem de fenômenos pertence o estado de transe, que torna
possível a incorporação de Espíritos desencarnados ao envoltório do médium,
deixado livre, semelhante a um viajante que penetra em casa devoluta.
185. Os sentidos psíquicos, inativos no estado de vigília
na maior parte dos homens, podem, entretanto, ser utilizados. Basta, para isso,
abstrair-se das coisas materiais, cerrar os sentidos físicos a todo ruído e
toda visão exterior e, por um esforço de vontade, interrogar esse sentido
profundo em que se resumem todas as nossas faculdades superiores e que
denominamos o sexto sentido, a intuição, a percepção espiritual. É por ele que
entramos em contacto direto com o mundo dos Espíritos, mais facilmente que por
qualquer outro meio; porque esse sentido constitui atributo da alma, o próprio
fundo de sua natureza, e acha-se fora do alcance dos sentidos materiais, de que
difere inteiramente.
186. A ciência menosprezou até hoje esse sentido – o mais
belo de todos; e é por isso que se tem conservado ignorante de tudo o que se
refere ao mundo do invisível. As regras que ela aplica ao plano físico serão
insuficientes, sempre que as quiserem aplicar ao mundo dos Espíritos. Para
penetrar neste, é preciso antes de tudo compreender que nós mesmos somos
Espíritos e que não podemos entrar em relação com o universo espiritual senão
pelos sentidos do espírito. (Continua na
próxima semana.)
Respostas às
questões preliminares
A. Que é médium, na definição de Léon Denis?
O
médium é o agente indispensável, com cujo auxílio se produzem as manifestações
do mundo invisível. O médium desempenha um papel essencial no estudo dos
fenômenos espíritas. Participando, simultaneamente, por seu invólucro fluídico,
da vida do Espaço e, pelo corpo físico, da vida terrestre, é ele o
intermediário obrigatório entre dois mundos. (No Invisível - O
Espiritismo experimental: IV - A mediunidade.)
B. Pode o Espírito agir sobre a matéria?
Separado
da matéria grosseira pela morte, o Espírito não pode mais sobre ela agir nem se
manifestar na esfera humana sem o auxílio de uma força, de uma energia, que ele
haure no organismo de um ser vivo. Toda pessoa suscetível de fornecer ou de
exteriorizar essa força é apta para desempenhar um papel nas manifestações físicas
– deslocamento de objetos sem contacto, transportes, sons de pancadas, mesas
giratórias, levitações, materializações –, que são a mais comum e a mais
generalizada forma de mediunidade. (Obra citada - O Espiritismo experimental:
IV - A mediunidade.)
C. Há muitas variedades de mediunidade?
Sim. A
mediunidade apresenta variedades quase infinitas, desde as mais vulgares formas
até as mais sublimes manifestações. Nunca é idêntica em dois indivíduos e se
diversifica segundo os caracteres e os temperamentos. A mediunidade de efeitos
físicos é geralmente utilizada por Espíritos de ordem vulgar. É, porém, pela
mediunidade de efeitos intelectuais que habitualmente nos são transmitidos os
ensinos dos Espíritos elevados. Para produzir bons resultados, essa faculdade
exige conhecimentos muito extensos. Quanto mais instruído e dotado de
qualidades morais é o médium, maiores recursos facilita aos Espíritos. Em todos
os casos, contudo, o indivíduo não é mais do que um instrumento; este, porém,
deve ser apropriado à função de que é encarregado. (Obra citada - O Espiritismo
experimental: IV - A mediunidade.)
Observação:
Para acessar a Parte 5 deste estudo, publicada na
semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2023/01/blog-post_13.html
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