sexta-feira, 3 de julho de 2020



O Espiritismo perante a Ciência

Gabriel Delanne

Parte 16

Continuamos o estudo do clássico O Espiritismo perante a Ciência, de Gabriel Delanne, conforme tradução da obra francesa Le Spiritisme devant la Science.
Nosso objetivo é que este estudo possa servir para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

Questões preliminares

A. Os fenômenos observados são governados por uma inteligência?
B. O pensamento de que são os Espíritos os causadores dos fenômenos partiu de quem?
C. Como se explica, no magnetismo, o fenômeno da transmissão do pensamento?

Texto para leitura

400. Chevreul, o químico, não foi mais feliz em suas tentativas. Ele publicou uma brochura intitulada La baguette divinatoire et les tables tournantes – na qual expõe os princípios seguintes: 1º - Um pêndulo em ação, suspenso ao lado de uma parede, comunica seu movimento de oscilação a um segundo pêndulo suspenso do outro lado da parede. 2º - A fricção produzida na extremidade de uma barra de ferro faz vibrar a outra extremidade. 3º - A resultante das forças digitais de muitas pessoas, que atuam lateralmente, pode vencer a inércia da mesa. Como se vê, é sempre a mesma teoria, sob nomes diversos. Mas existem fatos, como mostrados por Crookes, inexplicáveis por tais ideias, do que é força concluir que, não admitindo a Ciência o fluido magnético, é ela incapaz de indicar a força que produz esses fatos extraordinários.
401. Existe uma segunda categoria de observadores que veem no movimento das mesas efeitos magnéticos que se exercem de maneira desconhecida. Acha-se entre estes Thury, professor da Academia de Genebra, e Gasparin, que publicaram obras cheias de observações curiosas. Segundo Thury, os fatos verificados são devidos à influência de uma força que ele chama ectênica, exercida a distância, e que pode produzir, sob a influência da vontade, ruídos e deslocamentos de objetos, e, por consequência, manifestar inteligência. Gasparin é dessa opinião.
402. Deixemos a palavra aos fatos, porque, como o diz Alfred Wallace, “são eles coisas teimosas”.
403. Declara Crookes, em seguimento às suas notas sobre as pancadas: “Questão importante se impõe aqui à nossa atenção: Esses movimentos e esses ruídos são governados por uma inteligência? Desde o princípio de minhas investigações, verifiquei que o poder causador desses fenômenos não era simplesmente uma força cega; uma inteligência o dirigia ou, pelo menos, lhe estava associada. Assim, os ruídos de que acabo de falar foram repetidos um determinado números de vezes; tornaram-se fortes ou fracos e, a meu pedido, ressoaram em diversos lugares. Por um vocabulário de sinais, previamente convencionados, houve resposta a perguntas feitas e mensagens apresentadas, com maior ou menor exatidão.”
404. Até aqui os partidários da força ectênica ou psíquica (é a mesma coisa) podem em rigor explicar esses fenômenos. Podem dizer que, quando se deseja vivamente alguma coisa, projeta-se uma espécie de descarga nervosa que produz os ruídos desejados. Tal suposição é, porém, dificilmente admissível quando se obtêm “gorjeios de pássaros”.
405. Continuando suas notas sobre os fenômenos, aduziu William Crookes: “A inteligência que governa esses fenômenos é, algumas vezes, manifestamente inferior à do médium e, muitas vezes, em oposição direta com seus desejos. Quando se tomava uma determinação que podia ser considerada como pouco razoável, vi darem-se instantes mensagens, induzindo-nos a refletir de novo. Essa inteligência é, por vezes, de tal caráter que somos forçados a crer que não emana de nenhum dos presentes.”
406. A última frase do texto acima destrói a teoria de Thury, porque, se a força nervosa não é dirigida pela vontade do operador e dos espectadores, é preciso admitir uma inteligência estranha, isto é, a intervenção dos Espíritos. Ora, é incontestável que se a mesa dá respostas sobre assuntos desconhecidos dos assistentes ou contrários aos seus pensamentos, não é deles que partem as respostas. Como é preciso, porém, que elas sejam dadas por alguém, atribuímo-las a uma inteligência oculta que vem manifestar-se.
407. Essa concepção não é uma invenção humana, porque, sempre que se manifestava uma inteligência e se lhe perguntava quem era, ela constantemente respondia ser a alma de uma pessoa que habitara na Terra.
408. Pode parecer ridículo colocar-se alguém diante de uma mesa e acreditar que um dos seus finados parentes venha conversar por meio desse móvel. É isto, porém, uma verdade, e entre os milhares de fatos narrados pelos mais honoráveis homens de ciência citaremos a seguinte carta de Alfred Wallace, não só por ser particularmente probante, como porque o autor está acima de qualquer suspeita.
409. Eis a carta de Alfred Russel Wallace dirigida ao editor do Times: “Senhor. Apontado por muitos de vossos correspondentes como um dos homens de ciência que creem no Espiritismo, seja-me permitido estabelecer, ligeiramente, as provas sobre as quais se funda minha crença. Comecei minhas investigações há cerca de oito anos, e considero circunstância feliz para mim que os fenômenos maravilhosos fossem, nessa época, menos comuns e muito menos acessíveis que hoje; isto me levou a experimentá-los em larga escala, na minha casa e em companhia de amigos, nos quais podia confiar. Tive, assim, a satisfação de demonstrar, com o auxílio de grande variedade de experiências rigorosas, a existência de ruídos e movimentos que não podem ser explicados por nenhuma causa física conhecida ou concebível. Assim, familiarizado com esses fenômenos, cuja realidade não deixa a menor dúvida, estive em condições de compará-los com as mais poderosas manifestações de médiuns de profissão e pude reconhecer a identidade de causa entre uns e outros, em vista de semelhanças não muito numerosas, mas bastante características. Consegui igualmente obter, graças a paciente observação, provas certas da realidade de alguns fenômenos dos mais curiosos, que me pareceram e ainda me parecem dos mais concludentes. Os pormenores dessas experiências exigiriam um volume, mas talvez me fosse permitido descrever sucintamente uma delas, pelas notas tomadas no momento, a fim de mostrar, por um exemplo, como é possível evitar as fraudes de que o observador paciente é vítima, muitas vezes, sem o suspeitar. Uma senhora, que nunca vira um desses fenômenos, pediu-nos, a minha irmã e a mim, que a acompanhássemos a um médium de profissão, bem conhecido Lá fomos e tivemos uma sessão particular, em plena claridade, por um dia de verão. Depois de grande número de movimentos e pancadas, como de hábito, nossa amiga perguntou se o nome da pessoa falecida, com quem desejava comunicar-se, podia ser soletrado. Sendo afirmativa a resposta, a senhora apontou, sucessivamente, as letras de um alfabeto impresso, enquanto eu anotava as que correspondiam às três pancadas afirmativas. Nem minha irmã nem eu conhecíamos o nome que nossa amiga desejava saber, como ignorávamos o de seus defuntos pais; não pronunciara ela o próprio nome e nunca havia visto o médium antes.”
410. Wallace descreveu, na sequência da carta, o que se passou, alterando apenas o nome da família, por não ter autorização para publicá-lo, e no final, após diversas considerações sobre o tema tratado, finalizou nestes termos a missiva: “Para concluir (aviso a Bersot), posso dizer que, apesar de ter ouvido falar em grande número de embustes, nunca os descobri; e se a maior parte dos fenômenos extraordinários são burlas, só podem ser produzidos por máquinas ou aparelhos engenhosos, e estes ainda não foram descobertos. Não exagero declarando que os principais fatos estão agora bem estabelecidos e são tão fáceis de estudar como qualquer outro fenômeno excepcional da natureza, cuja lei ainda não se conhece. São fatos de grande importância estes para a interpretação da História, cheia de casos semelhantes, assim como para o estudo do princípio da vida e da inteligência sobre o qual as ciências físicas lançam fraca e incerta luz. Creio firme, convictamente, que cada ramo da filosofia deve ser permitido, até que seja escrupulosamente examinado e tratado como constituindo parte essencial dos fenômenos da natureza humana. Seu muito respeitador Alfred R. Wallace.”
411. Certo número de observadores, não podendo negar os fenômenos nem as respostas inteligentes dadas pela mesa, mas recusando categoricamente admitir uma intervenção espiritual, imaginaram que os operadores emitem certa quantidade de fluido nervoso, o qual, concentrado na mesa, lhe comunica o movimento. “É notório – diz um deles – que as respostas das mesas não passam do eco das respostas mentais dos assistentes”, e Chevreul acrescenta: “É fácil conceber que uma pergunta dirigida à mesa possa despertar, na pessoa que o faz, um movimento cerebral, e este, que não é mais do que o do fluido nervoso, possa propagar-se à mesa; daí resulta que se o impulso for proporcionado, inteligente, a mesa o repetirá.”
412. Observaremos ao eminente químico que o caso citado por Wallace está em oposição formal à sua explicação. Supondo-se, mesmo, que a senhora que evocava o filho lhe tivesse invocado mentalmente o nome, é impossível compreender como foi esse nome ditado em sentido contrário, sem hesitação, e, sobretudo, como a ação não cessou, quando a senhora declarara, à terceira letra, que era inútil continuar, por não terem significação as letras apresentadas. Deve-se convir que Chevreul não é feliz com suas explicações, proximamente aparentadas com as de Bersot.
413. A transmissão do pensamento é um fenômeno que se opera do magnetizador ao magnetizado. Em certos casos, o magnetizador não tem necessidade de enunciar mentalmente sua vontade para se fazer obedecer; basta-lhe pensar e o sonâmbulo executa a ordem que recebeu, ou responde à pergunta que se lhe fez. Aqui pode conceber-se o que se passa.
414. Estabelece-se, pela ação magnética, uma corrente fluídica entre os dois sistemas nervosos, de sorte que as vibrações emanadas do cérebro do magnetizador impressionam, de maneira sensível, o do magnetizado e lhe fazem nascer no espírito as mesmas ideias do operador. Tal é, pelo menos, a teoria apresentada para esse fato notável.
415. Nas mesas girantes, porém, não são as mesmas as condições. Se supusermos muitas pessoas em torno da mesa, como o narra Wallace, como se fará o acordo entre os fluidos e as vibrações de todos esses cérebros? O da senhora evocadora achava o fenômeno impossível, enquanto o de Wallace o supunha possível: em verdade, aquela suposta explicação é inaceitável.

Respostas às questões preliminares

A. Os fenômenos observados são governados por uma inteligência?
Segundo Crookes, sim. Eis o que ele escreveu: “Desde o princípio de minhas investigações, verifiquei que o poder causador desses fenômenos não era simplesmente uma força cega; uma inteligência o dirigia ou, pelo menos, lhe estava associada. Assim, os ruídos de que acabo de falar foram repetidos um determinado números de vezes; tornaram-se fortes ou fracos e, a meu pedido, ressoaram em diversos lugares. Por um vocabulário de sinais, previamente convencionados, houve resposta a perguntas feitas e mensagens apresentadas, com maior ou menor exatidão”. (O Espiritismo perante a Ciência, Terceira Parte, Cap. II - As teorias dos incrédulos e o testemunho dos fatos.)
B. O pensamento de que são os Espíritos os causadores dos fenômenos partiu de quem?
De ninguém. Essa concepção não é uma invenção humana, porque, sempre que se manifestava uma inteligência e se lhe perguntava quem era, ela constantemente respondia ser a alma de uma pessoa que habitara na Terra. Pode, obviamente, parecer ridículo colocar-se alguém diante de uma mesa e acreditar que um dos seus finados parentes venha conversar por meio desse móvel. É isto, porém, uma verdade. (Obra citada, Terceira Parte, Cap. II - As teorias dos incrédulos e o testemunho dos fatos.)
C. Como se explica, no magnetismo, o fenômeno da transmissão do pensamento?
Segundo Delanne, a transmissão do pensamento é um fenômeno que se opera do magnetizador ao magnetizado. Em certos casos, o magnetizador não tem necessidade de enunciar mentalmente sua vontade para se fazer obedecer; basta-lhe pensar e o sonâmbulo executa a ordem que recebeu, ou responde à pergunta que se lhe fez. Estabelece-se, pela ação magnética, uma corrente fluídica entre os dois sistemas nervosos, de sorte que as vibrações emanadas do cérebro do magnetizador impressionam, de maneira sensível, o do magnetizado e lhe fazem nascer no espírito as mesmas ideias do operador. Tal é, pelo menos, a teoria apresentada para esse fato notável. (Obra citada, Terceira Parte, Cap. II - As teorias dos incrédulos e o testemunho dos fatos.)

Observação:
Para acessar a parte 15 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/06/o-espiritismo-perante-ciencia-gabriel_26.html




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