domingo, 13 de setembro de 2020

 


Os desafios da transformação moral

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

De Londrina-PR

 

“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.” (O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XVII, item 4)

 

Esta sentença tão conhecida, mas geralmente incompreendida, contém duas características bem claras e indispensáveis para identificar o verdadeiro espírita. São como dois eixos, um vertical, outro horizontal.

O vertical pode caracterizar a transformação moral, como um simples símbolo. Assim, a transformação moral indicaria o nível do progresso realizado. Quanto mais alto, maior o desenvolvimento do Espírito. Por causa disso, talvez, muitas pessoas se acham excluídas da categoria de verdadeiros espíritas, imaginando que essa “transformação moral” seja algo extraordinário. Mas não é assim. Acontece como uma mãe que observa seu filho e diz: “Meu filho está mais paciente depois que começou a frequentar a igreja.” Esse “estar mais paciente” é transformação moral.

O eixo horizontal indica o progresso realizado segundo o tempo. Um processo paulatino, constante, de todos os dias. É nesse eixo que está a assertiva “pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más”. Há aqui, novamente, um equívoco que fica evidente quando muitas pessoas dizem, em vez de “domar”, “vencer”. Domar uma má inclinação é bem diferente de vencê-la. O segredo da compreensão desta sentença é o verbo domar.

Emmanuel nos diz que é “imprescindível renunciarmos aos nossos pequenos desejos que nos são peculiares, para alcançar a capacidade de sacrifício que estruturará nossa evolução em mais altos níveis.” Domar/renunciar, vencer/sacrificar.

O inconsciente é aquilo que realmente somos e que geralmente desconhecemos. Para conhecermos a nós mesmos é preciso prestar atenção em nossos atos. Atos comuns, atos de fala e atos em situações singulares. Ele seria como um cavalo selvagem, que cumpre domarmos. Pelo contrário, seríamos causadores de danos a nós mesmos e aos outros, especialmente na esfera íntima. Como bons cavaleiros, depois de verificar os problemas a serem solucionados, nos colocamos no trabalho de domar. Não é tão fácil quanto pode parecer, porque nosso inconsciente quer manifestar-se livremente, buscando sempre a realização de desejos ou de morbidades. Quando finalmente conseguimos domá-lo, ainda assim é ele que nos leva, mas obedecendo ao nosso comando e à direção que lhe indicamos. Percebemos, então, que os desejos continuam os mesmos, mas renunciamos à sua manifestação, e tomamos a energia desses desejos para a construção de atos superiores.

Allan Kardec, trinta anos antes da psicanálise, compreendeu muito bem essa nuança entre domar e vencer. De fato, ainda não somos capazes de vencer nossas más tendências, mas podemos renunciar à sua manifestação.

Aquilo que foi traduzido por quase todos como a origem de nossas tentações com o termo “concupiscência” deveria ser traduzido por “desejos ardentes”, porque vem do verbo latino concupisco (desejar ardentemente), de onde nos viria, no latim tardio, o termo concupiscentia.

A renúncia, como diz Emmanuel, é uma espécie de treino que nos permitirá, no futuro, sacrificar os desejos ruins.

 

 

 

 

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