Os desafios da transformação moral
ASTOLFO
O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
De
Londrina-PR
“Reconhece-se o
verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega
para domar suas inclinações más.” (O
Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XVII, item 4)
Esta
sentença tão conhecida, mas geralmente incompreendida, contém duas
características bem claras e indispensáveis para identificar o verdadeiro
espírita. São como dois eixos, um vertical, outro horizontal.
O
vertical pode caracterizar a transformação moral, como um simples símbolo.
Assim, a transformação moral indicaria o nível do progresso realizado. Quanto
mais alto, maior o desenvolvimento do Espírito. Por causa disso, talvez, muitas
pessoas se acham excluídas da categoria de verdadeiros espíritas, imaginando
que essa “transformação moral” seja algo extraordinário. Mas não é assim.
Acontece como uma mãe que observa seu filho e diz: “Meu filho está mais
paciente depois que começou a frequentar a igreja.” Esse “estar mais paciente”
é transformação moral.
O
eixo horizontal indica o progresso realizado segundo o tempo. Um processo
paulatino, constante, de todos os dias. É nesse eixo que está a assertiva
“pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más”. Há aqui,
novamente, um equívoco que fica evidente quando muitas pessoas dizem, em vez de
“domar”, “vencer”. Domar uma má inclinação é bem diferente de vencê-la. O
segredo da compreensão desta sentença é o verbo domar.
Emmanuel
nos diz que é “imprescindível renunciarmos aos nossos pequenos desejos que nos
são peculiares, para alcançar a capacidade de sacrifício que estruturará nossa
evolução em mais altos níveis.” Domar/renunciar, vencer/sacrificar.
O
inconsciente é aquilo que realmente somos e que geralmente desconhecemos. Para
conhecermos a nós mesmos é preciso prestar atenção em nossos atos. Atos comuns,
atos de fala e atos em situações singulares. Ele seria como um cavalo selvagem,
que cumpre domarmos. Pelo contrário, seríamos causadores de danos a nós mesmos
e aos outros, especialmente na esfera íntima. Como bons cavaleiros, depois de
verificar os problemas a serem solucionados, nos colocamos no trabalho de
domar. Não é tão fácil quanto pode parecer, porque nosso inconsciente quer
manifestar-se livremente, buscando sempre a realização de desejos ou de
morbidades. Quando finalmente conseguimos domá-lo, ainda assim é ele que nos
leva, mas obedecendo ao nosso comando e à direção que lhe indicamos. Percebemos,
então, que os desejos continuam os mesmos, mas renunciamos à sua manifestação,
e tomamos a energia desses desejos para a construção de atos superiores.
Allan
Kardec, trinta anos antes da psicanálise, compreendeu muito bem essa nuança
entre domar e vencer. De fato, ainda não somos capazes de vencer nossas más
tendências, mas podemos renunciar à sua manifestação.
Aquilo
que foi traduzido por quase todos como a origem de nossas tentações com o termo
“concupiscência” deveria ser traduzido por “desejos ardentes”, porque vem do
verbo latino concupisco (desejar
ardentemente), de onde nos viria, no latim tardio, o termo concupiscentia.
A
renúncia, como diz Emmanuel, é uma espécie de treino que nos permitirá, no
futuro, sacrificar os desejos ruins.
Como consultar as matérias deste
blog? Se você não conhece a estrutura deste blog, clique neste link: https://goo.gl/ZCUsF8, e verá como utilizá-lo. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário