quinta-feira, 10 de setembro de 2020



O Livro dos Médiuns

Allan Kardec

Parte 13

Continuamos o estudo metódico de “O Livro dos Médiuns”, de Allan Kardec, segunda das obras que compõem o Pentateuco Kardequiano, cuja primeira edição foi publicada em 1861.
Este estudo é publicado sempre às quintas-feiras.
Eis as questões de hoje:

97. Qual é o maior escolho da mediunidade?
A obsessão, isto é, o império que alguns Espíritos conseguem exercer sobre certas pessoas. A obsessão se dá pelo desejo dos Espíritos inferiores, que procuram dominar sua vítima. [1] Os bons Espíritos não usam de nenhum constrangimento; aconselham, combatem a influência dos maus e, se não são ouvidos, retiram-se. Os maus, ao contrário, agarram-se ao que lhes oferece facilidades; se conseguem dominar alguém, identificam-se com seu Espírito e o conduzem como a uma verdadeira criança. (O Livro dos Médiuns, item 237.)
98. Quais são as principais variedades de obsessão?
A obsessão simples, a fascinação e a subjugação.
A obsessão simples tem lugar quando um Espírito mau se impõe a um médium, imiscui-se contra a vontade dele nas comunicações que recebe, impede-o de comunicar-se com outros Espíritos e substitui os que são evocados.
A fascinação é uma ilusão produzida pela ação direta do Espírito sobre o pensamento do médium e que paralisa de alguma sorte seu julgamento a respeito das comunicações. O médium fascinado não se julga enganado: o Espírito tem a arte de lhe inspirar uma confiança cega que o impede de ver o embuste e de compreender o absurdo que escreve, ainda mesmo que ele salte aos olhos de todos; a ilusão pode mesmo fazê-lo ver o sublime na mais ridícula linguagem.
A subjugação é uma pressão que paralisa a vontade de quem a sofre e o faz agir contra sua vontade. A pessoa fica sob um verdadeiro jugo, que pode ser moral ou corporal, levando às vezes a pessoa obsidiada a praticar os mais ridículos atos. (Obra citada, itens 238 a 240.)
99. Como podemos reconhecer a ocorrência da obsessão?
A obsessão apresenta os característicos seguintes: persistência de um Espírito em comunicar-se, quer o médium queira, quer não, pela escrita, pela audição, pela tiptologia etc., impedindo que outros Espíritos possam fazê-lo; ilusão que, não obstante a inteligência do médium, impede-o de reconhecer a falsidade e o ridículo das comunicações recebidas; crença na infalibilidade e na identidade absoluta dos Espíritos que se comunicam e que, sob nomes respeitáveis e veneráveis, dizem coisas falsas ou absurdas; confiança do médium nos elogios que lhe fazem os Espíritos que se comunicam por ele; disposição de se afastar das pessoas que lhe podem dar úteis avisos; tomar por mal a crítica a respeito das comunicações que recebe; desejo incessante e inoportuno de escrever; sujeição física qualquer dominando a vontade e forçando o médium a agir ou a falar contra sua vontade; barulhos e movimentos persistentes ao redor do indivíduo e dos quais ele é a causa ou o objeto. (Obra citada, item 243.)
100. Quais são as causas da obsessão?
As causas da obsessão variam segundo o caráter do Espírito: é às vezes uma vingança que ele exerce sobre um indivíduo do qual teve do que se queixar durante sua vida ou numa outra existência; frequentemente o motivo é apenas o desejo de fazer o mal, porque, se ele sofre, experimenta uma espécie de gozo em fazer sofrer os outros, em atormentá-los, em vexá-los. Assim, a impaciência que a vítima demonstra estimula-o, porquanto, irritando-o e demonstrando despeito, a vítima faz exatamente o que o Espírito quer. Outros agem por ódio e por inveja ao bem; eis por que dirigem seus olhares maléficos sobre as pessoas honradas. Há, por fim, os que assim agem movidos por um sentimento de covardia, que os leva a aproveitar-se da fraqueza moral de certos indivíduos que eles sabem incapazes de lhes resistir. Deve-se acrescentar a essa lista os Espíritos obsessores sem maldade, que possuem mesmo algo de bom, mas que têm o orgulho do falso saber e, devido a isto, buscam médiuns bastante crédulos para aceitá-los de olhos fechados, a quem fascinam impedindo-os de discernirem o verdadeiro do falso. A vingança constitui, no entanto, a causa mais comum dos fenômenos obsessivos. (Obra citada, itens 245 e 246.)
101. Como ocorre a subjugação obsessional?
Como se fosse um manto jogado sobre o indivíduo, a subjugação corporal tira frequentemente a energia do obsidiado, que é necessária para dominar os maus Espíritos; por isso, nesses casos, é preciso a intervenção de uma terceira pessoa que aja pelo magnetismo ou pela força de sua vontade, para aliviar o enfermo. Forma aguda do fenômeno obsessivo, a subjugação é uma pressão que paralisa a vontade de quem a sofre e o faz agir contra suas próprias ideias. O jugo corporal significa que o Espírito desencarnado age sobre os órgãos materiais do obsidiado, levando-o a provocar movimentos involuntários, mesmo nos mais inoportunos momentos. (Obra citada, itens 240 e 251.)
102. A subjugação pode dar causa à loucura?
Levada a um determinado grau, a subjugação corporal pode dar causa a uma espécie de loucura cuja causa é ignorada no mundo, mas que não tem relação com a loucura comum. Entre os tratados por loucos há muitos que são apenas subjugados; precisariam de um tratamento moral, enquanto que ficam loucos de verdade com os tratamentos corporais. Quando os médicos conhecerem bem o Espiritismo, saberão fazer esta distinção e curarão mais doentes do que as duchas. (Obra citada, item 254, parágrafo 6.)
103. Para se ter ascendência sobre os Espíritos inferiores, qual é a condição necessária?
Exerce-se o ascendente sobre os Espíritos inferiores pela superioridade moral, unicamente. Os Espíritos perversos sentem seus superiores nos homens de bem. Em face de quem não lhes oponha senão a energia da vontade, espécie de força bruta, eles lutam e frequentemente são mais fortes. A quem não tenha autoridade moral, nem a invocação do nome de Deus exercerá aí qualquer influência. São Luís ensina que o nome de Deus tem influência sobre os Espíritos imperfeitos apenas na boca de quem pode dele se servir com autoridade, pelas suas virtudes. Na boca do homem que não tenha sobre o Espírito nenhuma ascendência moral, é tal nome uma palavra como qualquer outra. (Obra citada, item 279.)
104. Quais são os meios de se combater a obsessão?
Os meios de se combater a obsessão variam conforme o caráter que apresenta.
Na obsessão simples, duas coisas essenciais devem ser feitas: 1ª – provar ao Espírito que não somos seus joguetes e que lhe é impossível enganar-nos; 2ª – cansar sua paciência, mostrando-nos mais pacientes do que ele; se ele estiver bem convencido de que perde seu tempo, acabará por retirar-se, como fazem os importunos a quem não damos ouvidos. O médium ou a vítima da obsessão deve, além disso, fazer um apelo fervoroso a seu protetor espiritual, assim como aos bons Espíritos que lhe são simpáticos e rogar-lhes que o assistam. É conveniente também interromper toda comunicação, desde que reconheçamos que ela provém de um mau Espírito, a fim de não lhe dar o prazer de ser ouvido. Quanto ao Espírito obsessor, por pior que ele seja, é preciso tratá-lo com severidade, mas com benevolência, e vencê-lo pelos bons modos, orando por ele. Moralizando-se, acabará por se corrigir: é uma conversão a empreender, tarefa penosa, ingrata, desencorajadora mesmo, mas cujo mérito reside na dificuldade e na satisfação, se bem cumprida, de se ter trazido ao bom caminho uma alma perdida.
Na fascinação, é preciso convencer o médium ou o indivíduo obsidiado de que ele está iludido, transformando sua obsessão num caso de obsessão simples, o que nem sempre é tarefa fácil, se não for mesmo algumas vezes impossível. Não se pode, com efeito, curar um doente que se obstina em conservar sua doença e nisso se compraz. O fascinado recebe muito mal os conselhos; a crítica o ofende e irrita, e todos que não lhe partilham a admiração lhe caem em antipatia.
Na subjugação corporal, como já foi dito, é preciso que haja intervenção de uma terceira pessoa, que exercerá um predomínio sobre o obsessor. Mas como este predomínio não pode ser senão moral, é dado apenas a uma pessoa moralmente superior ao Espírito exercê-lo, e seu poder será tanto maior quanto maior seja sua superioridade moral. Nesse caso, a ação magnética de um bom magnetizador pode vir utilmente em auxílio do obsidiado. De resto, é sempre bom tomar, por um médium seguro, conselhos de um Espírito superior ou de seu protetor espiritual. Em suma, é preciso entender que não existe nenhum processo material, sobretudo nenhuma fórmula, nenhuma palavra sacramental que tenha o poder de expulsar os Espíritos obsessores. (Obra citada, itens 249 a 251.)

 [1] Importante frisar que Allan Kardec modificou posteriormente seu pensamento acerca do tema possessão, cuja existência ele admitiu depois de publicado O Livro dos Médiuns. Veja a respeito o livro A Gênese, cap. XIV, itens 45 e seguintes.

Observação:
Para acessar a Parte 12 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/09/o-livro-dos-mediuns-allan-kardec-parte.html




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