O Livro dos Médiuns
Allan Kardec
Parte 13
Continuamos o estudo metódico de “O
Livro dos Médiuns”, de Allan Kardec, segunda das obras que compõem o Pentateuco
Kardequiano, cuja primeira edição foi publicada em 1861.
Este estudo é publicado sempre às
quintas-feiras.
Eis as questões de hoje:
97. Qual é o maior
escolho da mediunidade?
A obsessão, isto é, o império que alguns Espíritos conseguem exercer
sobre certas pessoas. A obsessão se dá pelo desejo dos Espíritos inferiores,
que procuram dominar sua vítima. [1] Os bons Espíritos não usam de nenhum
constrangimento; aconselham, combatem a influência dos maus e, se não são
ouvidos, retiram-se. Os maus, ao contrário, agarram-se ao que lhes oferece
facilidades; se conseguem dominar alguém, identificam-se com seu Espírito e o
conduzem como a uma verdadeira criança. (O
Livro dos Médiuns, item 237.)
98. Quais são as
principais variedades de obsessão?
A obsessão simples, a fascinação e a subjugação.
A obsessão simples tem lugar quando um Espírito mau se impõe a um médium,
imiscui-se contra a vontade dele nas comunicações que recebe, impede-o de comunicar-se
com outros Espíritos e substitui os que são evocados.
A fascinação é uma ilusão produzida pela ação direta do Espírito sobre o
pensamento do médium e que paralisa de alguma sorte seu julgamento a respeito
das comunicações. O médium fascinado não se julga enganado: o Espírito tem a
arte de lhe inspirar uma confiança cega que o impede de ver o embuste e de
compreender o absurdo que escreve, ainda mesmo que ele salte aos olhos de
todos; a ilusão pode mesmo fazê-lo ver o sublime na mais ridícula linguagem.
A subjugação é uma pressão que paralisa a vontade de quem a sofre e o faz
agir contra sua vontade. A pessoa fica sob um verdadeiro jugo, que pode ser
moral ou corporal, levando às vezes a pessoa obsidiada a praticar os mais
ridículos atos. (Obra citada, itens 238 a 240.)
99. Como podemos
reconhecer a ocorrência da obsessão?
A obsessão apresenta os característicos seguintes: persistência de um
Espírito em comunicar-se, quer o médium queira, quer não, pela escrita, pela
audição, pela tiptologia etc., impedindo que outros Espíritos possam fazê-lo; ilusão
que, não obstante a inteligência do médium, impede-o de reconhecer a falsidade
e o ridículo das comunicações recebidas; crença na infalibilidade e na
identidade absoluta dos Espíritos que se comunicam e que, sob nomes
respeitáveis e veneráveis, dizem coisas falsas ou absurdas; confiança do médium
nos elogios que lhe fazem os Espíritos que se comunicam por ele; disposição de
se afastar das pessoas que lhe podem dar úteis avisos; tomar por mal a crítica
a respeito das comunicações que recebe; desejo incessante e inoportuno de
escrever; sujeição física qualquer dominando a vontade e forçando o médium a
agir ou a falar contra sua vontade; barulhos e movimentos persistentes ao redor
do indivíduo e dos quais ele é a causa ou o objeto. (Obra citada, item 243.)
100. Quais são as causas
da obsessão?
As causas da obsessão variam segundo o caráter do Espírito: é às vezes
uma vingança que ele exerce sobre um indivíduo do qual teve do que se queixar
durante sua vida ou numa outra existência; frequentemente o motivo é apenas o
desejo de fazer o mal, porque, se ele sofre, experimenta uma espécie de gozo em
fazer sofrer os outros, em atormentá-los, em vexá-los. Assim, a impaciência que
a vítima demonstra estimula-o, porquanto, irritando-o e demonstrando despeito,
a vítima faz exatamente o que o Espírito quer. Outros agem por ódio e por
inveja ao bem; eis por que dirigem seus olhares maléficos sobre as pessoas
honradas. Há, por fim, os que assim agem movidos por um sentimento de covardia,
que os leva a aproveitar-se da fraqueza moral de certos indivíduos que eles
sabem incapazes de lhes resistir. Deve-se acrescentar a essa lista os Espíritos
obsessores sem maldade, que possuem mesmo algo de bom, mas que têm o orgulho do
falso saber e, devido a isto, buscam médiuns bastante crédulos para aceitá-los
de olhos fechados, a quem fascinam impedindo-os de discernirem o verdadeiro do
falso. A vingança constitui, no entanto, a causa mais comum dos fenômenos
obsessivos. (Obra citada, itens 245 e 246.)
101. Como ocorre a
subjugação obsessional?
Como se fosse um manto jogado sobre o indivíduo, a subjugação corporal
tira frequentemente a energia do obsidiado, que é necessária para dominar os
maus Espíritos; por isso, nesses casos, é preciso a intervenção de uma terceira
pessoa que aja pelo magnetismo ou pela força de sua vontade, para aliviar o
enfermo. Forma aguda do fenômeno obsessivo, a subjugação é uma pressão que
paralisa a vontade de quem a sofre e o faz agir contra suas próprias ideias. O
jugo corporal significa que o Espírito desencarnado age sobre os órgãos materiais
do obsidiado, levando-o a provocar movimentos involuntários, mesmo nos mais
inoportunos momentos. (Obra citada, itens 240 e 251.)
102. A subjugação pode
dar causa à loucura?
Levada a um determinado grau, a subjugação corporal pode dar causa a uma
espécie de loucura cuja causa é ignorada no mundo, mas que não tem relação com
a loucura comum. Entre os tratados por loucos há muitos que são apenas
subjugados; precisariam de um tratamento moral, enquanto que ficam loucos de
verdade com os tratamentos corporais. Quando os médicos conhecerem bem o
Espiritismo, saberão fazer esta distinção e curarão mais doentes do que as
duchas. (Obra citada, item 254, parágrafo 6.)
103. Para se ter
ascendência sobre os Espíritos inferiores, qual é a condição necessária?
Exerce-se o ascendente sobre os Espíritos inferiores pela superioridade
moral, unicamente. Os Espíritos perversos sentem seus superiores nos homens de
bem. Em face de quem não lhes oponha senão a energia da vontade, espécie de
força bruta, eles lutam e frequentemente são mais fortes. A quem não tenha
autoridade moral, nem a invocação do nome de Deus exercerá aí qualquer
influência. São Luís ensina que o nome de Deus tem influência sobre os
Espíritos imperfeitos apenas na boca de quem pode dele se servir com
autoridade, pelas suas virtudes. Na boca do homem que não tenha sobre o
Espírito nenhuma ascendência moral, é tal nome uma palavra como qualquer outra.
(Obra citada, item 279.)
104. Quais são os meios
de se combater a obsessão?
Os meios de se combater a obsessão variam conforme o caráter que
apresenta.
Na obsessão simples, duas coisas essenciais devem ser feitas: 1ª – provar
ao Espírito que não somos seus joguetes e que lhe é impossível enganar-nos; 2ª –
cansar sua paciência, mostrando-nos mais pacientes do que ele; se ele estiver
bem convencido de que perde seu tempo, acabará por retirar-se, como fazem os
importunos a quem não damos ouvidos. O médium ou a vítima da obsessão deve,
além disso, fazer um apelo fervoroso a seu protetor espiritual, assim como aos
bons Espíritos que lhe são simpáticos e rogar-lhes que o assistam. É
conveniente também interromper toda comunicação, desde que reconheçamos que ela
provém de um mau Espírito, a fim de não lhe dar o prazer de ser ouvido. Quanto
ao Espírito obsessor, por pior que ele seja, é preciso tratá-lo com severidade,
mas com benevolência, e vencê-lo pelos bons modos, orando por ele.
Moralizando-se, acabará por se corrigir: é uma conversão a empreender, tarefa
penosa, ingrata, desencorajadora mesmo, mas cujo mérito reside na dificuldade e
na satisfação, se bem cumprida, de se ter trazido ao bom caminho uma alma
perdida.
Na fascinação, é preciso convencer o médium ou o indivíduo obsidiado de
que ele está iludido, transformando sua obsessão num caso de obsessão simples,
o que nem sempre é tarefa fácil, se não for mesmo algumas vezes impossível. Não
se pode, com efeito, curar um doente que se obstina em conservar sua doença e
nisso se compraz. O fascinado recebe muito mal os conselhos; a crítica o ofende
e irrita, e todos que não lhe partilham a admiração lhe caem em antipatia.
Na subjugação corporal, como já foi dito, é preciso que haja intervenção
de uma terceira pessoa, que exercerá um predomínio sobre o obsessor. Mas como
este predomínio não pode ser senão moral, é dado apenas a uma pessoa moralmente
superior ao Espírito exercê-lo, e seu poder será tanto maior quanto maior seja
sua superioridade moral. Nesse caso, a ação magnética de um bom magnetizador
pode vir utilmente em auxílio do obsidiado. De resto, é sempre bom tomar, por
um médium seguro, conselhos de um Espírito superior ou de seu protetor
espiritual. Em suma, é preciso entender que não existe nenhum processo
material, sobretudo nenhuma fórmula, nenhuma palavra sacramental que tenha o
poder de expulsar os Espíritos obsessores. (Obra citada, itens 249 a 251.)
[1] Importante frisar que Allan Kardec
modificou posteriormente seu pensamento acerca do tema possessão, cuja
existência ele admitiu depois de publicado O
Livro dos Médiuns. Veja a respeito o livro A Gênese, cap. XIV, itens 45 e seguintes.
Observação:
Para acessar a Parte 12 deste estudo, publicada na semana passada,
clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/09/o-livro-dos-mediuns-allan-kardec-parte.html
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