A vida é justa
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Fiquei curioso em assistir a um
programa de TV, há poucos dias, intitulado A vida não é justa, que também
é o título do livro duma juíza de direito. Disse esta que muitas pessoas, mesmo
se esforçando na prática do bem, se dão mal na vida; e, muitas vezes, quem faz
o mal se dá bem. Visão unilateral da vida, como veremos mais adiante...
Os três comentaristas do programa
defenderam a ideia dum professor de Direito da Fundação Getúlio Vargas, situada
no Rio de Janeiro, de que as instituições, entre as quais o Judiciário,
discriminam os negros, os pobres e as mulheres. Então, disseram que é preciso
haver mais heterogeneidade na ocupação das funções socioeconômicas.
Num dado momento, foi informado o resultado da
seguinte pergunta feita a populares: Que é justiça para você?
Uma das pessoas entrevistadas disse que
a pergunta é interessante, mas é difícil encontrar uma só resposta para
ela.
A autora do livro temático discutido no
programa, consultada novamente, refletiu sobre a difícil questão do fim do amor
entre duas pessoas e da dificuldade em decidir o que seja justo ou injusto
nesses casos, quando um relacionamento, que já fora baseado no amor, acaba em
separação judicial. Em nosso juízo, o motivo disso é que ainda não aprendemos a
distinguir paixão de amor, pois, quando este prevalece, o prazer de estar junto
doutrem sempre se renova.
Também foram mostradas cenas dum filme
intitulado Luta por justiça, em que cinco garotos negros foram
condenados por estupro que não praticaram. A ideia aí era criticar o
preconceito racial como base duma das maiores injustiças no mundo.
Perguntou-se novamente ao professor: —
Como o Estado ou as pessoas podem tornar a sociedade mais justa? Sua resposta foi lembrar o que está contido
na Constituição brasileira: direitos iguais para todos à educação, à saúde, ao
acesso à justiça. Moradia, saneamento básico...
Sou carioca e morei no Rio de Janeiro
até os 22 anos de idade. Na época, 1974, pude assistir in loco ao que
Machado de Assis, um século antes, via e ironizava: a política servindo como
cabide de empregos e favorecimento aos "donos do poder". Nesse tempo,
ainda havia um certo respeito pelo policial. Com o passar dos anos, tudo piorou
muito. Haja vista o aumento da migração de
pessoas pobres para os morros, a facilidade na aquisição de drogas e armas,
acrescida do descaso do poder público com as classes vulneráveis economicamente.
Com isso, cresceram a revolta e a violência...
Outra proposta do trio televisivo foi a
de analisar bem em quem votar e também pensar no papel que a pessoa vai exercer
na sociedade. Por fim, foi recomendado assistir ao filme Luta por justiça
e a ler outro livro, intitulado Justiça, além da obra que foi tema do
programa. Como vemos, "receitas prontas" não nos faltam...
Não será a chamada "velha
política" do "toma lá, dá cá" que resolverá os problemas das
injustiças sociais, mas sim o entendimento de que tudo o que nos acontece, de
bom ou de mau, é proveniente de nossos pensamentos, palavras e atos, como
espíritos eternos que somos. Daí entendermos que, como "o amor cobre a
multidão de pecados", nas palavras do Apóstolo Pedro (I Pedro,
4:8), somente quando nos libertarmos da prisão do eu e nos vincularmos à
ideia do nós, buscando o bem do próximo e não os seus bens, estaremos
quites com a Justiça Divina.
Os Espíritos ensinam-nos que a Lei de
Deus está em nossa consciência. Nada do que sofremos deixa de ter sua razão de
ser e função educativa. Não é, pois, somente a aplicação das penas da justiça
mundana que corrigirá nossos erros.
Nesse sentido, o conhecimento da
reencarnação é fundamental, como lemos no capítulo 4 d'O Livro dos Espíritos
(LE), intitulado Pluralidade das existências. Esse conhecimento é útil,
tanto à nossa conformação com os nossos sofrimentos ou venturas, como também à
nossa necessidade de agir, cotidianamente, no autoconhecimento e no empenho em
estudar, trabalhar e servir com o objetivo da conquista do justo bem-estar.
A causa dos nossos sofrimentos está em
nosso afastamento voluntário das Leis Divinas, em especial a de
"justiça, amor e caridade" (LE, cap. 11), pois o amor caminha lado a
lado com a Justiça Divina. Não à toa, disse Jó, 34:11, repetiu Jesus, em
Mateus, 16:27, o que Paulo diria aos Romanos, 2:6: "A cada
um segundo as suas obras". Quando bem entendermos isso e passarmos a viver
em prol da felicidade de nosso semelhante, a alegria cotidiana nos permitirá
sentir quanto a vida é justa,
pois não há quem faça o bem e não se
sinta bem.
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