sábado, 12 de junho de 2021

 



A vida é justa

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

De Brasília-DF

           

Fiquei curioso em assistir a um programa de TV, há poucos dias, intitulado A vida não é justa, que também é o título do livro duma juíza de direito. Disse esta que muitas pessoas, mesmo se esforçando na prática do bem, se dão mal na vida; e, muitas vezes, quem faz o mal se dá bem. Visão unilateral da vida, como veremos mais adiante...

Os três comentaristas do programa defenderam a ideia dum professor de Direito da Fundação Getúlio Vargas, situada no Rio de Janeiro, de que as instituições, entre as quais o Judiciário, discriminam os negros, os pobres e as mulheres. Então, disseram que é preciso haver mais heterogeneidade na ocupação das funções socioeconômicas. 

 Num dado momento, foi informado o resultado da seguinte pergunta feita a populares: Que é justiça para você?

Uma das pessoas entrevistadas disse que a pergunta é interessante, mas é difícil encontrar uma só resposta para ela. 

A autora do livro temático discutido no programa, consultada novamente, refletiu sobre a difícil questão do fim do amor entre duas pessoas e da dificuldade em decidir o que seja justo ou injusto nesses casos, quando um relacionamento, que já fora baseado no amor, acaba em separação judicial. Em nosso juízo, o motivo disso é que ainda não aprendemos a distinguir paixão de amor, pois, quando este prevalece, o prazer de estar junto doutrem sempre se renova.

Também foram mostradas cenas dum filme intitulado Luta por justiça, em que cinco garotos negros foram condenados por estupro que não praticaram. A ideia aí era criticar o preconceito racial como base duma das maiores injustiças no mundo.

Perguntou-se novamente ao professor: — Como o Estado ou as pessoas podem tornar a sociedade mais justa?  Sua resposta foi lembrar o que está contido na Constituição brasileira: direitos iguais para todos à educação, à saúde, ao acesso à justiça. Moradia, saneamento básico...

Sou carioca e morei no Rio de Janeiro até os 22 anos de idade. Na época, 1974, pude assistir in loco ao que Machado de Assis, um século antes, via e ironizava: a política servindo como cabide de empregos e favorecimento aos "donos do poder". Nesse tempo, ainda havia um certo respeito pelo policial. Com o passar dos anos, tudo piorou muito.  Haja vista o aumento da migração de pessoas pobres para os morros, a facilidade na aquisição de drogas e armas, acrescida do descaso do poder público com as classes vulneráveis economicamente. Com isso, cresceram a revolta e a violência...

Outra proposta do trio televisivo foi a de analisar bem em quem votar e também pensar no papel que a pessoa vai exercer na sociedade. Por fim, foi recomendado assistir ao filme Luta por justiça e a ler outro livro, intitulado Justiça, além da obra que foi tema do programa. Como vemos, "receitas prontas" não nos faltam...

Não será a chamada "velha política" do "toma lá, dá cá" que resolverá os problemas das injustiças sociais, mas sim o entendimento de que tudo o que nos acontece, de bom ou de mau, é proveniente de nossos pensamentos, palavras e atos, como espíritos eternos que somos. Daí entendermos que, como "o amor cobre a multidão de pecados", nas palavras do Apóstolo Pedro (I Pedro, 4:8), somente quando nos libertarmos da prisão do eu e nos vincularmos à ideia do nós, buscando o bem do próximo e não os seus bens, estaremos quites com a Justiça Divina.

Os Espíritos ensinam-nos que a Lei de Deus está em nossa consciência. Nada do que sofremos deixa de ter sua razão de ser e função educativa. Não é, pois, somente a aplicação das penas da justiça mundana que corrigirá nossos erros.

Nesse sentido, o conhecimento da reencarnação é fundamental, como lemos no capítulo 4 d'O Livro dos Espíritos (LE), intitulado Pluralidade das existências. Esse conhecimento é útil, tanto à nossa conformação com os nossos sofrimentos ou venturas, como também à nossa necessidade de agir, cotidianamente, no autoconhecimento e no empenho em estudar, trabalhar e servir com o objetivo da conquista do justo bem-estar.

A causa dos nossos sofrimentos está em nosso afastamento voluntário das Leis Divinas, em especial a de "justiça, amor e caridade" (LE, cap. 11), pois o amor caminha lado a lado com a Justiça Divina. Não à toa, disse , 34:11, repetiu Jesus, em Mateus, 16:27, o que Paulo diria aos Romanos, 2:6: "A cada um segundo as suas obras". Quando bem entendermos isso e passarmos a viver em prol da felicidade de nosso semelhante, a alegria cotidiana nos permitirá sentir quanto a vida é justa, pois não há quem faça o bem e não se sinta bem.

 

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