Fatos Espíritas
William Crookes
Parte 3
Damos prosseguimento nesta edição ao estudo metódico e sequencial do clássico Fatos Espíritas, de William Crookes, obra publicada em 1874, cujo título no original inglês é Researches in the phenomena of the spiritualism.
Nosso propósito é que este estudo
sirva para o leitor como uma forma de iniciação ao estudo dos chamados
Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas
encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Que disse William Crookes a respeito do local e do
horário mais convenientes para produção das manifestações?
B. É verdade que Crookes investigou fenômenos ocorridos por
meio da célebre médium Kate Fox?
C. Os movimentos e os ruídos são governados por alguma
inteligência?
Texto para
leitura
39. Um outro erro corrente consiste em
crer que as manifestações só se podem produzir a certas horas e em certos
lugares – em casa do médium, ou em horas combinadas previamente – e partindo
dessa suposição errônea tem-se estabelecido uma analogia entre os fenômenos
chamados espíritas e os passes dos prestidigitadores e mágicos que operam nos
teatros, os quais se cercam de tudo o que pertence à sua arte.
40. Para fazer ver quanto tudo isso
está longe de ser verdadeiro, não tenho necessidade senão de dizer que, afora
algumas raras exceções, as centenas de fatos que me preparo para atestar, para
serem imitados pelos meios físicos ou mecânicos conhecidos, desafiariam a
habilidade de um Houdini, de um Bosco, de um Anderson, protegida por todos os
recursos de máquinas engenhosas e da sua prática de longos anos. Essas centenas
de fatos produziram-se na minha própria casa, nas épocas por mim designadas e
em circunstâncias que excluíam absolutamente o emprego e o auxílio do mais
simples instrumento.
41. Um terceiro erro é este: que o
médium deve escolher a sua roda de amigos e companheiros que podem assistir à
sessão; que esses amigos devem crer firmemente na verdade da doutrina, seja
qual for, que o médium enunciar; que se imponham às pessoas de espírito
investigador condições tais que impeçam completamente toda observação cuidadosa
e facilitem a superstição e a fraude.
42. A isso posso responder afirmando
que, à exceção de alguns casos mui pouco numerosos, compus eu mesmo a minha
roda de amigos, introduzi todos os incrédulos que me convieram, e geralmente
impus condições escolhidas com cuidado por mim mesmo, para evitar toda
possibilidade de fraude.
43. Tendo-me assenhoreado pouco a
pouco de algumas condições que facilitavam a produção dos fenômenos, as minhas
pesquisas foram geralmente coroadas de igual êxito, e mesmo, em muitos casos,
tive êxito superior ao que foi obtido em outras ocasiões onde, em virtude de
falsas ideias sobre a importância de algumas práticas insignificantes, as
condições impostas podiam tornar menos fácil a descoberta da fraude.
44. Disse anteriormente que a
escuridão não é essencial. Entretanto, é fato bem conhecido que, quando a força
é fraca, a luz muito viva exerce uma ação que contraria alguns fenômenos. A
força do Sr. Home é bastante significativa para subjugar essa influência
contrária; assim, ele não admite escuridão nas suas sessões.
45. Afirmo que, exceto duas vezes em
que, para algumas experiências, a luz foi suprimida, tudo que testemunhei foi
produzido por ele em plena claridade. Tive diversas ocasiões de experimentar a
ação da luz provinda de diferentes fontes e de cores variadas: – a luz do Sol,
luz difusa, luar, gás, lâmpada, vela, luz elétrica, luz amarela, homogênea etc.
Os raios que contrariam as manifestações parecem ser os da extremidade do
espectro.
46. Vou, agora, proceder à
classificação dos fenômenos que observei, indo dos mais simples aos mais
complexos, e dando rapidamente, em cada capítulo, uma exposição sumária de
alguns dos fatos que vou expor.
47. Movimento de corpos pesados com
contato, mas sem esforço mecânico – Eis uma das formas mais simples dos
fenômenos que observei. Ela varia em grau, desde o tremor de um aposento e do
seu conteúdo, até a elevação ao ar de um corpo pesado, quando a mão está
colocada em cima.
48. Pode-se objetar que, ao se tocar
uma coisa que está em movimento, é possível empurrá-la, atraí-la ou levantá-la;
provei, por experiência, que em casos numerosos isso não se verifica; mas, a
título de provas, ligo pouca importância a esta classe de fenômenos, e só os
menciono como preliminares de outros movimentos do mesmo gênero, produzidos,
porém, sem contato.
49. Esses movimentos, posso mesmo
dizer, os fenômenos da mesma natureza, são geralmente precedidos de um
resfriamento do ar, todo especial, que chega, algumas vezes, a tornar-se um
vento bem pronunciado. Sob a sua influência vi folhas de papel elevarem-se e o
termômetro baixar de vários graus. Em outras ocasiões, das quais mais tarde
darei pormenores, não notei nenhum movimento real de ar, mas o frio foi tão
intenso que só posso compará-lo ao que se sente quando se tem a mão a algumas
polegadas do mercúrio gelado.
50. Fenômeno de percussão e outros
sons da mesma natureza – O nome popular de pancadas dá uma ideia muito falsa
desse gênero de fenômenos. Por diferentes vezes, durante as minhas
experiências, ouvi pancadas delicadas, como produzidas pela ponta de um alfinete;
uma cascata de sons penetrantes como os de qualquer máquina de indução em plena
atividade; detonações no ar, ligeiros ruídos metálicos agudos; estalidos como
os que se ouvem quando uma máquina de fricção está em atividade; sons que
pareciam arranhadelas; gorjeios como os de um pássaro etc.
51. Esses ruídos, que verifiquei com
quase todos os médiuns, têm cada um sua particularidade especial. Com o Sr.
Home, são mais variados; mas, quanto à força e regularidade, não encontrei
absolutamente ninguém que pudesse aproximar-se da Sra. Kate Fox.
52. Durante vários meses tive o prazer
de, em inúmeras ocasiões, verificar os fenômenos variados que se produziam em
presença dessa senhora, e foram esses ruídos que especialmente estudei. É
geralmente necessário, com os outros médiuns, para uma sessão regular, que
todos fiquem sentados e em silêncio, mas com a Sra. Fox parece-lhe simplesmente
necessário colocar a mão sobre qualquer parte, para que sons ruidosos aí se
façam ouvir, como que triplo choque, e algumas vezes com bastante força para
serem ouvidos através de vários aposentos.
53. Ouvi-os assim produzirem-se em uma
árvore, num grande quadro de vidro, em um arame esticado, numa membrana
distendida, em um tamboril, sobre a cobertura de uma carruagem e no tablado de
um teatro. Ainda mais, o contato imediato nem sempre é necessário; ouvi esses
ruídos saírem do soalho, das paredes etc., quando a médium tinha as mãos e os
pés ligados, quando estava em pé sobre uma cadeira, quando se achava em uma
balança suspensa do teto, quando estava encerrada em uma gaiola de ferro e
quando em letargia numa poltrona. Ouvi-os sobre os vidros de uma harmônica,
senti-os sobre os meus próprios ombros e sob as minhas mãos. Ouvi-os sobre uma
folha de papel segura entre os meus dedos, por uma extremidade de fio passado
num canto dessa folha.
54. Com pleno conhecimento das
numerosas teorias que foram apresentadas antes, sobretudo na América, para
explicar esses sons, experimentei-os de todas as maneiras que pude imaginar,
até não mais ser possível furtar-me à convicção de que eram bem reais e que não
se produziam pela fraude ou por meios mecânicos.
55. Uma questão importante impõe-se à
nossa atenção: esses movimentos e esses ruídos são governados por uma
inteligência? Desde o começo das minhas pesquisas, verifiquei que o poder que
produzia esses fenômenos não era simplesmente uma força cega, mas que uma
inteligência os dirigia, ou pelo menos lhes estava associada; assim os ruídos
de que acabo de falar foram repetidos em número determinado; tornaram-se fortes
ou fracos e, a meu pedido, ressoaram em diferentes lugares; por um vocabulário
de sinais, convencionados previamente, foram respondidas perguntas e dadas
comunicações com maior ou menor exatidão.
56. A inteligência que governa esses
fenômenos é algumas vezes manifestamente inferior à do médium e está muitas
vezes em oposição direta aos seus desejos. Quando se tomava a determinação de
fazer alguma coisa, que não podia ser considerada muito razoável, contínuas
comunicações eram dadas para induzir a refletir de novo.
57. Essa inteligência é, algumas
vezes, de tal caráter, que nos vemos forçados a crer não provenha de nenhuma
das pessoas presentes. Eu poderia dar vários exemplos como prova dessas
alegações, porém, mais tarde, quando tratar da origem dessa inteligência, o
assunto será discutido mais a fundo.
Respostas às
questões preliminares
A. Que disse William Crookes a respeito do local e do horário
mais convenientes para produção das manifestações?
Disse ele que constitui um erro crer
que as manifestações só se podem produzir a certas horas e em certos lugares –
em casa do médium, ou em horas combinadas previamente. Segundo Crookes,
centenas de fatos produziram-se em sua própria casa, nas épocas por ele
designadas e em circunstâncias que excluíam absolutamente o emprego e o auxílio
do mais simples instrumento. (Fatos
Espíritas – Fenômenos espíritas observados por William Crookes.)
B. É verdade que Crookes investigou fenômenos ocorridos por
meio da célebre médium Kate Fox?
Sim. Um dos fenômenos investigados,
tendo como médium Kate Fox, foi por ele chamado de fenômeno de percussão e sons
da mesma natureza. Esses ruídos, que verificou com quase todos os médiuns, têm
cada um sua particularidade especial. Com o Sr. Home, eram mais variados; mas,
quanto à força e regularidade, ele não encontrou absolutamente ninguém que
pudesse aproximar-se da Sra. Kate Fox. Com ela, bastava simplesmente que colocasse
a mão sobre qualquer parte, para que sons ruidosos aí se fizessem ouvir, como
que um triplo choque, e algumas vezes com bastante força para serem ouvidos
através de vários aposentos. (Obra citada – Fenômeno de percussão e outros sons
da mesma natureza.)
C. Os movimentos e os ruídos são governados por alguma
inteligência?
Desde o começo de suas pesquisas,
Crookes verificou que o poder que produzia esses fenômenos não era simplesmente
uma força cega, mas que uma inteligência os dirigia, ou pelo menos lhes estava
associada. Assim os ruídos ouvidos eram repetidos em número determinado;
tornaram-se fortes ou fracos e, a seu pedido, ressoaram em diferentes lugares;
por um vocabulário de sinais, convencionados previamente, foram respondidas
perguntas e dadas comunicações com maior ou menor exatidão. Segundo Crookes, a
inteligência que governava esses fenômenos era algumas vezes manifestamente
inferior à do médium e estava muitas vezes em oposição direta aos seus desejos.
(Obra citada – Fenômeno de percussão e outros sons da mesma natureza.)
Observação:
Para acessar a Parte 2 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/06/blog-post_04.html
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