domingo, 28 de novembro de 2021

 



As crianças não batizadas e seu destino após a morte

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

De Londrina-PR

 

Faz 14 anos e sete meses que foi publicado o documento "A esperança de salvação para bebês que morrem sem serem batizados", no qual a Comissão Teológica Internacional da Igreja Católica considerou inadequado o conceito de limbo.

A palavra limbo – originária do latim limbu, 'orla' – tem vários significados, mas, no âmbito da religião, é o nome que se dava ao lugar onde, segundo a teologia católica posterior ao século XIII, se encontrariam as almas das crianças muito novas que, embora não tivessem alguma culpa pessoal, morreram sem o batismo que as livraria do pecado original.

O texto publicado em abril de 2007 pela Igreja “diz que a graça tem preferência sobre o pecado, e a exclusão de bebês inocentes do céu não parecia refletir o amor especial que Cristo tinha pelas crianças". O documento, de 41 páginas, entendeu que o conceito de limbo refletia uma "visão excessivamente restritiva da salvação". Segundo seus autores, "Deus é piedoso e quer que todos os seres humanos sejam salvos". E aduziram: "Nossa conclusão é que os vários fatores que analisamos fornecem uma base teológica e litúrgica séria para esperar que os bebês não batizados que morrerem sejam salvos".

Em face deste novo entendimento da Igreja, os bebês que morrem sem batismo são considerados inocentes e sua destinação, portanto, passa a ser o céu, verificando-se o mesmo com os chamados infiéis, ou não batizados, desde que tenham levado uma vida justa.

O pensamento acima traz algumas implicações que pouca atenção mereceram dos estudiosos em matéria de religião.

Uma delas diz respeito diretamente ao batismo, conhecido sacramento da Igreja Católica, considerado indispensável para apagar os efeitos do pecado original e as faltas cometidas pela pessoa anteriormente, o qual passa assim a não ser mais condição necessária para a salvação, fato que representa uma evolução do pensamento católico e faz justiça à bondade e à misericórdia de Deus.

Antes disso, sob o pontificado de João Paulo II, o inferno deixara de ser considerado um lugar determinado, para tornar-se, segundo palavras do próprio papa, um estado de espírito. Os anos se sucederam e, com o documento ora em exame, a ideia de limbo deixou também de existir.

A Igreja, contudo, ainda insiste em um equívoco lamentável ao ensinar a seus fiéis que a alma é criada por ocasião da concepção, o que explicaria sua condição de inocência no período da infância, quando sabemos, com base em fatos inúmeros, que a alma de uma criança pode chegar a uma nova existência corpórea trazendo um longo passivo de erros e enganos.

Conforme os ensinamentos espíritas, criada simples e ignorante, a alma tem de passar pela experiência da encarnação para progredir. A perfeição é sua meta, mas o caminho até ela é árduo e longo, o que significa que terá de passar por uma série de existências até que esteja depurada o suficiente para desligar-se em definitivo dos liames materiais.

A Igreja, ao não reconhecer o limbo, avança para uma visão mais justa da vida humana e rompe com o sectarismo que caracteriza a necessidade do batismo para a destinação feliz do homem. Esta nova visão está, além disso, de conformidade com a lógica, porquanto, como sabemos, apenas um terço dos que habitam nosso planeta professa as ideias cristãs, enquanto dois terços as ignoram e, evidentemente, não se submetem ao batismo cristão.

Não sendo batizadas, para onde irão essas pessoas?

Até abril de 2007, segundo a Igreja, não poderiam ir para o céu. Mas, agora, com as novas ideias contidas no documento em exame, sim. Basta que tenham levado uma vida justa.

Aliás, sempre que falarmos em céu e em inferno, lembremo-nos das palavras proferidas pelo saudoso papa João Paulo II.

"Nem o inferno é uma fornalha nem o céu um lugar”, afirmou o papa. “O céu não é o paraíso nas nuvens nem o inferno é aterradora fornalha. O primeiro é uma situação em que existe comunhão com Deus e o segundo é uma situação de rejeição.” (Correio da Manhã, de 29/7/1999.)

 

 

 


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