A Evolução
Anímica
Gabriel Delanne
Parte 5
Damos prosseguimento ao estudo do clássico A Evolução Anímica, de Gabriel Delanne, conforme a 8ª edição da tradução de Manoel Quintão, publicada pela Federação Espírita Brasileira.
Esperamos que este estudo sirva para o leitor como uma
forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do
texto indicado para leitura.
Este estudo é publicado sempre às sextas-feiras.
Questões preliminares
A. Há grandes diferenças entre o homem e o macaco?
B. Aristóteles estava certo quando disse que a natureza não
dá saltos?
C. A alma animal é da mesma natureza que a alma humana?
Texto para
leitura
45. A alma animal – O problema da origem do homem na Terra é difícil de
abordar porque, situados num estágio de civilização avançada, temos a impressão
de que um abismo nos separa dos outros seres. O esplendor de nossos progressos
materiais não deve, porém, obscurecer nossa origem modesta. Ao lado da
civilização vegetam seres degradados que mal poderemos chamar homens. Entre os
selvagens costuma dar-se preeminência aos Diggers, índios repelentes que
habitam cavernas da Serra Nevada e são julgados pelos naturalistas mais
fidedignos como inferiores ao orangotango. Os Tarungares (Papuas da Costa
Oriental) são de um selvagismo inaudito. Antropófagos inveterados, chegam por
vezes a exumar cadáveres a fim de os devorar. O Autor cita, então, um número
grande de tribos que impressionam por sua selvajaria e atraso: os Dokos da
Abissínia; os Weddas do Ceilão; os Boschimans; os selvagens da baía de Motka;
os Kytches e os Latoukas da África; os Aetas das Filipinas. (Págs. 57 a 60)
46. Darwin, na viagem do Beagle,
chegou a espantar-se quando avistou os Fueguinos. “Ao contemplar tais seres –
diz ele –, é difícil acreditar sejam nossos semelhantes e conterrâneos... À
noite, cinco ou seis criaturas dessa espécie, nuas e mal protegidas das
intempéries de um clima horrível, deitam-se no solo úmido, encolhidas sobre si
mesmas e confundidas como verdadeiros brutos.” (Pág. 60)
47. Vemos com esses exemplos como
é insignificante a diferença entre o homem e o macaco. A história natural e a
filosofia revelam que, seja do ponto de vista físico, seja do intelectual, não
há diferença essencial. As diferenças existentes entre o mais inteligente dos
animais – o macaco – e o mais embrutecido dos homens não passam de graduações
ascendentes de um mesmo princípio, que vai progredindo à proporção que anima
organismos mais desenvolvidos. (Pág. 60)
48. Vimos que os elementos
componentes dos tecidos de todos os seres vivos são substancialmente idênticos
na composição. A carne de um animal não se distingue da nossa. O esqueleto dos
vertebrados não varia sensivelmente. A similitude dos organismos do homem e do
animal é tal que, por mais estranho que isso pareça, poder-se-ia conceber um
homem viver com um coração de cavalo ou de cachorro. (N.R.: Embora tenha
escrito esta obra em época anterior aos transplantes de coração, Delanne está
certo: o coração dos babuínos já foi aproveitado em seres humanos.) (Pág. 61)
49. Diariamente as descobertas dos
naturalistas estabelecem sobre bases sólidas esta verdade que Aristóteles
exprimiu: A natureza não dá saltos. Perpétuas transições ocorrem entre os seres
vivos. Do homem ao macaco, deste ao cão, da ave ao réptil, deste ao peixe, do
peixe ao molusco etc., nenhuma passagem é brusca. O que se dá é sempre uma
degradação insensível. Todos os seres se tocam, formam uma cadeia de vida que
só nos parece interrompida porque desconhecemos as formas extintas ou
desaparecidas. Certamente, qualquer pessoa saberá distinguir um gato de uma
roseira, mas, aprofundando sua análise, verá que existem plantas, como as
algas, que se reproduzem por meio de corpúsculos agilíssimos e animais que, no
decurso de sua existência, permanecem imóveis, aparentemente insensíveis. (Pág.
62)
50. Ao homem é impossível viver de
maneira diferente dos outros animais. O sangue lhe circula do mesmo jeito, o ar
é respirado nas mesmas proporções. Os alimentos são da mesma natureza,
transformados nas mesmas vísceras, mediante as mesmas operações químicas. O
nascimento não lhe é fenômeno particular. Nos primeiros períodos de vida, é
impossível distinguir o embrião humano do canino. A monera que haja de produzir
o “rei da criação” é, originalmente, composta de um simples protoplasma, como a
de qualquer vegetal. Em resumo: o homem em nada se distingue do animal e vã é a
tentativa de estabelecer uma linha divisória que lhe permita atribuir-se um
lugar privilegiado na criação. (Págs. 62 e 63)
51. É observando as manifestações
dos indivíduos que podemos conhecer os fenômenos psíquicos ocorrentes no seu
íntimo. Se ele executar atos inteligentes, concluiremos que possui uma
inteligência. Se tais atos forem da mesma índole dos que observamos nos homens,
deduziremos que essa inteligência é similar à da alma humana, uma vez que, na
criação, somente a alma é dotada de inteligência. (Pág. 63)
52. Ora, como os animais possuem
inteligência, instinto e sensibilidade, e considerando o axioma que diz que
todo efeito inteligente tem uma causa inteligente, podemos concluir que a alma
animal é da mesma natureza que a humana, apenas diferenciada no desenvolvimento
gradativo. O Autor relata, então, diversos casos que evidenciam algumas
faculdades dos animais, tais como: atenção, julgamento, raciocínio, associação
de ideias, memória e imaginação. (Págs. 63 a 65)
53. Eis de forma resumida alguns
desses casos: I – Uma raposa que conduzia um ganso apresado, não conseguindo
saltar um muro de 1m20, enfiou o bico do ganso numa frincha do muro, para
depois pegá-lo e seguir seu caminho. II – Um urso do Jardim Zoológico de Viena,
querendo colher um pedaço de pão que flutuava fora da jaula, teve a ideia de
revolver a água com a pata e formar assim uma corrente artificial. III –
Florens revela como dois ursos do Jardim das Plantas perceberam que os bolos
que lhes haviam dado estavam envenenados. IV – Um elefante, vendo que não podia
captar uma moeda posta junto de uma muralha, pôs-se a soprar e assim fez a
moeda rolar até o ponto em que se encontrava. V – Certa vespa transportava a
carcaça de uma mosca quando notou que as asas presas à carcaça dificultavam-lhe
o voo. Ela então cortou as asas da mosca e librou-se mais facilmente com o
despojo. VI – Um canguru lançou-se ao mar para escapar à perseguição de um cão.
Feito isto, aguardou o inimigo que nadava ao seu encontro, agarrou-o e tê-lo-ia
afogado, se o dono não acudisse a socorrê-lo. VII – Torrebianca diz que os
criados de sua casa assavam na lareira algumas castanhas, quando um macaco
passou a cobiçá-las e, impaciente, não vendo como pescá-las sem queimar-se,
atirou-se a um gato sonolento e, agarrando-lhe uma das patas, dela se serviu, à
guisa de bastão, para tirar as castanhas do borralho. Aos miados desesperados
do bichano, todos acorreram, enquanto algoz e vítima debandaram, uma com o seu
furto e outro com a pata queimada. (Págs. 64 e 65)
54. A curiosidade, diz Delanne, é
muito desenvolvida nos animais, mesmo nas espécies menos inteligentes, como os
peixes, os lagartos e as calhandras (espécie de cotovia). Ela cresce nos patos
selvagens, nos cabritos monteses, nas vacas e se mostra irresistível nos
macacos, indiciando uma característica da curiosidade humana, o desejo de
compreender, de penetrar o sentido das coisas. O macaco possui a faculdade de
“exame atento”, chegando mesmo a esquecer o alimento e tudo que o rodeia quando
busca examinar um objeto. (Pág. 66)
55. O amor-próprio é observado no
cão, no elefante e no cavalo de corrida, que é suscetível de emulação e
experimenta o orgulho da vitória. É sintomático o caso de Forster que, depois
de um longo período de invencibilidade, ao ver-se uma vez na iminência de ser
batido por Elèphant, já perto do poste de chegada, precipitou-se num salto
desesperado e agarrou com os dentes o rival, no intuito de evitar uma derrota
jamais conhecida. M. Romanes relata, a propósito, um fato interessante. Divertia-se
seu cão a caçar moscas que pousavam na vidraça. Como muitas se escapassem,
Romanes entrou a chacotear, esboçando um sorriso irônico a cada insucesso. Foi
quanto bastou para deixar envergonhado o cão, que fingiu, de repente, ter
apanhado uma mosca, esmagando-a de encontro ao solo. Romanes percebeu e,
verberando-lhe a impostura, viu que o cão saiu a ocultar-se sob os móveis,
duplamente envergonhado. (Págs. 66 e 67) (Continua no próximo
número.)
Respostas às
questões preliminares
A. Há grandes
diferenças entre o homem e o macaco?
Não. É insignificante a diferença existente entre o homem e
o macaco. A história natural e a filosofia revelam que, seja do ponto de vista
físico, seja do intelectual, não há diferença essencial. As diferenças
existentes entre o mais inteligente dos animais – o macaco – e o mais
embrutecido dos homens não passam de graduações ascendentes de um mesmo
princípio, que vai progredindo à proporção que anima organismos mais
desenvolvidos. (A Evolução Anímica,
pág. 60.)
B. Aristóteles
estava certo quando disse que a natureza não dá saltos?
Sim. Diariamente as descobertas dos naturalistas
estabelecem sobre bases sólidas esta verdade que o grande filósofo exprimiu: A
natureza não dá saltos. Perpétuas transições ocorrem entre os seres vivos. Do
homem ao macaco, deste ao cão, da ave ao réptil, deste ao peixe, do peixe ao
molusco etc., nenhuma passagem é brusca. O que se dá é sempre uma degradação
insensível. Todos os seres se tocam, formam uma cadeia de vida que só nos
parece interrompida porque desconhecemos as formas extintas ou desaparecidas.
(Obra citada, pág. 62.)
C. A alma
animal é da mesma natureza que a alma humana?
Sim. Já que os animais possuem inteligência, instinto e
sensibilidade, e considerando o axioma que diz que todo efeito inteligente tem
uma causa inteligente, podemos concluir que a alma animal é da mesma natureza
que a humana, apenas diferenciada no desenvolvimento gradativo. (Obra citada,
pp. 63 a 65.)
Observação:
Para acessar a Parte 4 deste
estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2022/09/blog-post_09.html
Como consultar as matérias deste
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