A Evolução
Anímica
Gabriel Delanne
Parte 6
Damos prosseguimento ao estudo do clássico A Evolução Anímica, de Gabriel Delanne, conforme a 8ª edição da tradução de Manoel Quintão, publicada pela Federação Espírita Brasileira.
Esperamos que este estudo sirva para o leitor como uma
forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do
texto indicado para leitura.
Este estudo é publicado sempre às sextas-feiras.
Questões preliminares
A. Os animais também conseguem comunicar-se entre si?
B. Os diversos graus das manifestações do princípio
pensante são correlativos ao desenvolvimento orgânico das formas?
C. Foi o acaso que gerou as inúmeras espécies vegetais e
animais?
Texto para
leitura
56. Casos de imitação inteligente
– como o ato de abrir fechaduras, de tocar uma campainha, de abrir portas – são
também mencionados pelo Autor, envolvendo chimpanzés, cabras, gatos, cães e
macacos. A faculdade de abstrair, ou seja, de tomar conhecimento dos objetos e
determinar-lhes as qualidades sensíveis, como a cor, a dureza, a espécie, tem
sido verificada também por diversos cientistas, como o naturalista Fisher que,
por meio de engenhosas experiências, observou que os macacos mais inteligentes
possuem a noção do número e sabem avaliar o peso dos objetos. Não é novidade,
diz Delanne, que a pega (ave da família dos corvídeos) pode contar até cinco,
pois quando os caçadores são em número menor ela não voa, até que eles se
afastem. (Págs. 67 e 68)
57. Se a linguagem articulada é
apanágio do homem, sabe-se que os animais da mesma espécie podem comunicar-se
entre si. Darwin nota que nos cães domésticos temos o ladrido da impaciência, o
da cólera, o grunhido ou uivo desesperado do prisioneiro, o da alegria quando
vai a passeio, e finalmente o da súplica. É incontestável que animais como os
elefantes, as formigas, os castores, os cavalos, se compreendem. Algumas vezes
se veem as andorinhas deliberar antes de tomar um roteiro. As faculdades
intelectuais também aumentam com exercícios reiterados, sobretudo nas espécies
que mantêm contacto com o homem. (Págs. 68 e 69)
58. Se fizermos um confronto da
suspensão do desenvolvimento da inteligência humana e o que ocorre com os
animais, ver-se-á que a diferença não é substancial. Quando a função do
espírito é tolhida pela conformação defeituosa do organismo, a alma só pode
manifestar-se pelas formas rudimentares da inteligência. A idiotia é uma prova
disso. Os idiotas completos são reduzidos ao automatismo: inertes, despidos de
sensibilidade, falta-lhes até o instinto animal. Os idiotas de segundo grau têm
instintos, mas a faculdade de comparar, julgar, raciocinar é neles mais ou
menos nula. Os imbecis são os que possuem instintos e determinações
raciocinadas, mas não podem elevar-se a noções quaisquer de ordem geral ou
superior, ficando mais ou menos nivelados aos animais. (Págs. 69 e 70)
59. Se tivermos bem de vista os
fatos retrocitados, a respeito dos selvagens, compreenderemos melhor a marcha
ascendente do princípio pensante, a partir das mais rudimentares formas da
animalidade, até atingir o máximo do seu desenvolvimento no homem. Os povos
primitivos são vestígios que demonstram as fases do processo transformista, mas
tais seres que nos parecem tão degradados são, ainda assim, superiores ao nosso
ancestral da época quaternária, o que nos permite compreender que não existe
diferença essencial entre a alma animal e a nossa. Os diversos graus observados
nas manifestações inteligentes, à medida que remontamos à série dos seres
animados, são correlativos ao desenvolvimento orgânico das formas. (Págs. 70 e
71)
60. Buffon adverte-nos que as aves
representam tudo quanto se passa num lar honesto. Observam a castidade
conjugal, cuidam dos filhos e o casal mostra-se valoroso até ao sacrifício em
se tratando de defender a prole. Não há quem ignore o zelo da galinha na defesa
dos pintainhos. O tigre, o lobo, o gato selvagem, embora ferozes, têm por suas
crias o mais terno afeto. Darwin, Brahm e Leuret citam a respeito exemplos
curiosos. E Leuret afirma que um macaco, cuja fêmea morrera, cuidava solícito
do filhote esquálido e enfermo. À noite, ele o tomava ao colo para adormecê-lo
e, durante o dia, não o perdia de vista um instante. (Pág. 71)
61. Os casos seguintes atestam que
o amor do próximo é sentimento comum aos animais: I – Uma bugia (cinocéfalo,
gênero de macacos de cabeça semelhante à do cão), notável por sua bondade,
chegava a furtar e adotar cachorros e gatos pequenos, que lhe faziam companhia.
Certa vez, um gatinho adotado arranhou-a. Ela, admirada com o fato,
examinou-lhe as patas e, de imediato, com os dentes, aparou-lhe as garras. II –
O sr. Ball relatou na Revue Scientifique o caso de um cão de fila salvo
em um lago congelado por um terra-nova que, notando o seu desespero, decidiu
ajudá-lo. III – Segundo Darwin, havia em Utah um velho pelicano completamente
cego e aliás muito gordo, que devia o seu bem-estar ao tratamento e assistência
dos companheiros. IV – O sr. Blyth afiançou ao notável naturalista ter visto
corvos indígenas alimentando dois ou três companheiros cegos. V – O sr. Burton
refere o caso curioso de um papagaio que tomara a seu cargo uma ave de outra
espécie, raquítica e estropiada, e a defendia de outros papagaios soltos no
jardim. VI – Revela o sr. Gratiolet o caso de um cavalo do antigo regimento de
Beauvilliers, o qual, devido à idade, não mais podia mastigar o feno e a aveia.
Dois outros animais passaram, então, a cuidar dele, retirando o feno da
manjedoura e pondo-o à sua frente, depois de mastigado, procedimento que
repetiam com a aveia, depois de bem triturada. (Págs. 71 a 73)
62. O sentimento do belo, que
muitos imaginam seja apanágio da espécie humana, é cultivado igualmente pelos
animais. Existem aves femininas que são atraídas pela beleza da plumagem dos
machos, tanto quanto por seu canto melodioso. Romanes viu certa vez um galgo
(cão muito utilizado na caça às lebres) acompanhar certa canção com latidos
brandos. O cão do professor Delboeuf acompanhava regularmente com a voz um
contralto na ária de A Favorita. O asseio é modalidade da estética e podemos
assinalá-lo nas aves que limpam o ninho, nos gatos que fazem a sua toalete com
minúcias e, principalmente, nos macacos. Refere Cuvier o curioso espetáculo das
macacas que conduzem as crias ao banho, as enxugam e secam, dispensando-lhes
tempo e cuidados que muitas crianças invejariam. (Pág. 73)
63. As aves jardineiras da Nova
Guiné, pássaros da família das paradíseas, não se contentam com um simples
ninho, pois constroem, fora da moradia ordinária, verdadeiras casas de recreio,
que se tornam atestados de bom gosto. Há cabanas que atingem dimensões
consideráveis. Há uma espécie que constrói sua casinha colorida de frutos e
conchinhas e outras, como a Amblyornis inornata, que cercam suas casas
de um jardinzinho artificial, feito com musgo disposto em tabuleiros e decorado
com flores constantemente renovadas, bem como frutos de matizes fortes, seixos
e conchas brilhantes. (Págs. 73 e 74)
64. Os sentimentos morais, como o
remorso, o senso moral, a ideia do justo e do injusto, encontram-se, pois, em
gérmen em todos os animais, demonstrando assim que não existe entre a alma do
homem e a do animal mais que uma diferença de graus, tanto do ponto de vista
moral, como do intelectual. O agente imortal que anima os seres é sempre uno e
único. Manifestando-se de início sob as mais rudimentares formas, vai
aperfeiçoando-se pouco a pouco, ao mesmo passo que se eleva na escala dos
seres. Nessa longa evolução, desenvolve as faculdades latentes e as manifesta
de modo mais ou menos idêntico ao nosso, à medida que se aproxima da
Humanidade. (Pág. 74)
65. Assevera o grande naturalista
Agassiz: “A gradação das faculdades morais, nos tipos superiores e no homem, é
tão imperceptível que, para negar aos animais uma certa dose de
responsabilidade e consciência, é preciso exagerar, em demasia, a diferença entre
uns e outro”. Com efeito, se o princípio inteligente que anima os seres
inferiores fosse condenado a permanecer eternamente nessa condição, Deus não
seria justo, porque estaria favorecendo o homem em detrimento das outras
criaturas. (Pág. 75)
66. Os inúmeros avatares, em
milhares de organismos diferentes, devem dotar a alma de todas as forças que
lhe hajam de servir mais tarde. Têm eles por objeto desenvolver o envoltório
fluídico, dar-lhe a plasticidade necessária e fixar nele as leis cada vez mais complexas
que regem as formas vivas. Não foi o acaso que gerou as inumeráveis espécies
animais e vegetais. A inteligência, que tanto lutou para desprender-se de suas
formas inferiores, guarda em si, ainda entorpecida pela viagem através das
formas subalternas, as impressões do instinto e vê diminuir-se pouco a pouco o
egoísmo, pois que no reino animal a maternidade já havia implantado na alma o
sentimento do amor. (Págs. 75 a 77) (Continua no próximo número.)
Respostas às
questões preliminares
A. Os animais
também conseguem comunicar-se entre si?
Evidentemente. Se a linguagem articulada é apanágio do
homem, sabe-se que os animais da mesma espécie podem comunicar-se entre si.
Darwin notou que nos cães domésticos temos o ladrido da impaciência, o da
cólera, o grunhido ou uivo desesperado do prisioneiro, o da alegria quando vai
a passeio, e finalmente o da súplica. É incontestável que animais como os
elefantes, as formigas, os castores, os cavalos, se compreendem. Algumas vezes
se veem as andorinhas deliberar antes de tomar um roteiro. As faculdades
intelectuais também aumentam com exercícios reiterados, sobretudo nas espécies
que mantêm contacto com o homem. (A
Evolução Anímica, pp. 68 e 69.)
B. Os diversos
graus das manifestações do princípio pensante são correlativos ao
desenvolvimento orgânico das formas?
Sim. Os povos primitivos são vestígios que demonstram as
fases do processo transformista, mas esses seres, que nos parecem tão
degradados, são, ainda assim, superiores ao nosso ancestral da época
quaternária, o que nos permite compreender que não existe diferença essencial
entre a alma animal e a nossa e que os diversos graus observados nas
manifestações inteligentes, à medida que remontamos à série dos seres animados,
são correlativos ao desenvolvimento orgânico das formas. (Obra citada, pp. 70 e
71.)
C. Foi o acaso
que gerou as inúmeras espécies vegetais e animais?
Não. Foram os inúmeros avatares, em milhares de organismos
diferentes, que dotaram a alma de todas as forças que lhe haveriam de servir
mais tarde. Tiveram eles por objeto desenvolver o envoltório fluídico, dar-lhe
a plasticidade necessária e fixar nele as leis cada vez mais complexas que
regem as formas vivas. A inteligência, que tanto lutou para desprender-se de
suas formas inferiores, guarda em si as impressões do instinto e vê diminuir-se
pouco a pouco o egoísmo, pois que no reino animal a maternidade já havia
implantado na alma o sentimento do amor. (Obra citada, pp. 75 a 77.)
Observação:
Para acessar a Parte 5 deste
estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2022/09/blog-post_16.html
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