JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília, DF
Alma irmã, na
vida, costumamos associar as grandes questões sociais com nossa experiência
pessoal. Isso me faz lembrar que Allan Kardec esclareceu aos críticos dos
fenômenos mediúnicos e da Doutrina Espírita duas coisas básicas: 1.ª) Para se
formar um médico mediano são necessários anos, mas para ser sábio requer-se
cerca de três quartas partes da vida... Por essa razão, não se concebe que
alguém deseje conhecer a ciência do infinito, que é a Doutrina Espírita, nem
mesmo dedicando-lhe toda uma existência de aprendizado e prática; 2.ª) Quando
conhecemos algo novo para nós, precisamos abster-nos de todos os preconceitos e
de ideias preconcebidas.
Nos tempos agitados
atuais, reconhecemos quanto é difícil convencer-nos sobre o erro do que
acreditamos ser correto. Em especial quando não valorizamos o outro lado da
questão e não atentamos para a idoneidade e veracidade do que ouvimos, lemos ou
assistimos. Os melindres e o amor-próprio fazem com que, mesmo provado o erro, nos
mantenhamos nele, salvo exceções... Por isso defendemos uma visão holística do
mundo.
Nos dias de
estudos acadêmicos, mesmo já estando formado em algumas áreas do conhecimento,
convivi em sala de aula com uma colega jornalista que salvou uma edição de uma
de minhas obras. Na aula da semana seguinte, após comprar o livro, a Aline
Menezes, cujo nome faço questão de registrar aqui, por sua atitude nobre,
alertou-me de que o livro fora impresso com várias folhas trocadas.
Imediatamente, após agradecer à colega sua informação, entrei em contato com a
editora, que recolheu e substituiu a impressão defeituosa.
O que também
aprendi com a Aline é que não devemos ter por parâmetro único nossa experiência
de vida na análise do que ocorre na sociedade. Tomo como exemplo os próprios
conhecimentos acadêmicos. Não é porque alguém seja profundo conhecedor duma área
do conhecimento que tenha autoridade em tudo que diz ou escreve. Houve um tempo
em que julguei ser o conteúdo a qualidade principal dum texto; mais
amadurecido, percebi que um belo conteúdo numa péssima forma causa má impressão
e dúvidas que o autor, estando ausente, não nos pode esclarecer.
Se escrevo uma
redação com excelentes ideias próprias, mas com frases ambíguas e erros gramaticais
diversos, o conteúdo não ficará claro para quem lê. É bem verdade que os
comerciais costumam fazer uso da ambiguidade do texto para chamar a atenção de
quem lê, com o objetivo de vender ou comprar algo. Quando passo correndo ou de
carro em direção à cidade brasiliense de Sobradinho, sempre avisto um outdoor
com esta frase e telefone abaixo dela: “Fernanda vende seu imóvel”. O imóvel
que ela vende é dela ou nosso? Apesar do duplo sentido, quem lê o cartaz
entende que foi idealizado por uma corretora interessada em vender ou comprar o
imóvel de algum cliente que ligue para ela. A ambiguidade ali parece ser
proposital, como ocorre, por vezes, em manchetes jornalísticas.
Voltando à questão
das opiniões de alguém com ideias próprias, cheguei à conclusão de que a Aline
está com toda a razão quando afirma que não temos o direito de impor nossa
visão de mundo a ninguém, com base em nossas próprias experiências. Podemos,
sim, expor nossa opinião abalizada a alguém, mas se essa pessoa possui outras
ideias, mesmo sem base, não podemos obrigá-la a aceitar nossos argumentos.
Kardec parafraseou
o ditado popular: “Dize-me com quem andas e eu te direi quem és” deste modo:
“Dize-me o que pensas e eu te direi em que companhia espiritual tu estás”. E no
item 12 da introdução d’O Livro dos Espíritos lemos isto: “A experiência
nos ensina que os Espíritos da mesma categoria, do mesmo caráter e possuídos
dos mesmos sentimentos formam grupos e famílias”. Ou seja, nossos pensamentos
revelam nossas companhias espirituais, sejam elas dos encarnados ou dos
espíritos.
Convencer alguém
sobre algo de que discorda é tão difícil que, mesmo no mundo espiritual, os
benfeitores desencarnados são confrontados pelos obsessores que buscam fazer
justiça pessoal contra quem odeiam. Cito o exemplo do caso narrado por Manoel
Philomeno de Miranda, no capítulo 5 da obra Transição Planetária,
psicografada pelo médium baiano Divaldo Franco. Segundo Miranda, Abdul, membro
de sua equipe, tentava convencer alguns espíritos vingativos sobre o erro dessa
conduta, haja vista que só a Deus compete corrigir-nos, mas “alguns seres
hediondos” continuavam indiferentes à sua fala e ameaçavam o grupo do qual
participavam Abdul e Miranda, o qual conclui que a melhor psicoterapia
utilizada pela vida ainda é o sofrimento.
Quando lemos, em
mensagens de WhatsApp e vídeos, apelos para compartilhar com o maior
número de pessoas uma informação, nosso primeiro sentimento é de incredulidade;
em seguida, após breve análise, deletamos a postagem sem crédito
confiável, pois as disputas políticas despertaram o que de pior existe
no ser humano: a falta de escrúpulos. Em primeiro lugar, tais mensagens não
trazem referências seguras e, quando trazem, não são verdadeiras. Segundo, a
maioria dos vídeos são montagens que enganam até mesmo os mais prevenidos.
Essas são minhas
opiniões, mas nada tenho contra os que são contra, a não ser a certeza de que,
neste mundo, vale a recomendação de Jesus: “Conhecereis a verdade, e a verdade
vos libertará” (João, 8:32). Essa liberdade, como lemos adiante, em
8:36, está em Jesus, nosso modelo maior. Somente estaremos livres da hipocrisia
e do mal quando aprendermos com ele, o Cristo, que é manso e humilde de coração.
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