A Evolução
Anímica
Gabriel Delanne
Parte 16
Damos prosseguimento ao estudo do clássico A Evolução Anímica, de Gabriel Delanne, conforme a 8ª edição da tradução de Manoel Quintão, publicada pela Federação Espírita Brasileira.
Esperamos que este estudo sirva para o leitor como uma
forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do
texto indicado para leitura.
Este estudo é publicado sempre às sextas-feiras.
Questões preliminares
A. Se a obsessão se prolongar por muito tempo, podem daí
surgir desordens físicas?
B. De que forma o perispírito se une ao corpo físico?
C. Onde se radica a memória?
Texto para
leitura
166. Na subjugação, o domínio do
Espírito é completo. O subjugado é um instrumento absolutamente dócil às
sugestões do Espírito. A vontade do obsessor avassalou, substituiu totalmente a
sua vontade. Com mais um pouco, acabará perdendo a noção de si mesmo, passando
a crer-se um personagem célebre, um reformador do mundo; numa palavra,
tornar-se-á louco, pois não é impunemente que a influência perturbadora se
exerce por longo tempo e, uma vez sobrevindo as lesões do cérebro, a moléstia
torna-se incurável. (Pág. 218)
167. Kardec conheceu um homem que,
impelido pelo Espírito obsessor, ajoelhava-se aos pés de todas as moças. Outro
sentia nas costas e nos tornozelos uma pressão tão forte que o levava a
ajoelhar-se e beijar o chão, em plena rua. O hipnotismo veio dar a chave desses
fenômenos. O indivíduo obedece, mais ou menos passivo, a quem o imergiu nesse
estado. Se essa situação se prolonga por semanas, meses, anos, podem surgir
desordens físicas, difíceis de curar, mesmo depois de afastado o obsessor. É
necessário, pois, o tratamento moral do enfermo, coincidente com a intervenção
junto do obsessor, de tal modo que, em muitos casos, se a lesão não for
irremediável, se torna possível restituir ao alienado o seu vigor orgânico e,
com ele, a razão. (Págs. 218 e 219)
168. Importa reconhecer, no
entanto, que a loucura é devida, em muitos casos, a uma lesão do sistema
nervoso e se manifesta em certas fases da vida, provinda dos pais por vias
hereditárias. Em casos assim, não há que presumir se trate de Espíritos
obsessores. Trata-se do próprio organismo viciado, deteriorado, e que, não mais
obedecendo à alma, pode engendrar alucinações radicadas no falseado mecanismo
cerebral. É frequente também a complicação do fenômeno, podendo a
hereditariedade apresentar metamorfoses. Assim, um alcoólatra pode procriar
idiotas, caso em que o encéfalo fica parcialmente destruído por influência do
álcool. Outras vezes, as convulsões dos genitores transmudam-se em histeria ou
epilepsia nos descendentes. (Págs. 219 e 220)
169. Casos assim, diz Delanne, são
abundantes. É que o perispírito não é criador, é simplesmente organizador da
máquina. Ora, se a hereditariedade lhe faculta apenas materiais viciados ou
incompletos, ele é incapaz de os regenerar e sempre restarão partes do cérebro
forradas à sua influência. Vê-se, no entanto, que são as enfermidades e não as
faculdades propriamente ditas que se transmitem por via seminal. O Espírito, ao
encarnar-se, traz consigo as aquisições de vidas anteriores, mas é preciso ter
em conta as disposições orgânicas, que podem ser favoráveis ou prejudiciais ao
desenvolvimento de suas faculdades inatas. Dr. Moreau, de Tours, que não admite
a hereditariedade senão do ponto de vista fisiológico, afirma que é a
transmissão hereditária das falhas orgânicas que produz as moléstias mentais
nos descendentes. (Págs. 220 e 221)
170. Acreditamos, diz Delanne, na
independência constitutiva da alma e dizemos que ela não adoece jamais e que
somente não pode manifestar suas faculdades num corpo mal aparelhado, a que
faltem elementos indispensáveis ao bom funcionamento do Espírito. Estamos,
pois, com a Ciência, no convir que a loucura resulta, as mais das vezes, de uma
lesão ou perturbação nervosa, transmissível por hereditariedade, mas a nossa
explicação do fenômeno – assevera o autor desta obra – difere totalmente, visto
que a alma é uma entidade independente e sobrevivente à morte. (Págs. 221 e
222)
171. Firmemo-nos bem, diz Delanne,
neste ponto importante para nós outros: 1º – O que prova a reencarnação é que,
por vezes, tendo os pais uma inteligência assaz limitada, os filhos revelam as
mais auspiciosas disposições; 2º – Filhos indignos têm nascido de pais
ilustres; 3º – As raças inferiores podem produzir grandes homens; 4º – É muito
comum observar que, a despeito de grandes semelhanças físicas, os filhos podem,
moralmente, em nada se parecer com os pais. (Pág. 223)
172. Quais as causas dessa
metamorfose? Por qual transmutação misteriosa a natureza extrai o melhor do
pior? Ribot se diz impotente para responder a tais perguntas, que ele considera
questões fora do alcance da ciência atual, mas – diz Delanne – não do
Espiritismo, que as explica com meridiana clareza. As disposições orgânicas
herdadas são vantajosas ou nefastas, e o Espírito, ao encarnar-se, submete-se a
uma família ou escolhe a que lhe permita realizar na Terra as suas aspirações.
Desse modo se explicam as enfermidades terríveis que parecem assaltar tantas
famílias, e que nos levariam a duvidar da Justiça Divina, se o Espiritismo não
aclarasse o porquê da aparente iniquidade. (Págs. 224 e 225)
173. Resumo – Fechando o
cap. V, Delanne resume os pontos principais das lições nele contidas e que
adiante sintetizamos:
I – No momento da encarnação, o
perispírito une-se, molécula a molécula, à matéria do gérmen.
II – Este possui uma força vital
cuja energia, mais ou menos rigorosa, determina a longevidade do indivíduo.
III – É, pois, sob a influência da
força vital que o perispírito desenvolve as suas propriedades funcionais.
IV – O gérmen material contém em
si a impressão indefectível de todos os sucessivos estados do perispírito. A
ideia diretriz que determina a forma está, desse modo, contida no fluido vital.
V – Impregnando-se dele e se
transfundindo nele, o perispírito materializa-se o bastante para tornar-se o
diretor, o regulador, o suporte da energia vital modificada pela
hereditariedade. É também graças a ele que o tipo individual se forma,
desenvolve-se, conserva-se e se destrói.
VI – É ao perispírito que o
Espírito deve a conservação de sua identidade física e moral. A memória é
atributo do invólucro fluídico, ou perispírito.
VII – A alma, com o seu invólucro,
não atinge o período humano senão quando apta para dirigir um corpo humano.
VIII – As afinidades fluídicas têm
grande importância no ato do nascimento.
IX – Os Espíritos não podem
encarnar onde desejam.
X – Todos os seres evoluem por
gradações insensíveis, por transições imperceptíveis. Se quisermos avaliar o
caminho percorrido, basta comparar os extremos de uma série: o selvagem e o
homem civilizado. Veremos, então, a diferença que separa o homem contemporâneo
do seu ancestral quaternário.
XI – As disposições mórbidas são
transmissíveis, constituindo isso uma das mais dolorosas provações.
XII – Sucede, porém, que a loucura
não é, às vezes, real, não se radica no organismo, mas é produzida por Espíritos
obsessores, cuja influência vai da obsessão à subjugação. (Págs. 225 a
227)
174. O Universo – Graças
aos progressos da ciência, sabemos hoje que a Terra não passa de pequeno
planeta caudatário do sistema solar e que mundos outros, em profusão, se estendem
por todas as regiões do espaço. Foi a lente astronômica o primeiro aparelho que
revelou a nossa verdadeira posição no Universo. Galileu mostrou que, em vez de
pontos luminosos, há terras no céu, com seus continentes, atmosferas e
satélites, tal como aqui mesmo. (Págs. 229 e 230)
175. Tudo no Universo nos induz a
crer na eternidade do movimento e da vida. As descobertas astronômicas atestam
que a matéria existe em todos os graus de condensação e que, muito antes da
formação da Terra, as estrelas já fulgiam no firmamento. (Pág. 233)
176. Matéria e espírito –
Se admitirmos que a força é uma maneira de ser, um aspecto da matéria, não
haverá mais que dois elementos distintos no Universo – matéria e espírito –
irredutíveis entre si. O que caracteriza essencialmente o espírito é a
consciência, isto é, o eu, mediante o qual ele se distingue do que não está
nele, isto é, da matéria. Desde as primeiras manifestações vitais, o eu
evidencia a sua existência reagindo, espontaneamente, a uma excitação exterior.
(Pág. 234) (Continua no próximo número.)
Respostas às
questões preliminares
A. Se a obsessão se prolongar por
muito tempo, podem daí surgir desordens físicas?
Sim. Se a
situação se prolongar por semanas, meses, anos, podem surgir desordens físicas
difíceis de curar, mesmo depois de afastado o obsessor. É necessário, pois, o
tratamento moral do enfermo, coincidente com a intervenção junto do obsessor,
de tal modo que, em muitos casos, se a lesão não for irremediável, torna-se
possível restituir ao alienado o seu vigor orgânico e, com ele, a razão. (A Evolução Anímica, pp. 218 e 219.)
B. De que forma o perispírito se une ao corpo físico?
O perispírito une-se à matéria do gérmen, molécula a molécula.
(Obra citada, pp. 225 a 227.)
C. Onde se radica a memória?
A memória é atributo do invólucro fluídico, ou perispírito.
E é a esse invólucro, a que Kardec chama de perispírito, que o Espírito deve a
conservação de sua identidade física e moral. (Obra citada, pp. 225 a
227.)
Observação:
Para acessar a Parte 15 deste estudo, publicada na
semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2022/11/blog-post_25.html
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