O jogo do contente e o movimento espírita
ASTOLFO
O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
De
Londrina-PR
Por
iniciativa de Monteiro Lobato, que a traduziu, chegou até nós, muitas décadas
atrás, a comovente história de Pollyanna, a jovem que procurava manter-se
sempre contente desde o momento em que seu humilde pai, devotado pregador do
Evangelho, lhe disse haver encontrado na Bíblia 800 versículos que nos
recomendam alegria, contentamento, bom ânimo, textos esses presentes não
somente no Novo mas, também, no Antigo Testamento.
Depois
da descoberta, ele disse à filha que se Deus teve – por intermédio de
emissários diversos – o trabalho de nos recomendar a alegria por oitocentas
vezes, é porque desejava que fôssemos sempre alegres. E inventou, em
decorrência disso, o “jogo do contente”, que consiste em encontrar em tudo, em
todas as coisas que nos acontecem, um pretexto para permanecermos alegres e
contentes.
A
história de Pollyanna veio-nos à mente em face de uma carta que recebemos de um
leitor que se disse muito triste pelos rumos que o movimento espírita no Brasil
tem tomado, no qual parece que às vezes damos mais importância à letra do que
ao espírito, como modernos fariseus
reencarnados.
“Amai-vos”,
eis o primeiro ensinamento!
A
frase acima é bem conhecida de todos nós – dirigentes, palestrantes,
escritores, médiuns, jornalistas, coordenadores de grupos ou meros
participantes das Casas Espíritas.
“Instruí-vos”,
eis o segundo.
A
lição ora lembrada figura na parte final de um texto que merece igualmente ser
recordado:
“Sinto-me por demais
tomado de compaixão pelas vossas misérias, pela vossa fraqueza imensa, para
deixar de estender mão socorredora aos infelizes transviados que, vendo o céu,
caem nos abismos do erro. Crede, amai, meditai sobre as coisas que vos são
reveladas; não mistureis o joio com a boa semente, as utopias com as verdades.
Espíritas! amai-vos,
este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo. No Cristianismo
encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se
enraizaram. Eis que do além-túmulo, que julgáveis o nada, vozes vos clamam:
Irmãos! nada perece. Jesus-Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da
impiedade." (O Espírito de Verdade, Paris, 1860, cap. VI, item 5, d´O Evangelho segundo o Espiritismo.)
É
claro que tem havido fatos no movimento espírita que realmente nos entristecem,
mas nenhum deles pode ser pretexto para que ignoremos a necessidade de que o
sentimento do amor, amor verdadeiro, amor sem mácula, amor desinteressado, seja
o ingrediente principal de tudo o que realizamos no movimento espírita.
Agindo
assim será possível – com toda a certeza – adotarmos o exemplo da jovem
Pollyanna e procurarmos destacar nas realizações e atividades de que
participamos o aspecto positivo, o lado nobre, as coisas boas que nos
proporcionem a alegria e o contentamento prescritos por 800 vezes nas
Escrituras, restituindo, desse modo, ao movimento espírita a alegria que em muitas ocasiões lhe tem faltado.
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