O Livro dos Médiuns
Allan Kardec
Parte 19
Continuamos o estudo metódico de “O
Livro dos Médiuns”, de Allan Kardec, segunda das obras que compõem o Pentateuco
Kardequiano. Este estudo é publicado sempre às quintas-feiras.
Caso o leitor queira ter em mãos o
texto consolidado d’ O Livro dos Médiuns,
para acompanhar, pari passu, o presente estudo, sugerimos que clique em http://www.oconsolador.com.br/linkfixo/estudosespiritas/principal.html#ALLAN
e, em seguida, no verbete "O Livro dos Médiuns”.
Eis as questões de hoje:
145. De que nos serve o ensino dos Espíritos, se ele não nos oferece mais certeza do que o ensino humano?
Como sabemos, não aceitamos com igual confiança o ensino de todos os
homens e, entre duas doutrinas, preferimos aquela cujo autor nos parece mais
esclarecido, mais capaz, mais judicioso, menos acessível às paixões. Do mesmo
modo se deve proceder com os Espíritos. Se entre eles há os que não estão acima
da Humanidade, muitos há que a ultrapassaram e estes nos podem dar ensinamentos
que em vão buscaríamos com os homens mais instruídos. Distinguir uns e outros,
eis a tarefa daqueles que desejam esclarecer-se, e o Espiritismo fornece os
meios para isso. Mas mesmo esses ensinamentos têm um limite e, se aos Espíritos
não é dado saber tudo, com mais forte razão isso se verifica relativamente aos
homens. Há coisas, portanto, sobre as quais será inútil interrogar os
Espíritos, seja porque lhes é vedado revelá-las, seja porque eles próprios as ignoram
e a cujo respeito apenas podem expender suas opiniões pessoais. Por último,
devemos compreender que, mesmo nas comunicações de Espíritos vulgares, podemos
colher ensinamentos valiosos, dado que tais Espíritos nos mostram a aplicação
prática das grandes e sublimes verdades cuja teoria é ensinada pelos Espíritos
superiores. O estado feliz ou infeliz do ser desencarnado, suas condições na
vida espiritual, a conservação de sua individualidade, eis situações que o
Espiritismo nos revelou e que nos esclarecem sobre o futuro que nos aguarda a
todos no além-túmulo. (O Livro dos
Médiuns, item 300.)
146. Como devemos tratar
o médium que é vítima de fascinação?
A única coisa a fazer com o médium fascinado é procurar convencê-lo de
que ele está iludido, para assim transformar sua obsessão num caso de
"obsessão simples". Mas isso nem sempre é fácil, e pode ser mesmo
algumas vezes impossível. O predomínio do Espírito pode ser tal que torna o
fascinado surdo a qualquer espécie de raciocínio e pode ir ao ponto de fazê-lo
duvidar, quando o Espírito comete uma grossa heresia científica, se não é a Ciência
que está enganada. Como já dissemos, o fascinado acolhe geralmente muito mal os
conselhos; a crítica o ofende, irrita-o e lhe caem em antipatia aqueles que não
lhe partilham a admiração. Suspeitar de Espírito que o engana é quase uma
profanação a seus olhos e é tudo o que deseja o Espírito. Como não há pior cego
do que aquele que não quer ver, quando reconhecemos a inutilidade de toda
tentativa para abrir os olhos do fascinado, o que há de melhor a fazer é
deixá-lo com suas ilusões. Não podemos curar um doente que se obstina em
conservar sua doença e nisso se compraz. (Obra citada, item 250.)
147. Por que o passe
magnético auxilia no tratamento dos obsidiados?
A razão disso é simples. O que falta às vezes no obsidiado é uma força
fluídica suficiente. Ora, nesse caso a ação magnética de um bom magnetizador
pode vir utilmente em seu auxílio, para lhe permitir a energia necessária para
dominar os maus Espíritos. (Obra citada, item 251.)
148. Na moralização dos
maus Espíritos, qual pode ser a influência dos homens?
O homem não tem certamente mais poder do que os Espíritos superiores, mas
sua linguagem se identifica melhor com a natureza dos Espíritos imperfeitos,
sendo certo, porém, que os ascendentes que o homem pode exercer sobre eles
estão na razão de sua superioridade moral. Por meio de sábios conselhos o homem
poderá levá-los ao arrependimento e apressar seu adiantamento. (Obra citada,
item 254, parágrafo 5.)
149. Qual é, depois da
obsessão, a maior dificuldade que deparamos no Espiritismo prático?
É a questão da identidade dos Espíritos, visto que estes não nos trazem
um cunho indiscutível de identificação. Desse modo, depois da obsessão, é essa
uma das maiores dificuldades da prática espírita. Devemos compreender, no
entanto, que em muitos casos a identidade absoluta do Espírito que se comunica é
uma questão secundária e sem real importância. (Obra citada, item 255.)
150. Quando a identificação
do Espírito comunicante se torna mais fácil?
A identificação é mais fácil de averiguar quando se trata de Espíritos
contemporâneos, dos quais conhecemos o caráter e os hábitos, porque são
precisamente esses hábitos, dos quais ainda não tiveram tempo de se libertar,
que permitem o seu reconhecimento e constituem mesmo um dos sinais mais certos
da identidade. O Espírito pode, sem dúvida, fornecer provas quando lhe pedimos,
mas não o faz sempre, a não ser que lhe convenha, e geralmente esse pedido o
magoa; eis por que devemos evitá-lo. Ao deixar seu corpo, o Espírito não perdeu
a susceptibilidade e, assim, se ofende com toda pergunta que tenha por fim
pô-lo à prova. As provas de identidade surgem, aliás, de uma porção de
circunstâncias imprevistas que não se apresentam sempre à primeira vista, mas
no prosseguimento dos trabalhos. É conveniente, pois, esperá-las sem
provocá-las, observando com cuidado todas as que podem decorrer da natureza das
comunicações. (Obra citada, item 257.)
151. É importante fazermos
a distinção entre bons e maus Espíritos?
Sim. Se a identidade absoluta dos Espíritos é, em muitos casos, uma
questão acessória e sem importância, não acontece o mesmo com a distinção entre
bons e maus Espíritos; a individualidade deles nos pode ser indiferente, mas
não a sua qualidade. Em todas as comunicações instrutivas, eis o ponto para o
qual deve convergir toda a nossa atenção, porque unicamente esta distinção é
que nos pode dar a medida da confiança que podemos atribuir ao Espírito que se
manifesta, qualquer que seja o nome sob o qual se apresente. Julgamos os
Espíritos como julgamos os homens: pela sua linguagem. Suponhamos que um homem
receba vinte cartas de pessoas desconhecidas. Pelo estilo, pelos pensamentos,
por inumeráveis sinais, enfim, julgará as pessoas que são instruídas ou
ignorantes, polidas ou mal-educadas, superficiais, profundas, frívolas,
orgulhosas, sérias, levianas, sentimentais etc. Ocorre o mesmo com os
Espíritos; devemos considerá-los como correspondentes que jamais vimos e
perguntar-nos o que pensaríamos da sabedoria e do caráter de um homem que
dissesse ou escrevesse tais coisas. Podemos ter como regra invariável e sem
exceção que a linguagem dos Espíritos está sempre em relação ao grau de sua
elevação. (Obra citada, itens 262 e 263.)
152. Qual é, segundo
Kardec, o único e infalível meio de se saber a natureza do Espírito
comunicante?
Submetendo todas as comunicações a um exame escrupuloso, escrutando e
analisando o pensamento e as expressões como fazemos quando se trata de julgar
uma obra literária, rejeitando sem hesitar tudo o que peca contra a lógica e o
bom senso, tudo o que desminta o caráter do Espírito comunicante,
desencorajamos os Espíritos enganadores, que acabam por retirar-se, uma vez
convencidos de que não nos podem enganar. Este meio é único, porém infalível,
porque não existe uma comunicação má que possa resistir a uma crítica rigorosa.
(Obra citada, item 266.)
Observação: Para acessar a Parte 18 deste estudo, publicada na semana
passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/10/o-livro-dos-mediuns-allan-kardec-parte_15.html
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