domingo, 4 de outubro de 2020

 


O que é essencial no serviço social espírita 

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

De Londrina-PR

 

Há quem entenda, a exemplo de Stephen Kanitz, que no difícil e pouco compreendido campo da assistência social existe espaço não apenas para as instituições que “ensinam a pescar”, mas também para as que praticam o chamado assistencialismo. Neste último caso estariam incluídas as organizações que atendem os dependentes químicos, os alcoólatras e os enfermos em geral, momentaneamente impedidos de sustentar sua prole.

O assunto vem bem a propósito e deve ser meditado por todas as pessoas que se dedicam à assistência social, espíritas e não espíritas.

Não existe, com efeito, nem poderia existir conflito entre as duas modalidades de atendimento social, que podem mesmo coexistir em uma mesma organização filantrópica, onde ao lado de ações voltadas para a promoção social sejam desenvolvidos trabalhos de amparo a criaturas que necessitam, no momento, mais de compaixão que de instrução.

As empresas e pessoas solicitadas a cooperar financeiramente com essas instituições devem também ter consciência de que é igualmente válido prestigiar as que “ensinam a pescar” e as outras, desde que exista seriedade de propósitos e o trabalho projetado seja realmente prioritário na região em que atuam.

No tocante ao serviço social espírita há, no entanto, um aspecto que nós, os espiritistas, não podemos ignorar.

Relata Manoel Philomeno de Miranda (Tramas do Destino, cap. 21, pp. 196 a 199, obra psicografada por Divaldo P. Franco) que, quando o Centro Espírita Francisco Xavier teve sua edificação planejada, o dirigente espiritual Natércio, profundo admirador e discípulo de São Francisco Xavier, que fora na Terra incansável propagandista da fé cristã, recorreu ao fiel Apóstolo de Jesus suplicando seu patrocínio espiritual para a Casa que seria erguida.

Recebido pelo iluminado Espírito, Natércio expôs-lhe o programa que objetivava realizar, cuja meta era incrementar entre os homens o ardor da fé e a pureza dos princípios morais, conforme as regras simples dos "seguidores do Caminho", sem os atavios do dogmatismo e dos formalismos.

Logo que concluiu suas explicações, o instrutor recebeu o aval do insigne Missionário, com uma condição: que se preservasse naquela instituição o Evangelho em suas linhas puras e simples, num clima de austeridade moral e serviços iluminativos disciplinados, com os resultantes dispositivos para a caridade nas suas múltiplas expressões, tendo-se, porém, em vista que os socorros materiais seriam decorrência natural do serviço espiritual, prioritário, imediato, e não os preferenciais. "Não deveriam esquecer-se de que a maior carência ainda é a do pão de luz da consolação moral, que o Livro da Vida propicia fartamente." [Negritamos]

Relembrando o episódio, Manoel Philomeno de Miranda adverte-nos:

"Pensa-se muito em estômagos a saciar, corpos a cobrir, doenças a curar... Sem menosprezar-lhes a urgência, o Consolador tem por meta primacial o Espírito, o ser em sua realidade imortal, donde procedem todas as conjunturas e situações, que se exteriorizam pelo corpo e mediante os contingentes humanos, sociais, terrenos, portanto... A assistência social no Espiritismo é valiosa, no entanto, se precatem os `trabalhadores da última hora' contra os excessos, a fim de que a exaustão com os labores externos não exaura as forças do entusiasmo nem derrube as fortalezas da fé, ao peso da extenuação e do desencanto nos serviços de fora.”

"Evangelizar, instruir, guiar, colocando o azeite na lâmpada do coração, para que a claridade do espírito luza na noite do sofrimento, são tarefas urgentes, basilares na reconstrução do Cristianismo." (Tramas do Destino, págs. 198 e 199.)

 

 

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