A ideia do nada e seus prejuízos
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
— Amigo Jó, conheço pessoas de
excelente coração, que vivem preocupadas com o bem-estar do próximo, que não
fazem mal a ninguém, que são muito operosas e incansáveis leitoras, pois
acreditam que é a cultura que libertará o ser humano da ignorância e da
servidão. Apenas há um pormenor, péssimo para elas mesmas: em suas leituras,
deixam-se fascinar pelas ideias de teóricos ateus. Não se dão conta de que a
existência humana é um sopro divino cujo objetivo maior é o da busca da
perfeição em inumeráveis lutas contra as paixões e suas más inclinações das
quais o orgulho e o egoísmo são as piores. O niilismo, ou seja, a ideia do
nada, segundo Kardec, que tanto esnobei em minha última jornada terrena, é
terrível.
— Se fosse só isso, Machado, se a
pessoa se sentisse bem imaginando que é vão tudo que alcançou, em suposta
existência única, mas ocupasse seu tempo em incansável trabalho em prol de um
mundo melhor, isso seria sublime, pois aí está presente o total desprendimento
de seus próprios interesses. Infelizmente, porém, algumas dessas pessoas não
refletem que, ao pregar a ideia do nada, após esses breves anos na Terra, estão
fazendo um grande mal às almas que ainda estão na infância espiritual.
— Isso mesmo, Jó, é muito ruim quando
se prega o oposto da crença: a descrença e a crítica às religiões como nocivas,
em especial, às classes proletárias. Entretanto, ainda que tenhamos apenas fé
em nós mesmos, ela é de suma importância. Desde que a humanidade saiu do
estágio animalesco, é visível o progresso do mundo, mesmo que alguns prefiram
viver como feras, matando-se em busca da supremacia do direito da força,
menoscabando a força do direito. Consequências dessa visão distorcida são a destruição dos ideais do próximo, o
incentivo à leitura das deturpadas ideias de mentes inteligentes, mas doentias,
como o estímulo à luta de classes,
a desilusão de um objetivo da vida...
— É esse terrível engano, Machado, que
vem sendo cada vez mais desfeito pelos mensageiros divinos, com base em
experiências que remontam a pelo menos
172 anos. Desde os fenômenos de Hydesville, nos Estados Unidos, à chamada "dança
das mesas" ou "mesas girantes", que atraíram a atenção do mundo
no século XIX, em especial de grandes sábios. E o professor Rivail (Kardec) dedicou
os últimos quatorze anos de sua existência para divulgá-los ao mundo, no que
foi seguido por Gabriel Delanne,
Camille Flammarion, Ernesto
Bozzano, Alexandre Aksakof, Léon Denis, William
Crookes etc.
— O mais interessante, Jó, é que os
Estados Unidos, que rejeitavam a própria denominação de Kardec: Espiritismo,
substituindo-a por Moderno Espiritualismo, por rejeitarem a ideia da
reencarnação, atualmente contam com grande número de cientistas que vêm confirmando
muitos casos que demonstram claramente essa lei divina, expressa no dólmen
de Allan Kardec: "Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é
a Lei".
— Pena que algumas pessoas imaginam que
tudo isso seja fruto de devaneios humanos, meu querido Bruxo do Cosme Velho.
Mas também não se dão ao trabalho de estudar a Doutrina Espírita e investigar seus
fenômenos.
— Voltemos ao que diz Kardec sobre a
crença do nada, Jó, pois isso também me atormentou o pensamento enquanto estive
encarnado no Rio de Janeiro. Estudando melhor a obra desse missionário do
Cristo, li, no espaço, o item 62 do capítulo 28, d'O Evangelho
Segundo o Espiritismo, estes esclarecimentos
consoladores:
Que horrenda a ideia do nada! Quão de lastimar-se
são os que acreditam que no vácuo se perde, sem encontrar eco que lhe responda,
a voz do amigo que chora o seu amigo! Jamais conheceram as puras e santas
afeições os que pensam que tudo morre com o corpo; que o gênio que com sua vasta
inteligência iluminou o mundo é
uma combinação de matéria, que, qual sopro, se extingue para sempre; que do
mais querido ente, de um pai, de uma mãe, ou de um filho adorado não restará
senão um pouco de pó que o vento irremediavelmente dispersará.
Como
pode um homem de coração conservar-se frio a essa ideia? Como não o gela de
terror a ideia de um aniquilamento absoluto e não lhe faz, ao menos, desejar
que não seja assim? Se até hoje não lhe foi suficiente a razão para afastar de
seu espírito quaisquer dúvidas, aí está o Espiritismo a dissipar toda incerteza
com relação ao futuro, por meio das provas materiais que dá da sobrevivência da
alma e da existência dos seres de além-túmulo. Tanto assim é que por toda a
parte essas provas são acolhidas com júbilo; a confiança renasce, pois que o
homem doravante sabe que a vida terrestre é apenas uma breve passagem
conducente a melhor vida; que seus trabalhos neste mundo não lhe ficam perdidos
e que as mais santas afeições não se despedaçam sem mais esperanças.
— Pois é, meu caro Machado, diante de
tão sábias palavras do Codificador do Espiritismo, só nos resta agradecer a
Deus e a Jesus pela presença do Consolador que este nos prometeu, para ficar
eternamente conosco, como registrou João, no capítulo 14:15 a 17 do seu Evangelho.
Muito obrigado por seu retorno ao nosso tête-à-tête. Grande e espiritual
abraço.
— Adeus, querido amigo. Voltarei quando
puder.
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