O Evangelho segundo o Espiritismo
Allan Kardec
Parte 5
Prosseguimos o estudo metódico de “O
Evangelho segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, terceira das obras que
compõem o Pentateuco Kardequiano, cuja primeira edição foi publicada em abril
de 1864.
Este estudo é publicado sempre às
quintas-feiras.
Caso o leitor queira ter em mãos o
texto consolidado dos estudos relativos à presente obra, para acompanhar, pari
passu, o presente estudo, basta clicar em http://www.oconsolador.com.br/linkfixo/estudosespiritas/principal.html#ALLAN
e, em seguida, no verbete "O Evangelho segundo o Espiritismo”.
Eis as questões de hoje:
33. Quais as causas das
vicissitudes da vida?
De duas espécies são as vicissitudes da vida. Umas têm sua causa na atual
existência; outras, fora dela. Remontando-se à origem dos males terrestres,
reconhecer-se-á que muitos são consequência natural do caráter e do proceder
dos que os suportam. Há, contudo, males aos quais, pelo menos na aparência, o
indivíduo é completamente estranho e que parecem atingi-lo como por fatalidade,
tais por exemplo a perda de entes queridos e a dos que são o amparo da família,
os acidentes que nenhuma previsão poderia impedir, os reveses da fortuna, os
flagelos naturais, as enfermidades de nascença. No entanto, em virtude do
axioma segundo o qual todo efeito tem uma causa, tais males são efeitos que hão
de ter uma causa e, desde que se admita um Deus justo, essa causa também há de
ser justa. Como a causa precede o efeito, se ela não se encontra na atual
existência, há de ser anterior a ela, isto é, há de estar numa existência
precedente. (O Evangelho segundo o
Espiritismo, capítulo V, itens 4 e 6; ver também o item 21 do cap. VIII.)
34. As tribulações da
vida são impostas ou escolhidas pelo próprio Espírito?
As tribulações podem ser impostas a Espíritos endurecidos, ou
extremamente ignorantes, para levá-los a fazer uma escolha com conhecimento de
causa. Os Espíritos penitentes, porém, desejosos de reparar o mal que hajam
feito e de proceder melhor, as escolhem livremente. Tal o caso de alguém que,
havendo desempenhado mal sua tarefa, pede que lhe deixem recomeçá-la, para não
perder o fruto do seu trabalho. (Obra citada, capítulo V, item 8.)
35. Qual é o objetivo
das provas?
Nem todo sofrimento suportado neste mundo denota a existência de uma
determinada falta. Muitas vezes são simples provas buscadas pelo Espírito para
concluir sua depuração e ativar seu progresso. Assim, a expiação serve sempre
de prova, mas nem sempre a prova é uma expiação. Provas e expiações são,
todavia, sinais de relativa inferioridade, porquanto o que é perfeito não
precisa ser provado. Pode, pois, um Espírito haver chegado a um certo grau de
elevação e, desejoso de adiantar-se mais, solicitar uma missão, uma tarefa a
executar, pela qual tanto mais recompensado será, se sair vitorioso, quanto
mais rude haja sido a luta. Eis aí o objetivo das provas. (Obra citada,
capítulo V, itens 8, 9, 19 e 26.)
36. Que resultados
decorrem da maneira de se ver a vida do ponto de vista espírita?
O homem pode suavizar ou aumentar o amargor de suas provas, conforme o
modo por que encare a vida terrena. Tanto mais sofre ele, quanto mais longa se
lhe afigura a duração do sofrimento. Ora, aquele que a encara pelo prisma da
vida espiritual apanha, num golpe de vista, a vida corpórea. Ele a vê como um
ponto no infinito, compreende-lhe a curteza e reconhece que esse penoso momento
terá rapidamente passado. A certeza de um próximo futuro mais ditoso o sustenta
e anima e, longe de se queixar, agradece ao Céu as dores que o fazem avançar.
Dessa maneira de considerar a vida resulta diminuída a importância das coisas
deste mundo e o homem sente-se compelido a moderar seus desejos, a contentar-se
com sua posição, sem invejar a dos outros, a receber atenuada a impressão dos
reveses e das decepções que experimente. Daí tira ele uma calma e uma
resignação tão úteis à saúde do corpo quanto à da alma, ao passo que com a
inveja, o ciúme e a ambição, voluntariamente se condena à tortura e aumenta as
misérias e as angústias de sua curta existência. (Obra citada, capítulo V,
itens 13 e 22.)
37. Segundo o
Espiritismo, em que consiste a verdadeira infelicidade?
Para julgarmos qualquer coisa, precisamos ver-lhe as consequências.
Assim, para bem apreciarmos o que, em realidade, é ditoso ou inditoso para o
homem, precisamos transportar-nos para além desta vida, porque é lá que as
consequências se fazem sentir. Ora, tudo o que se chama infelicidade, segundo
as acanhadas vistas humanas, cessa com a vida corporal e encontra sua compensação
na vida futura. A infelicidade verdadeira é a alegria, é o prazer, é o tumulto,
é a vã agitação, é a satisfação louca da vaidade que fazem calar a consciência,
que comprimem a ação do pensamento, que atordoam o homem com relação ao seu
futuro. A infelicidade é o ópio do esquecimento que os homens ardentemente
procuram. A esse respeito, disse-nos um amigo espiritual: “Esperai, vós que
chorais! Tremei, vós que rides, pois que o vosso corpo está satisfeito! A Deus
não se engana; não se foge ao destino; e as provações, credoras mais impiedosas
do que a matilha que a miséria desencadeia, vos espreitam o repouso ilusório
para vos imergir de súbito na agonia da verdadeira infelicidade, daquela que
surpreende a alma amolentada pela indiferença e pelo egoísmo”. (Obra citada,
capítulo V, item 24.)
38. Devemos abrandar a
expiação de nossos irmãos em sofrimento?
Sim. Ajudar-nos mutuamente nas nossas respectivas provações, esse é o
nosso dever. Todos nós, sem exceção, devemos esforçar-nos por abrandar a
expiação dos nossos semelhantes, de acordo com a lei de amor e caridade. (Obra
citada, capítulo V, item 27.)
39. A eutanásia é aceita
pelo Espiritismo?
Não, em hipótese nenhuma. O materialista, que apenas vê o corpo e em
nenhuma conta tem a alma, é inapto a compreender essas coisas; o espírita,
porém, que já sabe o que se passa no além-túmulo, conhece o valor de um último
pensamento. Recomenda-nos São Luís: “Minorai os derradeiros sofrimentos, quanto
o puderdes; mas guardai-vos de abreviar a vida, ainda que de um minuto, porque
esse minuto pode evitar muitas lágrimas no futuro”. (Obra citada, capítulo V,
item 28.)
40. Qual o papel do Espiritismo
em sua feição de Consolador prometido por Jesus?
Conforme as palavras de Jesus (João, 14:15 a 17 e 14:26), o Consolador
ficaria eternamente conosco, nos ensinaria todas as coisas e nos faria recordar
tudo quanto ele próprio nos disse. Para cumprir a profecia e exercitar esse
papel, o Espiritismo chama os homens à observância da lei; ensina-nos todas as
coisas, fazendo-nos compreender o que Jesus só disse por parábolas; levanta o
véu intencionalmente lançado sobre certos mistérios e, finalmente, vem trazer a
consolação suprema aos deserdados da Terra e a todos os que sofrem, ao revelar
que há uma causa justa e um fim útil em todas as dores.
Disse Jesus: "Bem-aventurados os aflitos, pois que serão
consolados." Mas como há de alguém sentir-se ditoso por sofrer, se não
sabe por que sofre? O Espiritismo mostra a causa dos sofrimentos nas
existências anteriores e na destinação da Terra, onde o homem expia seu
passado, e explica o objetivo dos sofrimentos, apontando-os como crises
salutares que produzem a cura e como meio de depuração que garante a felicidade
nas existências futuras. O homem compreende, então, que merece sofrer e acha
justo o sofrimento. Sabe que este lhe auxilia o adiantamento e o aceita sem
murmurar, como o obreiro aceita o trabalho que lhe assegurará o salário. O
Espiritismo lhe dá fé inabalável no futuro e a dúvida pungente não mais se lhe
apossa da alma. Dando-lhe a ver do alto as coisas, a importância das
vicissitudes terrenas some-se no vasto e esplêndido horizonte que ele o faz
descortinar, e a perspectiva da felicidade que o espera lhe dá a paciência, a
resignação e a coragem de ir até o termo do caminho. (Obra citada, capítulo VI,
itens 3 e 4.)
Observação:
Para acessar a Parte 4 deste estudo, publicada na semana
passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/12/o-evangelho-segundo-o-espiritismo-allan_10.html
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