domingo, 8 de março de 2020



Kardec e as discórdias entre irmãos

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
De Londrina-PR

Seria ótimo se todos os dias, na convivência com o outro, pudéssemos recordar uma das mais expressivas passagens que encontramos no Evangelho de Jesus, que afirmou, certa vez, que seus verdadeiros discípulos seriam conhecidos por muito se amarem.
Essa passagem certamente passou despercebida a muitas pessoas que, valendo-se de sua alegada condição de cristãos, chegaram a combater ou perseguir companheiros com cujas ideias não concordavam. A perseguição aos huguenotes(1) foi disso um expressivo exemplo, como aliás o fora toda a perseguição feita pela Igreja aos cristãos por ela considerados hereges.
Estará o movimento espírita isento de problemas dessa ordem?
Antes de tratar da questão, examinemos a frase dita por Jesus: “Meus discípulos verdadeiros serão conhecidos por muito se amarem”.
A interpretação do texto leva-nos às considerações abaixo.
Se os que se dizem discípulos do Cristo não se amam, não são eles, em verdade, discípulos. Se insistem em dizer-se discípulos, não o são verdadeiramente, ou seja, trata-se de falsos discípulos.
Em uma conhecida classificação dos espíritas publicada em O Livro dos Médiuns, Kardec valeu-se da denominação “espíritas cristãos” para designar os verdadeiros espíritas, isto é, os que conhecem, estudam, aceitam e, mais do que isso, praticam os ensinamentos espíritas, movidos sempre pelo desejo do bem e tendo por farol de sua conduta a caridade.
Juntando os dois pensamentos – a afirmativa de Jesus e a análise feita por Kardec – podemos concluir que, se não existir o sentimento de amor, de respeito, de fraternidade entre dois espíritas, não podem, tanto um quanto o outro, merecer o título de “discípulo do Senhor” nem o qualificativo de “verdadeiro espírita” e, por conseguinte, de “espírita cristão”.
Como o movimento espírita é formado por pessoas situadas nos mais diferentes níveis evolutivos, é evidente que não se encontra ele isento dos desentendimentos e das rusgas que deparamos, às vezes, nas instituições espíritas mais conceituadas, algo que não ocorre apenas em nossa cidade, mas em diferentes lugares.
Kardec referiu-se, certa vez, a esses conflitos em discurso pronunciado numa das reuniões gerais dos espíritas de Lião e Bordéus. (Cf. Viagem Espírita em 1862, Casa Editora O Clarim, pp. 76 a 105.)
Disse, então, o Codificador do Espiritismo:

“Se, entre vós, há dissidências, causas de antagonismos, se os grupos que devem todos marchar para um objetivo comum, estiverem divididos, eu o lamento, sem me preocupar com as causas, sem examinar quem cometeu os primeiros erros e me coloco, sem hesitar, do lado daquele que tiver mais caridade, isto é, mais abnegação e verdadeira humildade, pois aquele a quem falta a caridade está sempre errado, assistido embora por qualquer espécie de razão, pois Deus maldiz quem diz a seu irmão: racca.” (Obra citada, pág. 101.)

O conselho do Codificador em casos tais é muito claro e vem a propósito nesta hora difícil em que desentendimentos diversos têm-se verificado em nosso meio.
“Abafai as discórdias”, propõe-nos ele. “Seja-vos possível fundir-vos em uma única e mesma família e dar-vos mutuamente, do fundo do coração e sem pensamento premeditado, o nome de irmãos.” (Obra citada, pág. 101.)

*

Neste dia 8 de março, em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, reproduzimos - em homenagem às nossas irmãs - o belo texto que Victor Hugo, o gênio da literatura francesa, escreveu sobre a mulher:

 “O homem é a mais elevada das criaturas; a mulher, o mais sublime dos ideais.
Deus fez para o homem um trono; para a mulher, um altar. O trono exalta; o altar santifica.
O homem é o cérebro; a mulher, o coração. O cérebro produz a luz; o coração o amor. A luz fecunda; o coração ressuscita.
O homem é um gênio; a mulher, um anjo. O gênio é imensurável; o anjo é indefinível.
A aspiração do homem é a suprema glória; a aspiração da mulher, a virtude extrema. A glória traz grandeza; a virtude traz divindade.
O homem tem a supremacia; a mulher, a preferência. A supremacia representa a força; a preferência, o direito.
O homem é forte pela razão; a mulher é invencível pela lágrima. A razão convence, a lágrima comove.
O homem é capaz de todos os heroísmos; a mulher, de todos os martírios.
O homem é o código; a mulher, o evangelho. O código corrige; o evangelho aperfeiçoa.
O homem é um templo; a mulher, um sacrário. Ante o templo, nós nos descobrimos; ante o sacrário, ajoelhamo-nos.
O homem pensa; a mulher sonha. Pensar é ter cérebro; sonhar é ter na fronte uma auréola.
O homem é uma águia que voa; a mulher, um rouxinol que canta. Voar é dominar os espaços; cantar é conquistar a alma.
O homem tem um fanal: a consciência. A mulher tem uma estrela: a esperança. O fanal guia e a esperança salva.
Enfim, o homem está colocado onde termina a Terra. A mulher, onde começa o Céu.”


(1) Huguenote: designação depreciativa que os católicos franceses deram aos protestantes, especialmente aos calvinistas, e que estes adotaram. P. ext., protestante.



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