domingo, 15 de março de 2020



O declínio das religiões dogmáticas

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
De Londrina-PR

Estudo divulgado algum tempo atrás pela BBC Brasil revela que o cultivo da religião pode acabar em nove países que integram o grupo das nações consideradas ricas, seis deles situados na Europa, dois na Oceania e um na América do Norte.
O estudo, apresentado durante um encontro da American Physical Society, baseia-se em pesquisa feita a partir de dados colhidos nos censos realizados desde o século 19 em diferentes países do mundo, e sua conclusão é bem clara: a religião pode ser extinta em nove deles.
A pesquisa identificou essa tendência de aumento no número de pessoas que afirmam não ter religião na Austrália, Áustria, Canadá, Finlândia, Irlanda, Holanda, Nova Zelândia, Suíça e, por fim, na República Tcheca, que apresenta o índice mais elevado, com 60%.
Utilizando um modelo de progressão matemática, que leva em conta fatores sociais e a influência que exercem em uma pessoa a fazer parte de um grupo não religioso, o levantamento evidencia que as pessoas que seguem alguma religião vão praticamente deixar de existir nos países citados. Na Holanda, por exemplo, 70% dos holandeses não terão religião alguma até 2050. Hoje, esse grupo é inferior a 40% da população.
Trata-se de uma tendência que se vem acentuando nas últimas décadas, como observa Richard Wiener, pesquisador vinculado a um centro de pesquisa em ciência avançada subordinado ao Departamento de Física da Universidade do Arizona. "Em muitas democracias seculares modernas – diz ele –, há uma tendência maior de as pessoas se identificarem como sem uma religião."
Um ponto que ressalta da notícia acima é o fato de que em todas as nove nações mencionadas a religião cristã sempre foi predominante, seja na sua feição católica, seja na sua feição protestante. Como sabemos, trata-se de uma religião que se caracterizou ao longo dos séculos por seu dogmatismo.
As características das doutrinas dogmáticas foram examinadas por Kardec no livro Obras Póstumas, págs. 181 e seguintes.
Segundo essas doutrinas, a alma, independente da matéria, é criada no nascimento de cada ser; sobrevive e conserva sua individualidade depois da morte; sua sorte está, desde esse momento, irrevogavelmente fixada; seus progressos ulteriores são nulos; ela será, consequentemente, por toda a eternidade, intelectual e moralmente, o que era durante a vida.
Sendo os maus condenados a castigos perpétuos e irremissíveis no inferno, disso ressalta, para eles, a inutilidade completa do arrependimento. Deus parece, assim, recusar-se a lhes deixar a oportunidade de reparar o mal que fizeram.
Os bons são recompensados pela visão de Deus e a contemplação perpétua no céu. Os casos que podem merecer, pela eternidade, o céu ou o inferno, são deixados para a decisão e o julgamento de homens falíveis, a quem é dado absolver ou condenar.
Essas doutrinas ensinam também a separação definitiva e absoluta dos condenados e dos eleitos; a inutilidade dos auxílios morais e das consolações para os condenados; a criação de anjos ou almas privilegiadas isentas de todo trabalho para chegarem à perfeição.
Os séculos avançaram e, no entanto, tais doutrinas não conseguiram solucionar ou explicar até hoje as graves questões abaixo descritas que interessam a toda a Humanidade:
1º De onde vêm as disposições inatas, intelectuais e morais, que fazem com que os homens nasçam bons ou maus, inteligentes ou idiotas?
2º Qual é a sorte das crianças que morrem em tenra idade? Por que são recompensadas sem terem podido fazer o bem, ou privadas de uma felicidade sem terem feito o mal?
3º Qual é a sorte dos cretinos e dos idiotas, que, como sabemos, não têm consciência dos seus atos?
4º Onde está a justiça da miséria e das enfermidades de nascimento, uma vez que não são resultado de nenhum ato da vida presente?
5º Qual é a sorte dos selvagens e de todos aqueles que morrem forçosamente no estado de inferioridade moral, em que se encontram colocados pela própria Natureza, se não lhes é dado progredir ulteriormente?
6º Por que Deus cria almas mais favorecidas umas do que as outras? Umas nascem no seio de famílias abastadas, enquanto milhares vêm à luz em comunidades miseráveis. Por que isso acontece?
7º Por que Ele chama a si, prematuramente, aqueles que teriam podido melhorar-se se tivessem vivido por mais longo tempo, tendo em vista que não lhes é dado avançar depois da morte?
8º Por que Deus criou anjos, chegados à perfeição sem trabalho, ao passo que milhões de criaturas são submetidas às mais rudes provas, nas quais têm mais chances de sucumbir do que de sair vitoriosas?
Além de não darem a estes problemas uma explicação minimamente razoável, essas religiões firmam-se em dogmas que, como ninguém ignora, não conseguem suportar o avanço vertiginoso da ciência, deixando seus profitentes ao desamparo, o que contribui certamente para a intensificação da tendência apontada na pesquisa a que nos referimos.



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Um comentário:

  1. Parabéns, Astolfo, pela excelente matéria.
    José Reis Chaves, Belo Horizonte - MG

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