sexta-feira, 17 de setembro de 2021

 



Fatos Espíritas


William Crookes


Parte 16

 

Damos prosseguimento nesta edição ao estudo metódico e sequencial do clássico Fatos Espíritas, de William Crookes, obra publicada em 1874, cujo título no original inglês é Researches in the phenomena of the spiritualism.

Nosso propósito é que este estudo sirva para o leitor como uma forma de iniciação ao estudo dos chamados Clássicos do Espiritismo.

Cada parte do estudo compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

 

Questões preliminares

 

A. Embora tenha sido um dos signatários do Relatório firmado pelos sábios, a que conclusões chegou Charles Richet a respeito dos fenômenos observados?

B. Que fatos relativos aos fenômenos de materialização foram vistos e relatados pelo Sr. Aksakof?

C. Para evitar fraudes, que providência foi adotada na experiência realizada em Belper (Inglaterra)?

 

Texto para leitura

 

280. Conclusões de Charles Richet – E agora, que se pode concluir? – diz o sábio professor, depois de ter narrado minuciosamente as principais experiências. Pois não basta enumerar as experiências, é preciso tirar-lhes as consequências. As palavras adiante transcritas são de autoria de Charles Richet.

281. Se tivéssemos obtido um resultado inteiramente decisivo, eu não hesitaria um instante em proclamar publicamente a minha opinião, pouco me incomodando com o desfavor público, pois não seria a primeira vez que me achasse em desacordo com a maioria, mesmo quase com a unanimidade dos meus colegas; as dúvidas, que não temo confessar, são, pois, dúvidas reais, não dúvidas de timidez ou de hesitação em meu pensamento.

282. Certamente, se se tratasse de provar algum fato simples e natural, quase evidente a priori, ou não contradizendo os dados científicos vulgares, eu estaria plenamente satisfeito: as provas seriam largamente satisfatórias e me pareceria quase inútil continuar, tão brilhantes e conclusivos parecem ser os fatos acumulados nessas sessões; mas trata-se de demonstrar fenômenos verdadeiramente absurdos, contrários a tudo o que os homens, o vulgo e os sábios têm admitido há milhares de anos.

283. É um desmoronamento completo de todo o pensamento humano, de todas as suas experiências; é um mundo novo que se abre diante de nós e, por consequência, não é possível ser muito reservado na afirmação desses estranhos e assombrosos fenômenos.

284. Por minha parte admito que, se Eusápia engana, o faz não propositadamente, mas sim sem o saber, pois há na produção desses fenômenos, mesmo quando não fossem sinceros, uma parte bastante grande de inconsciência.

285. Quanto à opinião das pessoas que acompanharam Eusápia durante muito tempo, seria de grande valor se se tratasse de fenômenos vulgares e ordinários; mas os fatos de que se trata são surpreendentes demais para que a crença de uma pessoa, não habituada à experimentação, determine a minha própria crença.

286. Estou bem certo da boa-fé do Sr. Chiaia e de outros homens distintos que têm, durante meses e anos, observado Eusápia, mas a sua perspicácia não me está demonstrada e posso falar assim sem os magoar, pois desconfio da minha própria.

287. É preciso, antes de tudo, afastar a hipótese de um comparsa. E, se há fraude, é Eusápia, só, quem a executa, sem ser ajudada por ninguém e sem que ninguém perceba. Ademais, se essa fraude existe, é feita sem aparelho, por meios muito simples, quase infantis. Eusápia não traz nenhum objeto consigo.

288. Resta então a única hipótese possível, a de Eusápia enganar, remexendo os objetos com os seus pés ou com as mãos, depois de ter desprendido as mãos e pés das mãos e pés dos seus vizinhos. Se esta hipótese não explica, é racional crer-se na realidade dos fenômenos.

289. Pois bem, confesso, essa explicação por movimentos dos seus pés e mãos não me satisfaz. Em algumas experiências – por exemplo, a da cadeira que veio detrás da cortina colocar-se sobre o braço do Sr. Fínzi, em meia escuridão – não posso conceber como a mão de Eusápia pôde desprender-se e como, estando desprendida, pôde executar esses movimentos. Declaro-me incapaz de compreender. Mas, por outro lado, trata-se de fatos tão absurdos que é bom não se satisfazer rapidamente. As provas dadas seriam bem suficientes para uma experiência de Química; para uma experiência de Espiritismo não bastam...

290. Em definitivo: por mais absurdas e ineptas que sejam as experiências feitas por Eusápia, parece-me bem difícil atribuir os fenômenos produzidos à fraude consciente, ou inconsciente, ou a uma série de fraudes. Todavia, a prova formal, irrecusável, de que não é uma fraude de Eusápia e uma ilusão nossa, não a temos. É preciso, pois, continuar de novo até obtermos uma prova irrecusável. (Charles Richet) (Veja a nota aposta no final deste texto.)

291. Moldes dos pés de Espíritos materializados com o auxílio da parafina – Eis na sequência o que nos diz a esse respeito o Sr. Aksakof, na sua já citada obra.

292. Essas experiências podem ser divididas em quatro categorias, segundo as condições em que se produzem:

1) O médium está isolado; o agente oculto fica invisível.

2) O médium está em evidência, o agente oculto está invisível.

3) O médium está isolado; o agente oculto aparece.

4) O agente e o médium são simultaneamente visíveis aos espectadores.

293. O agente está visível, o médium está isolado – Na experiência realizada em Belper (Inglaterra) o Sr. W. P. Adshead empregou uma gaiola, construída especialmente para nela ser encerrada a médium, durante as sessões de materialização, a fim de resolver definitivamente esta questão: a figura materializada é ou não uma pessoa distinta da médium? Essa questão foi resolvida afirmativamente.

294. A médium, a Srta. Wood, foi colocada em uma gaiola, cuja porta se fechou com parafusos. Foi nessas condições que se viu aparecerem dois fantasmas: o de uma mulher conhecida pelo nome de Meggie e o de um homem chamado Benny.

295. Ambos saíram do gabinete; em seguida materializaram-se e desmaterializaram-se diante dos assistentes e, enfim, procederam sucessivamente à moldagem de um dos seus pés, na parafina.

296. Foi Meggie quem primeiramente tentou a operação. Saindo do gabinete, ela aproximou-se do Sr. Smedley e colocou a mão nas costas da cadeira por ele ocupada. O Sr. Smedley perguntou se o Espírito precisava da cadeira; Meggie fez com a cabeça um sinal afirmativo.

297. Ele levantou-se e colocou a cadeira diante de dois baldes, em um dos quais havia água quente com uma camada de parafina derretida na superfície, e no outro água fria. Meggie sentou-se, ergueu seus longos vestidos e começou a mergulhar o pé esquerdo alternativamente na parafina derretida e na água fria, continuando esse movimento até que o molde ficasse concluído.

298. O fantasma estava tão bem encoberto pelas suas vestimentas, que não nos foi mais possível reconhecer o operador. Um dos assistentes, iludido pela vivacidade dos movimentos, exclamou: “É Benny”. Então a aparição colocou a mão sobre a do Sr. Smedley, como para lhe dizer: “Toque para saber quem sou”. “É Meggie, que acaba de me estender a sua pequena mão”, proferiu o Sr. Smedley.

299. Quando a camada de parafina adquiriu espessura desejada, Meggie descansou o pé esquerdo sobre o joelho direito e ficou nessa posição cerca de dois minutos; depois elevou o molde, segurou-o algum tempo no ar e deu-lhe uma pancada, de maneira que todos os presentes pudessem vê-lo e ouvir as pancadas; depois, a meu pedido, mo entregou e eu o depositei em um lugar seguro.

300. Meggie tentou em seguida a mesma experiência com o pé direito, mas, depois de o ter molhado duas ou três vezes, levantou-se, provavelmente em consequência do esgotamento das suas forças, retirou-se para o gabinete e não mais voltou. A parafina que tinha aderido a seu pé direito foi em seguida achada sobre o soalho do gabinete.

 

Respostas às questões preliminares

 

A. Embora tenha sido um dos signatários do Relatório firmado pelos sábios, a que conclusões chegou Charles Richet a respeito dos fenômenos observados?

Se podemos chamar a isso de conclusão, eis o que o ilustre sábio francês declarou: Por mais absurdas e ineptas que sejam as experiências feitas por Eusápia, parece-me bem difícil atribuir os fenômenos produzidos à fraude consciente, ou inconsciente, ou a uma série de fraudes. Todavia, a prova formal, irrecusável, de que não é uma fraude de Eusápia e uma ilusão nossa, não a temos. É preciso, pois, continuar de novo até obtermos uma prova irrecusável. (Fatos Espíritas – Conclusões de Charles Richet.)

B. Que fatos relativos aos fenômenos de materialização foram vistos e relatados pelo Sr. Aksakof?

Em sua obra citada por William Crookes, Aksakof dividiu tais experiências em quatro categorias, segundo as condições em que se produzem: 1) O médium está isolado; o agente oculto fica invisível. 2) O médium está em evidência, o agente oculto está invisível. 3) O médium está isolado; o agente oculto aparece. 4) O agente e o médium são simultaneamente visíveis aos espectadores. Mas ele se deteve, em especial, no terceiro caso, em que o Espírito materializado aparece em local diferente de onde se encontra o médium. (Obra citada - Moldes dos pés de Espíritos materializados com o auxílio da parafina.)

C. Para evitar fraudes, que providência foi adotada na experiência realizada em Belper (Inglaterra)?

Na aludida experiência o Sr. W. P. Adshead empregou uma gaiola, construída especialmente para nela ser encerrada a médium, durante as sessões de materialização, a fim de resolver definitivamente esta questão: a figura materializada é ou não uma pessoa distinta da médium? Essa questão foi resolvida afirmativamente. A médium, a Srta. Wood, foi colocada em uma gaiola, cuja porta se fechou com parafusos. Foi nessas condições que se viu aparecerem dois fantasmas: o de uma mulher conhecida pelo nome de Meggie e o de um homem chamado Benny. Ambos saíram do gabinete; em seguida materializaram-se e desmaterializaram-se diante dos assistentes e, enfim, procederam sucessivamente à moldagem de um dos seus pés, na parafina. (Obra citada - O agente está visível, o médium está isolado.)


Nota da Redação:

Esse receio ou indecisão de Charles Richet em se pronunciar sobre a veracidade dos fatos ocorridos em sua presença dá sentido ao conteúdo da mensagem intitulada “A passagem de Richet”, escrita no dia 21 de janeiro de 1936 por Humberto de Campos (Espírito).

A mensagem integra o livro “Crônicas de Além-Túmulo”, psicografado por Chico Xavier e publicado pela FEB. Para acessá-lo, clique em http://www.oconsolador.com.br/linkfixo/bibliotecavirtual/chicoxavier/cronicasdealemturmulo.pdf 



Observação:

Para acessar a Parte 15 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/09/fatos-espiritas-william-crookes-parte.html

 

 

 



 

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Um comentário:

  1. Richet é sem dúvida, um dos principais nomes da investigação científica sobre os fenômenos espíritas. Em seu livro "A grande esperança", depois de narrar seus sérios estudos, "titubeia" nas conclusões, o que nos deixa um pouco decepcionados. O texto do Humberto de Campos faz então, todo sentido.

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