sábado, 13 de maio de 2023

 



O trabalho move o mundo

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

  

Alma irmã, vinha eu caminhando por uma pista de entrequadras de Brasília, quando de repente, não mais que de repente, como diria o poeta Vinicius de Morais em seu Soneto de Separação, vi uma cena maravilhosa: pequena formiga transportava folha 20 vezes maior e mais pesada que ela.

Evitei esmagá-la com o pé, quando a formiga já atravessava meio metro da pista de cerca de dois metros de largura. Em seguida, refleti na grandeza de Deus, que “faz nascer o sol e cair a chuva sobre justos e injustos”, como disse Jesus. Retrocedi vários passos, almejando (palavra rebuscada em troca de desejando) fotografá-la. Tudo inútil, a formiga já desaparecera do outro lado da pista com sua gigantesca folha verde.

Mais tarde, lembrei-me da fábula da cigarra e da formiga. Sabe por quê? Ambas trabalhavam, mas só uma cantava, embora a lição que por décadas nos tenha sido passada fosse a de que o canto da cigarra representaria pura preguiça de obrar.

Negativo! A cigarra canta com dois propósitos: amar para procriar e “anunciar a chegada da primavera”. A pobrezinha inda paga caro pelo seu encantador canto, ao atrair pássaro que a devora.

Ai do mundo sem a sublimidade das canções!

Voltando ao trabalho da formiga, também refleti numa frase muito falada como incentivo a certas pessoas: “Deus não escolhe os capacitados, capacita os escolhidos”, o que se parece com a “doutrina da graça”. Tremenda injustiça, se visto pelo crivo de existência única e de diferentes aptidões na mesma existência.

Albert Einstein, a quem é atribuída a frase, diria mais: “Fazer ou não fazer algo só depende de nossa vontade e perseverança”. Agora, sim, dá para perceber que é de nosso esforço que vem a ajuda divina. Se nos acomodarmos na lamentação e preguiça, invejando os que, a nosso ver, são mais capazes que nós, é porque não perseveramos como tais pessoas e não por um privilégio divino.

A resposta da questão 133 d’O Livro dos Espíritos mostra-nos, claramente, a inexistência de privilégios e sim merecimento baseado nos esforços individuais: “Todos são criados simples e ignorantes e se instruem nas lutas e tribulações da vida corpórea. Deus, que é justo, não podia fazer felizes a uns, sem fadigas e sem trabalho e, por conseguinte, sem mérito”.

Como vimos, no início, desde suas mínimas criaturas, é por meio do trabalho que Deus impulsiona a vida. Tendo essa certeza foi que Machado de Assis, “o Bruxo do Cosme Velho”, afirmou numa de suas crônicas: “O trabalho move o mundo”.

 

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