A Evolução
Anímica
Gabriel Delanne
Parte 11
Damos prosseguimento ao estudo do clássico A Evolução Anímica, de Gabriel Delanne, conforme a 8ª edição da tradução de Manoel Quintão, publicada pela Federação Espírita Brasileira.
Esperamos que este estudo sirva para o leitor como uma
forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do
texto indicado para leitura.
Este estudo é publicado sempre às sextas-feiras.
Questões preliminares
A. Que significa a ação de recordar?
B. Há muitos meios eficazes para se provocar o
sonambulismo?
C. O que ocorre com a alma no estado de exaltação ou
excitação?
Texto para
leitura
111. O verdadeiro tipo da memória
orgânica deve ser procurado no grupo de fatos que Hartley denominou “ações
automáticas secundárias”, em oposição aos atos automáticos inatos. De modo
geral, pode-se dizer que os membros e órgãos sensoriais do adulto não funcionam
tão facilmente, senão à custa de movimentos adquiridos e coordenados, que
constituem, para cada parte do corpo, sua memória especial, o capital acumulado
de que vive e mediante o qual age. A essa mesma ordem pertencem os grupos de
movimentos de feição artificial, que constituem o aprendizado de um ofício
manual, jogos de destreza, exercícios ginásticos etc. (Obra citada, pág. 138)
112. No registro da sensação
reside, pois, o fenômeno da memória. Durante a incorporação, toda a
manifestação intelectual exige, imperiosamente, o concurso do corpo, a
integridade absoluta da substância cerebral, de sorte que as mínimas desordens
do cérebro paralisam completamente as manifestações da alma. (Pág. 141)
113. Essa concomitância não nos
deve surpreender porque, se o Espírito atua sobre a matéria por meio da força
vital, qualquer destruição de matéria nervosa subtrai, passageira ou
definitivamente, uma parte correspondente da força vital ligada a essa parte, e
o perispírito, que conserva o movimento, não mais pode agir, à falta do seu
agente de transmissão. Mais tarde, se a força vital for ainda eficiente para
reconstituir os tecidos, a função se restabelecerá. Delanne relaciona, em
seguida, oito exemplos demonstrativos da perda da memória devida à ocorrência
de lesões cerebrais nos pacientes, e diz que esses exemplos o levaram à
suposição de que os estados sucessivos de consciência devem ter por fulcro uma
zona particular do cérebro, correspondente a uma região definida do
perispírito. (Págs. 141 a 145)
114. Para entender a ação de recordar,
basta lembrarmos as fases por que passa a sensação para que haja a percepção.
Recordar é restituir-lhe as duas condições indispensáveis à percepção:
intensidade e duração. Quando voluntariamente concentramos o pensamento numa coisa
que desejamos recordar, enviamos na sua direção uma série de influxos que
objetivam dar ao movimento perispiritual o mesmo período vibratório que ele
tinha no momento em que fora registrado, isto é, percebido. Quando queremos
reaver uma lembrança precisa, o Espírito emprega outros meios, servindo-se
daquilo que Ribot chamou de “ponto de referência”. Os pontos de referência
permitem simplificar o mecanismo da localização no passado, pois, quando
frequentemente utilizados, a localização torna-se automática, tal como se dá
com o hábito. (Págs. 145 a 148)
115. Toda a ação sensorial que não
tem o mínimo de durabilidade não desperta a consciência, mas se grava no
perispírito, e será possível encontrar-lhe vestígios mediante uns tantos
processos. Se o Espírito estiver grandemente preocupado com assuntos
absorventes, com trabalhos mentais muito abstratos, ou sob a impressão de um
desgosto profundo, deixa de existir a consciência das sensações exteriores, mas
nem por isso o cérebro deixará de reter a impressão e apossar-se da modificação
sobrevinda. (Pág. 151)
116. A memória é uma condição
quase indispensável à personalidade, pois é ela que liga o estado atual aos
estados anteriores. É a memória que constitui a identidade. A memória pode ser,
no entanto, alterada pelas enfermidades. A razão não é difícil de entender. No
estado normal, cada indivíduo tem uma tonicidade nervosa peculiar, mediante a
qual se lhe registram na consciência as sensações, com um mínimo de intensidade
e duração. Atingido subitamente por um ataque epiléptico, esse homem tem
modificadas as condições de funcionamento normal do sistema nervoso, de sorte a
se modificarem, concomitantemente, a força vital e as vibrações perispirituais
correspondentes. As sensações inscrevem-se no perispírito, a alma as percebe,
mas de outra maneira que não a normal, de modo que, voltando a si, o paciente
não tem noção do que sucedeu durante a crise. (Págs. 152 a 156)
117. Enquanto dormimos, nossa alma
mantém-se em incessante atividade, mas as sensações internas são extremamente
fracas. Desde que recomece o estado de vigília, as imagens que não tiverem um
mínimo de intensidade passam ao inconsciente e o sonho é esquecido. (Pág. 156)
118. Há casos em que, ao contrário
do que se dá nos estados mórbidos, as percepções se amplificam: é o que ocorre
nos estados intermédios a que se deu o nome de dupla personalidade. Delanne
refere, a propósito, alguns casos, como o de Félida, que começou na puberdade a
apresentar sintomas de histeria, e o da srta. R.L., descrito pelo Dr. Dufay na Revue
Scientifique de 5/7/1876. Os fenômenos relatados, em que os pacientes
ampliam suas percepções quando em crise, são em tudo semelhantes aos que se
observam no sonambulismo espontâneo ou provocado. Como se sabe, é fato já
comprovado que o sonâmbulo pode, em transe, lembrar-se de episódios passados e
de conversas havidas nos transes anteriores, perdendo a noção de tudo logo que
desperta. (Págs. 157 a 166)
119. Numerosos são os meios
eficazes para provocar o sonambulismo. Um dos processos mais usados pelos
hipnotistas é o de Braid, que consiste na fixação do olhar num objeto qualquer,
brilhante ou não, que se vai aproximando dos olhos, de modo a determinar uma
convergência forçada e fatigante dos globos oculares. Pode-se hipnotizar também
produzindo um ruído monótono e prolongado, ou violento e subitâneo. Igualmente
um jato de luz, a compressão de uma parte do corpo, como o vértex – o ápice do
crânio ou o alto da cabeça – nos histéricos, a constrição dos polegares e os
passes magnéticos são outros meios de hipnotização. Emprega-se por fim a
sugestão, que consiste em cerrar as pálpebras do paciente e ordenar-lhe
imperativa e reiteradamente que durma, para que o efeito se produza. (Págs. 167
e 168)
120. Entre os excitantes mentais,
o melhor é a vontade, utilizada na sugestão verbal. Os irritantes químicos são
o éter ou o clorofórmio, que, produzindo anestesia, muitas vezes ensejam o
sonambulismo. Os irritantes físicos são o ruído fraco e prolongado, ou brusco e
estridente, a luz viva projetada de súbito, as correntes elétricas demoradas e
fracas, o ímã, as chapas metálicas de Burcq. Todos esses processos resultam na
modificação da força nervosa, engendrando uma espécie de eretismo – estado de
exaltação ou excitação – que tem por consequência a mudança das relações
normais da sensação e, portanto, a do estado vibratório do perispírito.
Ocorrendo essa mudança, temos o sonambulismo, que se manterá enquanto atuar a ação
perturbadora. (Pág. 168)
121. A exaltação da sensibilidade
corresponde a uma espécie de desprendimento da alma. O perispírito fica menos
tolhido pelo corpo, os liames habituais momentaneamente se afrouxam. Levada
essa ação até ao desdobramento, os sentidos adquirem uma acuidade extrema,
visto que a sensação não mais se exerce pelos órgãos dos sentidos. Eis por que
um surdo poderá ouvir perfeitamente e um cego enxergar até mesmo no escuro. A
célebre Estela, estudada pelo Dr. Despine, de Aix, era impotente e paralítica,
mas, sonambulizada, podia correr e saltar com agilidade. (Pág. 169) (Continua
no próximo número.)
Respostas às
questões preliminares
A. Que significa
a ação de recordar?
Para entender o que é recordar, basta lembrar as fases por
que passa a sensação para que haja a percepção. Recordar é restituir-lhe as
duas condições indispensáveis à percepção: intensidade e duração. Quando
voluntariamente concentramos o pensamento numa coisa que desejamos recordar,
enviamos na sua direção uma série de influxos que objetivam dar ao movimento
perispiritual o mesmo período vibratório que ele tinha no momento em que fora
registrado, isto é, percebido. Quando queremos reaver uma lembrança precisa, o
Espírito emprega outros meios, servindo-se daquilo que Ribot chamou de “ponto
de referência”. Os pontos de referência permitem simplificar o mecanismo da
localização no passado, pois, quando frequentemente utilizados, a localização
torna-se automática, tal como se dá com o hábito. (A Evolução Anímica, pp. 145 a 148.)
B. Há muitos
meios eficazes para se provocar o sonambulismo?
Sim. Numerosos são esses meios. Um dos processos mais
usados pelos hipnotistas é o de Braid, que consiste na fixação do olhar num
objeto qualquer, brilhante ou não, que se vai aproximando dos olhos, de modo a
determinar uma convergência forçada e fatigante dos globos oculares. Pode-se
hipnotizar também produzindo um ruído monótono e prolongado, ou violento e
subitâneo. Igualmente um jato de luz, a compressão de uma parte do corpo, como
o vértex – o ápice do crânio ou o alto da cabeça – nos histéricos, a constrição
dos polegares e os passes magnéticos são outros meios de hipnotização.
Emprega-se por fim a sugestão, que consiste em cerrar as pálpebras do paciente
e ordenar-lhe imperativa e reiteradamente que durma, para que o efeito se
produza. (Obra citada, pp. 167 e 168.)
C. O que ocorre
com a alma no estado de exaltação ou excitação?
A exaltação da sensibilidade corresponde a uma espécie de
desprendimento da alma. O perispírito fica menos tolhido pelo corpo, os liames
habituais momentaneamente se afrouxam. Levada essa ação até ao desdobramento,
os sentidos adquirem uma acuidade extrema, visto que a sensação não mais se
exerce pelos órgãos dos sentidos. Eis por que um surdo poderá ouvir
perfeitamente e um cego enxergar até mesmo no escuro. A célebre Estela,
estudada pelo Dr. Despine, de Aix, era impotente e paralítica, mas,
sonambulizada, podia correr e saltar com agilidade. (Obra citada, pp. 168 e
169.)
Observação:
Para acessar a Parte 10 deste
estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2022/10/blog-post_21.html
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